Reportagem e redação: João Victor Souza
Foto: Jessica Mocellin
O brasileiro passa, em média, mais de nove horas por dia conectado à internet. A hiperconexão tem causado aumento nos níveis de ansiedade, prejuízos no sono e queda de produtividade. Um levantamento da plataforma Electronics Hub, a partir da pesquisa Digital 2023:Global Overview Report da Data Report, concluiu que o Brasil é o segundo país com mais pessoas em frente a uma tela. Nesse cenário, cresce a busca pelo chamado detox digital, prática que consiste em reduzir ou interromper, por um período de tempo, o uso de celulares e dispositivos eletrônicos.
Esse termo surgiu nos Estados Unidos e ganhou espaço nos últimos anos, como alternativa para lidar com o uso excessivo das tecnologias. A proposta é simples, desligar as telas por algumas horas, dias ou até semanas, criando momentos de descanso mental e reconexão com atividades fora do ambiente digital.
Segundo o pesquisador e doutor em Comunicação, pela UFSM, Thiago Trindade, a necessidade de um detox digital surge quando o usuário percebe, a partir de uma reflexão sobre seus próprios hábitos, que o uso excessivo de dispositivos está comprometendo sua rotina ou provocando mal-estar, como dores de cabeça, cansaço e falta de concentração. No entanto, a forma como essa pausa acontece evidencia desigualdades sociais.
Em 2023, uma reportagem da BBC noticiou que o CEO da Salesforce, empresa de software para empresas. Havia feito um detox digital de 10 dias em um resort na Polinésia Francesa, uma experiência inacessível para a maioria da população. Enquanto poucos podem transformar a desconexão em um serviço exclusivo, para grande parte das pessoas ela se limita a pequenas mudanças no dia a dia, muitas vezes em meio a rotinas de trabalho intensas e falta de tempo livre.
A realidade de grande parte da população revela que a tecnologia está profundamente ligada à sobrevivência e à inserção social. “As camadas populares tendem a ser mais dependentes das tecnologias, seja para o trabalho ou para manutenção de relações sociais. Seria inviável, por exemplo, pedir que um motorista de aplicativo se desconecte, já que sua renda depende diretamente dessas plataformas”, afirma Trindade.
Essa relação de dependência com as telas, não se restringe apenas ao trabalho ou às interações sociais. Ela também interfere diretamente na saúde mental e na qualidade de vida. A psicóloga Mônica Arpini explica que o uso excessivo da tecnologia pode potencializar quadros de ansiedade e afetar o sono, especialmente quando não há limites bem definidos para o tempo de exposição às telas. “A restrição do tempo de uso das telas à noite, recomenda-se não levar para a cama os aparelhos e procurar se desconectar uma hora ou mais antes de dormir.” , explica.
Um equilíbrio possível
Mais do que uma ruptura completa com as telas, o detox digital pode ser entendido como um exercício de equilíbrio. Pequenas mudanças no cotidiano já contribuem para reduzir a ansiedade e melhorar a qualidade do sono. “Não se trata de demonizar a internet ou a conexão, mas de compreender que é preciso gerenciar seu uso, evitando que os problemas mencionados anteriormente tomem conta e comprometam gerações.”, finaliza Arpini.
Assista o vídeo sobre pequenas mudanças no cotidiano:
Entre as recomendações de especialistas estão:
- estabelecer horários do dia sem o uso do celular, especialmente antes de dormir;
- utilizar aplicativos que ajudem a monitorar e limitar o tempo de tela;
- priorizar atividades offline, como a leitura, a prática de exercícios físicos ou momentos de convivência em família.