Na tarde de quarta-feira (07), o hall (saguão) de entrada do prédio 13 do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE) da UFSM deu destaque aos estudantes de graduação do 1º semestre de Ciências Biológicas. Nele, realizaram uma exposição da atividade de extensão relacionada à disciplina “Introdução à Biologia Vegetal”. O evento contou com a organização dos próprios estudantes e pelos(as) professores(as), Daniela Simão, João de Oliveira, Liliana Essi e Luciane Tabaldi.
Segundo a professora do Departamento de Biologia e uma das organizadoras da exposição, Liliana Essi, um dos principais objetivos desta exposição é fazer com que os graduandos não se isolem da sociedade. “É muito importante que nós sempre tenhamos interação com a comunidade. Nós buscamos e tentamos produzir conhecimento dentro da academia, mas aprendemos muito com a população, então nós também temos o compromisso de contribuir para o conhecimento dela”, finaliza.
Daniela Simão, professora do Departamento de Biologia do CCNE e que também leciona na disciplina, destaca a importância das atividades de extensão durante as disciplinas. “Desde o primeiro semestre, os estudantes começam a entender o que é a extensão e o quão importante ela é aqui dentro da universidade e com a inclusão da carga horária extensionista, estamos conseguindo implementar de uma maneira muito interessante, como essa.”
Introdução à Biologia Vegetal:
De acordo com a professora, nesta disciplina os estudantes começam a aprender sobre a importância das plantas para o ambiente e sociedade e sobre métodos de trabalho em diferentes áreas da biologia. Além disso, o diferencial da disciplina é o convite ao compartilhamento de saberes, pois ao invés dos estudantes terem apenas o conteúdo de botânica em livros ou em cadernos, eles são provocados para que seu conhecimento chegue até a comunidade. Por isso, o nome do evento foi intitulado de “As plantas e o homem”: “O desafio que nós entregamos para os alunos era produzir uma pesquisa em que eles tinham que escolher um tema dentro da botânica, um público-alvo e então, organizar entrevistas com essas pessoas escolhidas”, complementa Liliana. Após todas essas etapas, os graduandos deveriam refletir sobre como poderiam apresentar o resultado dessa pesquisa para a população e um dos resultados foi a criação desta exposição.
Ao todo, dez grupos realizaram suas exposições e a equipe de Comunicação do CCNE, conversou com alguns estudantes para conhecer os seus trabalhos, buscando entender o que os motivou na escolha destes e o conhecimento que pode ser levado à sociedade.
01. PLANTAS TÓXICAS:
O trabalho realizado pelo grupo composto por Heloisa Garcia, Hyan De Vargas e Kemilly Silva, trouxe o tema “Plantas Ornamentais Tóxicas” de acordo com os estudantes, a proposta da disciplina era fazer um trabalho sobre a etnobotânica. O público-alvo de sua pesquisa foram os idosos com a justificativa de que esse grupo etário, na visão de Hyan, “dedica grande parte do seu tempo para cuidar de plantas”. Após entrevistas presenciais, foi gerado um ranque de plantas que são prejudiciais para a saúde, sendo elas: comigo-ninguém-pode, copo-de-leite, espada-de São-Jorge, antúrio e arruda. “Por exemplo, a arruda, em uma concentração menor, não fará muito estrago, mas se aumentar a concentração, pode fazer mal para pessoas hipertensas”, complementou Hyan.
Com o uso de panfletos, o grupo aproveitou para explicar que mesmo as plantas do ranking sendo prejudiciais não há necessidade de removê-las de suas casas, mas pedem que as pessoas tenham certos cuidados para evitar situações desagradáveis. “A partir do momento que conhecemos as plantas, iremos tomar cuidado – e essa é a função da ciência! Evitar possíveis danos por meio do conhecimento”, detalha o estudante.
Com a pesquisa com os idosos, esse grupo conseguiu perceber que, por mais que as pessoas tenham curiosidade em aprender sobre as plantas, a população ainda carece de conhecimento científico relacionado à botânica. Justificam que os conhecimentos dessa faixa etária são baseados em comentários familiares ou indicações de amigos, ou seja, um conhecimento popular, que não é de alta valia, mas deve ser utilizado com sabedoria. “Às vezes a falta de conhecimento científico não é culpa das pessoas, é culpa da ciência que não se adequa à linguagem popular. É nossa função como estudante de biologia e futuros cientistas tornar a ciência mais popular para que essas pessoas possam ter mais acesso ao conhecimento sobre as plantas terapêuticas”, finalizaram os estudantes.
