Entre os dias 23 e 28 de novembro de 2025, ocorreu o XXVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, maior evento de recursos hídricos da América Latina, foi promovido pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro), na cidade de Vitória, no Espírito Santo. Duas pesquisas de discentes do PPGECAM foram premiados no simpósio:
⇔ Na categoria, Prêmio Jovem Pesquisador – Mestrado, foi premiada em 3º lugar a pesquisa em formato de apresentação oral, “Classificação experimental de regimes de escoamento em canal de superfície livre com sensores ultrassônicos”, que traz a classificação dos regimes de escoamento como um importante ponto para entender turbulências e interações da água com estruturas, algo essencial em contextos como enchentes e colapso de pontes. O trabalho foi produzido por alunos/as e docentes do PPGECAM que são integrantes do Grupo de Pesquisa em Modelagem Hidroambiental e Ecotecnologias, vinculado ao CT-UFSM, Francisco Paim de Freitas Neto, Fabiana Campos Pimentel, Rodrigo Girardon Della Pace, Eliane Fischborn, Gabriel Sulzbach Pereira e Luize Baldoni de Oliveira, coordenado pela professora Rutinéia Tassi e pelo professor Leandro Conceição Pinto.
Segundo um dos pesquisadores, Francisco, mestrando do PPGECAM, “no contexto atual do Rio Grande do Sul, com quedas de pontes e eventos extremos de chuva, entender o regime de escoamento dos rios é essencial para avaliar o comportamento da água em relação às estruturas”.
A ideia surgiu a partir da necessidade de classificar os regimes de escoamento em canais, definindo altura de água, inclinação e velocidade do fluxo. Métodos tradicionais de medição utilizam equipamentos caros, inacessíveis para muitas universidades. Por isso, os pesquisadores adaptaram a técnica do “objeto flutuante”, prevista em norma ISO 748 (2021), criando uma versão de baixo custo (cerca de 70 reais) que substitui o cronômetro humano por dois sensores ultrassônicos HC-SR04 de nível, conectados a um microcontrolador ESP32 programado com código aberto. Essa adaptação torna o procedimento mais preciso, reduz erros humanos e permite que qualquer instituição consiga replicá-lo, reforçando o caráter democrático da ciência.
Segundo Fabiana, doutoranda do PPGECAM e pesquisadora do projeto, um dos maiores desafios foi a validação dos resultados: “ninguém havia aplicado esse método antes. Estávamos afirmando que funcionava, mas sem referências de comparação”. O reconhecimento através da premiação “nos fez perceber que estamos no caminho certo”, relata Fabiana.
⇔ Premiado com o Prêmio de Melhor Pôster na quarta sessão do evento, a pesquisa “Presença de genes de resistência a antibióticos em ambiente aquático de bacia hidrográfica agrícola no sul do Brasil“, apresenta resultados preliminares sobre a ocorrência de genes de resistência antimicrobiana em ambientes aquáticos impactados por práticas agropecuárias. A pesquisa integra um recorte da tese de doutorado da estudante Kauane Andressa Flach que está desenvolvendo sob a orientação da professora Andressa de Oliveira Silveira, e desenvolvida em parceria com o Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, instituição onde a Kauane realizou um período de doutorado sanduíche de novembro de 2024 a abril de 2025, aprofundando as análises genéticas e as discussões sobre riscos ambientais associados. A pesquisa foi produzida por Kauane Andressa Flach e Adriana Carolina Gamboa, com a coordenação de Genesio Mario da Rosa, professor no campus de Frederico Westphalen, e Andressa Oliveira Silveira. O trabalho foi realizado em parceria com a Universidade de Lisboa, sob coordenação da professora Silvia Patricia Nunes Monteiro e do professor Ricardo Santos.
A premiação destaca a relevância científica e social do estudo, que contribui para o entendimento dos processos de disseminação da resistência antimicrobiana em ecossistemas aquáticos e reforça a importância de políticas de manejo e monitoramento mais efetivas no país. Na ocasião, amostras de água superficial foram coletadas em 12 pontos da bacia em novembro de 2024, e analisadas por PCR em tempo real para detectar os genes blaTEM, blaKPC, blaOXA e tetA. Pelo menos um desses genes foi encontrado em todos os pontos amostrados, indicando que atividades humanas exercem pressão sobre os ambientes aquáticos e favorecem a disseminação da resistência antimicrobiana. Os resultados oferecem evidências iniciais que podem apoiar ações de vigilância ambiental e políticas públicas para gestão hídrica e redução de riscos à saúde humana e ambiental.
O estudo foi motivado a partir da “crescente preocupação global com a disseminação da resistência aos antibióticos em ambientes naturais, especialmente em regiões influenciadas pela atividade agropecuária”, relata Kauane, uma das autoras do trabalho. Ainda, complementa que um dos maiores desafios encontrados no desenvolvimento da pesquisa foi “fechar um protocolo bem definido e fazer a extração do DNA ambiental para que ele fosse viável […] Os kits de extração de DNA são extremamente caros e eu executei todas essas análises genéticas lá em Lisboa, porque eles tinham todos os protocolos já bem definidos, e tinham todos os reagentes, os equipamentos necessários”.
As premiações no XXVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos destacam não apenas a excelência técnica dos trabalhos, mas também o esforço coletivo de estudantes, professores e instituições parceiras. As pesquisas reconhecidas demonstram como a integração entre inovação, método científico e sensibilidade aos problemas reais pode gerar soluções relevantes para o país. O desempenho no evento reafirma o papel do PPGECAM e da UFSM como referência na formação de pesquisadores e no desenvolvimento de tecnologias voltadas à gestão sustentável dos recursos hídricos.




