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Os impactos dos absorventes descartáveis para o meio ambiente



Como tudo o que é consumido pela humanidade gera resíduos, com o absorvente íntimo não é diferente. Segundo levantamento feito pelo Instituto Akatu, uma só pessoa pode utilizar até 15 mil absorventes descartáveis ao longo de sua vida e acumular cerca de 200 quilos de resíduos destes absorventes – que possuem plástico em 90% da composição e, neste caso não pode ser reciclado, se tornando rejeito. O descarte e a degradação desses materiais são uma problemática emergente para o meio ambiente.

A menstruação

A menstruação é um fenômeno natural que atinge pessoas do sexo biológico feminino e marca não só o início do período reprodutivo, como também uma série de transformações corporais e hormonais. Esse período começa, em média, aos 12 anos de idade, com a menarca – nome dado para a primeira menstruação –  e pode se estender entre os 40 ou 50 anos de idade, quando chega a menopausa – como é chamado o encerramento do período.

Como surgiram os absorventes descartáveis

Os primeiros absorventes desenhados para consumo foram produzidos por volta de 1854, nos EUA. Existem registros de inventores americanos que buscam as primeiras patentes do absorvente em forma de cinto, com tecidos absorventes laváveis, pensado para substituir as toalhas, utilizadas até então. Os relatos apontam que em 1890 já se apareciam os primeiros descartáveis, semelhantes a bandagens, para serem colocados sobre a calcinha. 

No Brasil, há relatos sobre proteções menstruais descartáveis a partir de 1930, com a chegada do Modess, uma marca de absorvente americana da Johnson & Johnson, a primeira a desenvolver esse modelo. Mas, apenas em 1974, o Brasil recebeu seu primeiro absorvente descartável adesivo.

Os impactos ambientais 

Apesar de ser uma grande revolução tecnológica, a praticidade possibilitada pelo modelo descartável tem custos não só econômicos – que, com a revolução industrial e o modelo capitalista resultam em problemas como a pobreza menstrual – mas também, ambientais. Segundo a doutora e ex-professora de química industrial da UFSM, Marta Tocchetto, a composição dos absorventes possui múltiplas camadas com materiais como algodão, plástico e até mesmo gel, presente em algumas marcas – todos descartados a cada troca. 

Os impactos ambientais causados pelos absorventes vão além do descarte. Para a produção do algodão utilizado é necessário um processamento que demanda uma alta quantia de água, o que torna-se inviável mediante à crise hídrica instaurada nos últimos anos. Mesmo com a utilização de recursos naturais em sua composição, o absorvente não é biodegradável. 

Isso significa que as moléculas que integram os materiais demoram muito mais tempo para serem degradadas pelos microorganismos do ambiente. O plástico, que assume 90% da matéria-prima do absorvente, demora cerca de 400 anos para se decompor. Haja vista que, cada pessoa utiliza em média 20 absorventes por ciclo, o acúmulo desse material no meio ambiente é uma realidade insustentável.

O descarte 

Existem duas opções de destinos para esse material: os “lixões” ou os aterros sanitários. O “lixão” é um espaço onde se descarta o lixo sem qualquer preparação, em valas sem escoamento de chorume (líquido da decomposição da matéria orgânica) e hoje são proibidos por lei no Brasil – a Lei nº 12.305, sancionada em 2010, previa que esses espaços deveriam deixar de existir e garantir um fim ambientalmente adequado em até 4 anos após sua homologação. Porém, esse prazo não foi cumprido e, sim, prorrogado até 2021, com um novo marco legal. Já, os aterros sanitários são terrenos preparados para cobertura dos resíduos e coleta dos efluentes da degradação (chorume), para que não entrem direto em contato com a água superficial ou subterrânea, reduzindo seus impactos. 

Mesmo com uma opção um pouco menos agressiva ao meio ambiente, os aterros não são muito eficazes, pois o absorvente ainda vai ficar durante muito tempo armazenado e grande espaço é ocupado inutilizado, até que todo o resíduo depositado seja degradado. Além disso, 90% do material só será degradado daqui a mais de 500 anos – por ser plástico – e cerca de 60% dos brasileiros não descartam resíduos em aterros, apenas os acumulam em lixões, segundo o estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento de Resíduos Sólidos e Efluentes (Abetre).No Rio Grande do Sul, apenas 12,35% das unidades de destino final de resíduos são aterros sanitários, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). 

Fonte: meuResíduo.

 

Nos lugares em que os resíduos sólidos são apenas dispostos em valas a céu aberto, além do chorume diretamente liberado ao solo, normalmente pegam fogo, pois o gás metano que liberam em sua decomposição é extremamente inflamável. Dessa forma, os absorventes feitos majoritariamente de plástico, derivado do petróleo, são altamente inflamáveis e aumentam as chamas, produzindo gases do efeito estufa, o que aumenta mais ainda o seu impacto ambiental. 

As alternativas sustentáveis

Com os avanços tecnológicos disponíveis atualmente e ascensão do debate ambiental, novos modelos de absorvente foram desenvolvidos ou remodelados, tais como: 

  • Coletor menstrual: um copinho de silicone colocado no canal vaginal para armazenar o sangue, que deve ser higienizado em até 12 horas e pode ser reutilizado. A duração da vida útil do produto é, em média, de 3 anos a partir da data de fabricação, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA);
  • Discos menstruais: opção parecida com o coletor menstrual, porém com a possibilidade de uso durante relações sexuais. O modelo também possui a validade de 3 anos de uso após a fabricação;
  • Absorvente de pano: mesmo que demande o consumo de água e energia para lavagem, compensa no uso de matéria prima, por ser reutilizável. Mediante os cuidados adequados de limpeza e conservação, a estimativa é de o material possa durar até 5 anos.
  • Calcinhas absorventes: são calcinhas com camadas de absorção do fluxo de sangue dentro do tecido e podem ser reutilizadas centenas de vezes. A média de duração do produto é de 3 anos, o correspondente a cerca de 36 ciclos, com os cuidados adequados.

As alternativas devem ser pensadas para que o problema dos resíduos de absorventes descartáveis seja revertido. O investimento feito em produtos facilmente descartáveis e baratos, pode parecer mais econômico, mas muito mais unidades terão de ser usadas e a quantidade de resíduos geradas extremamente mais alta do que as alternativas sustentáveis supracitadas. Dessa forma, a expansão da visão, para que se enxergue além do imediato ou do mais rentável, é fundamental para que alguma mudança aconteça.

 

*Esta matéria utilizou informações do podcast MenstruAção, desenvolvido por alunos de jornalismo da UFSM, onde é possível encontrar mais detalhes sobre o tema.

 

Texto: Júlia Weber, acadêmica de jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE.

Edição: Natália Huber da Silva, chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE.

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