Reportagem: Prisley Severo Zuse
A comunicação entre profissionais da saúde e pacientes surdos ainda é um desafio no Brasil. A falta de domínio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) por parte de muitos dentistas e médicos compromete a qualidade do atendimento e dificulta o acesso desse público a serviços básicos. Pensando nisso, o Programa de Educação Tutorial (PET) Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desenvolve, desde fevereiro de 2022, o ‘PET Humaniza: estratégias para a quebra de barreiras na comunicação entre surdos e a assistência odontológica’.
O projeto tem como principal iniciativa a produção de vídeos educativos em Libras, abordando temas relacionados ao autocuidado e à saúde bucal. As produções são disponibilizadas no site institucional da UFSM e no YouTube do grupo PET, ampliando o acesso da comunidade surda a informações de qualidade.

Segundo Maria Eduarda Maldonado, acadêmica do 9º semestre de Odontologia e líder do projeto, a proposta surgiu como resposta a uma lacuna social evidente. “Observamos que o conhecimento em Libras ainda é bastante reduzido, o que representa um obstáculo comunicativo enorme para os surdos. Nosso objetivo é proporcionar mais autonomia e tornar o atendimento odontológico mais inclusivo e humanizado”, explica.
O processo de produção dos materiais envolve a colaboração entre diferentes setores da universidade. Inicialmente, os estudantes do PET Odontologia elaboram os roteiros sobre os temas escolhidos em reuniões administrativas. Em seguida, os textos passam por adaptação junto a professoras especialistas em Libras, que também acompanham os treinos dos sinais. As gravações ocorrem nos estúdios da Coordenadoria de Tecnologia Educacional (CTE), responsável também pela edição e finalização dos vídeos.
Para a professora Mariana Marquezan, tutora do PET Odontologia desde 2023, o projeto contribui de forma decisiva tanto para a formação dos acadêmicos quanto para a sociedade. “A experiência em Libras amplia o currículo dos futuros dentistas em aspectos que vão além da técnica. Ela promove sensibilidade para a inclusão, desenvolve competências comunicativas com a comunidade surda e fortalece a noção de humanização no atendimento em saúde”, destaca.
O impacto, segundo a docente, acontece em duas frentes. Para a comunidade surda, o projeto representa maior autonomia, melhora da comunicação com profissionais da saúde e redução de barreiras no acesso ao atendimento odontológico. Já para a sociedade como um todo, reforça-se a importância da equidade em saúde e da construção de uma rede de cuidado acessível a todos.
Com essa proposta, o PET Humaniza cumpre um papel duplo: garante informação e inclusão para a comunidade surda e prepara dentistas mais conscientes do seu papel social. “É uma forma de aproximar a universidade da comunidade e de formar profissionais mais completos e comprometidos com a justiça social”, conclui Mariana.