02. PLANTAS TÓXICAS PARA CÃES E GATOS:
O tema da pesquisa que chamou a atenção das estudantes Anna Cornel, Pietra de Oliveira, Kennya Urruth e Luiza Parcianello, foram as plantas tóxicas, com o foco para animais domésticos, como cães e gatos. Por meio de um questionário aplicado por e-mail que contou com respostas de graduandos de um público amplo da UFSM. A pergunta principal do grupo aos entrevistados era se eles conheciam ou não determinadas plantas e sabiam que elas apresentavam algum nível de prejuízo à saúde dos seus animais de estimação.
De acordo com o panfleto distribuído pelo grupo, as plantas citadas abaixo podem ser tóxicas e causar prejuízos nos animais domésticos. Abaixo também se encontram os sintomas que se deve observar no animal:
- Lírio: salivação excessiva, náuseas, poliúria (grande volume de urina), desidratação e dificuldades respiratórias.
- Copo de Leite: Irritação da pele e mucosa, edema, asfixia e diarreia.
- Jiboia: Dor, inchaço nos lábios e garganta, oclusão das vias aéreas.
- Costela de Adão: edema e mucosa nas cordas vocais, oclusão da faringe (mais grave), irritação na mucosa.
- Comigo Ninguém Pode: inchaço nas vias orais, erupções na pele, inflamação da língua e mucosa oral, dificuldades respiratórias.
- Espada de São Jorge: Irritação das vias orais, obstrução da garganta, dermatites e dificuldade na locomoção.
- Samambaia: Sangue na urina, sangramentos, pontinhos vermelhos na mucosa, anemias, diarreia com sangue e salivação.
O grupo conta que a experiência foi interessante e que a maioria dos estudantes não sabiam da toxicidade dessas plantas e que elas são prejudiciais à saúde dos animais: “Nossos entrevistados também devolveram conhecimento para nós, aprendemos que algumas plantas, não essas, mas outras, são tóxicas para animais rurais. Isso foi bem interessante, pois essa troca de conhecimento foi gerada”, comentou Pietra de Oliveira.
03. PLANTAS MEDICINAIS:
O tema escolhido pela dupla Carolina Bitencourt e Samara Barbosa foi das plantas medicinais e seu público-alvo foram os estudantes do Centro de Tecnologia da UFSM. As acadêmicas objetivaram descobrir se este público costumava se medicar com plantas ou chás em caso de doenças leves, obtendo 75% de respostas positivas contra 25% negativas.
As perguntas direcionaram o público a quais plantas os estudantes mais utilizavam, sendo Camomila, Gengibre e Guaco como as três mais consumidas. Também houve perguntas voltadas às enfermidades e as respostas variaram entre: dor de estômago, dor de cabeça e gripes/resfriados. Para finalizar, aproximadamente 66,7% dos estudantes, pesquisaram os benefícios das plantas que utilizavam, contra 33,3% que não buscaram conhecimento sobre estas.
Para as estudantes, é interessante que as pessoas ainda busquem conhecer mais sobre as plantas que ingerem, com o objetivo de tratar algum sintoma leve. “As plantas medicinais são utilizadas há milhares de anos por vários povos, religiões, crenças e culturas diferentes. Por ser um conhecimento que perdura até hoje, então, alguma coisa tem que estar certa. (…) Hoje em dia há muitos fármacos para diferentes doenças e é sempre bom utilizá-los quando necessário, mas é bom saber que as plantas também podem nos ajudar sem ter tantos efeitos negativos”, diz Carolina.
Como aprendizado, as estudantes dizem que a busca pelo conhecimento ainda é importante e que ele não está tão “morto” como elas pensavam que estivesse. Com base no formulário, elas descobriram que as redes sociais também servem como ferramenta de busca e divulgação, além de livros e ferramentas convencionais de pesquisa.
04. PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÄO CONVENCIONAIS (PANCs):
Cinthia Cáceres, Isabela Sena, Laura Seeger e Vitória Cabral trouxeram para a exposição o tema “Plantas Alimentícias Não Convencionais” (PANCs), voltadas para a população que mora no meio rural. Para a realização da pesquisa, as graduandas contam que o público feminino se destacou, pois foi observado nesta pesquisa que elas possuíam um conhecimento maior sobre o cultivo e a utilização destas plantas.
De acordo com as acadêmicas, o termo Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) são plantas inteiras ou parte de plantas, como folhas, flores, raízes e frutos que podem ser utilizadas em nossa alimentação no dia-a-dia e apresentam valor nutricional, porém, não tem a visão comercial de grandes mercados, sendo vistas como “mato” e, por isso acabam sendo desvalorizadas. Além disso, as estudantes destacam que a sigla “PANC”, muitas vezes, ainda não chegou no meio rural. “Nós perguntamos se conhecem ‘PANCs’, mas ninguém conhece. Agora, se começamos a citar as plantas, as pessoas sabem identificar. É um pouco estranho, mas acontece”, diz Cinthia Cáceres, uma das integrantes do grupo.
A mesa do grupo estava repleta de plantas que podem ser usadas como alternativas alimentares que não são conhecidas pela maioria da população, sendo algumas descritas a seguir:
- Ora-pro-nóbis: prevenção da anemia, melhora no funcionamento do intestino, perda de peso e prevenção do envelhecimento precoce em diminuição do colesterol. Além disso, a planta oferece proteínas, ferro, vitamina A e vitamina B3 que são nutrientes com propriedades antioxidantes, hipolipemiantes, laxantes e hipoglicemiantes.
- Anis-estrelado: é conhecido por apresentar propriedades anti-inflamatórias, antissépticas, analgésicas, calmantes, digestivas e diuréticas. Na alimentação, ele é usado como aromatizante de massas, sopas e caldos.
- Chá de hibisco: é conhecido por favorecer a perda de peso mas também apresenta benefícios como diminuição da pressão arterial, promovem a saúde do coração, ajuda a regular o açúcar no sangue, cuida da saúde do fígado, possui propriedades antioxidantes, ajudar no combate a bactérias e previne infecções urinárias.
Além das plantas, Cinthia, uma das integrantes do grupo trouxe, como parte da exposição, um bolinho salgado de folhas de Ora-pro-nóbis, cenoura, cebola e queijo. A ideia era mostrar às pessoas que existem várias formas de utilizar as PANCs e, em especial, àquelas que não gostam de comer folhas ou que possuem alguma restrição alimentar. A estudante ainda explica que a receita é muito parecida com a de bolinhos de arroz convencionais, porém algumas partes da receita foram modificadas. “É uma opção vegetariana mas dá pra fazer de forma vegana também, sem o queijo. Também, para pessoas com restrição ao glúten, ao invés de utilizar farinha convencional, utiliza uma farinha de arroz ou até mesmo feijão triturado”, finaliza a graduanda.
Como aprendizado, as estudantes destacam o conhecimento familiar que é repassado de geração para geração e que isso se perpetua. Assim, é importante ressaltar que conhecimento não seja somente repassado no meio familiar, mas que as pessoas busquem conhecimento também fora deste círculo. A ideia de trazer este tema para o CCNE, foi interessante para que as outras pessoas tenham novas experiências com as PANCs, e não com a ideia de apenas fazer o uso de plantas para vitaminas ou saladas.
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Ao perguntar para uma das organizadoras do evento sobre a elaboração de outras edições no futuro, Liliana Essi, responde que por ser uma disciplina, as apresentações acontecem ao final do semestre, porém dependendo das avaliações e dos os objetivos atingidos existe a possibilidade da exposição ter a sua segunda edição no próximo ano.
Assim, a Exposição “As Plantas e o Homem” vem para aproximar o conhecimento gerado em pesquisas dentro e fora de sala de aula à comunidade. Deste modo, a equipe do CCNE parabeniza a organização do evento, pois essas iniciativas contribuem para a popularização do conhecimento científico.
Para conferir fotos destes e de outros trabalhos, clique aqui.
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Texto: Maria Eduarda Silva da Silva, acadêmica de jornalismo e bolsista da Subdivisão de Comunicação do CCNE da UFSM.
Revisão e edição: Natália Huber da Silva, Chefe da Subdivisão de Comunicação do CCNE.