Na edição comemorativa, a docente destaca que o desafio permanece o mesmo, unir uma turma inteira em torno de um único produto editorial. Para ela, o caráter coletivo não é um obstáculo, mas parte essencial do aprendizado. Diálogo, negociação e colaboração fazem parte da rotina das equipes e refletem situações reais do mercado. A proposta dos estudantes foi dar maior visibilidade ao que é produzido dentro do curso, enfatizando a experimentação e o olhar criativo que marcam a graduação. Segundo a professora, a equipe conseguiu traduzir essa ideia em uma revista que funciona quase como um portfólio do curso, reunindo diferentes perspectivas e possibilidades do trabalho editorial. Ao longo dos anos, Bomfá viu a revista crescer junto com o curso. E embora reconheça os desafios, como a falta de recursos para impressão em algumas edições, ela reforça que a força da revista está no envolvimento dos estudantes. São eles que constroem, renovam e projetam a identidade da publicação a cada ano.
Para o futuro, a professora acredita que a Revista O QI continuará se transformando. Ela incentiva que cada nova turma proponha estéticas, formatos e caminhos diferentes, mantendo o caráter experimental que sempre definiu a revista. Acima de tudo, deseja que os estudantes sigam vendo a revista como uma oportunidade de colocar em prática o que aprendem em sala de aula e como um espaço que pertence a eles.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Entrevistadora: Por que a revista se chama O QI?
Bomfá: Então, o nome da revista O QI é bem curioso, porque quando pensamos na criação
da revista, o curso de Produção Editorial estava começando na UFSM e ainda não havia uma
revista acadêmica do curso. Era algo novo. Então, “O QI” veio muito dessa perspectiva de
representar inovação, de pensar no que vem por aí, no que vamos fazer. Traz também um
pouco das incertezas presentes na inserção do profissional do curso na área e no mercado de
trabalho. O nome perpassa por essas questões, o que vem por aí, o que vamos fazer, a
adaptação, essa característica camaleônica do profissional que está sempre se reinventando. A
cada edição, há uma nova proposta, uma nova identidade. Por isso, O QI, “o que vem por aí”,
“o que faremos”. Tanto é que a primeira edição tem um ovo na capa, simbolizando a origem,
o novo e o incerto. Esse é o conceito.
Entrevistadora: E agora, com o lançamento da 15a edição junto com o EditaSul, o que isso
significou para você?
Bomfá: Foi um momento importante, já que celebramos os 15 anos do curso de Produção
Editorial. Perceber que a revista caminha lado a lado com o curso, que alunos desde o
primeiro semestre até hoje participam da produção, é muito gratificante. A revista ocupa um
lugar de importância no curso, um lugar de fala, já que os alunos podem publicar nela e
também são protagonistas do processo editorial. É muito recompensador perceber essa
visibilidade que a revista adquiriu, inclusive no EditaSul.
Entrevistadora: A senhora está desde o início do projeto, então deve ser especial ter
vivenciado tudo isso.
Bomfá: Sim, estou desde o início. A revista surge em 2011, junto com a criação do curso, e
também acompanha a criação das disciplinas do eixo de revistas experimentais. Ela faz parte
do Laboratório Pública, destinado às práticas de ensino e pesquisa na área de produção
editorial em revistas. Venho construindo essa trajetória desde então, junto com o curso e com
a revista.
Entrevistadora: Para você, como se inicia o processo de construção da revista? E
especificamente neste ano, quais foram os desafios para produzir a edição 15?
Bomfá: O processo de criação de uma revista começa pelo olhar para o mercado, para
revistas concorrentes e para os interesses do nosso público-alvo. A revista existe pelo
interesse dos leitores. Sobre dificuldades, eu não diria exatamente dificuldades, mas
especificidades da disciplina: é um projeto coletivo. Envolve a participação de todos os
alunos em prol de um mesmo objetivo, lançar a edição do ano. Isso gera desafios, mas
também é muito gratificante, porque os acadêmicos se colocam em prática, experimentam,
dialogam com as equipes. Conflitos surgem, claro, mas isso é natural e faz parte do que vão
enfrentar no mercado de trabalho.
Entrevistadora: A O QI é reconhecida pelo caráter camaleônico. Na 15a edição, qual foi a
principal novidade ou marca da identidade visual?
Bomfá: O caráter do volume 14/2025 foi pensar a edição como um portfólio que dá
visibilidade ao que é produzido no curso. O foco foi trazer a experimentação como
protagonista. Essa foi a grande novidade: colocar o curso em evidência por meio dessa
proposta. Os “camaleõezinhos” que produziram a edição se desdobraram para entregar isso, e
conseguiram com sucesso.
Entrevistadora: Quais foram os desafios mais significativos para a equipe?
Bomfá: O maior desafio é o fato de ser um projeto coletivo. As equipes editoriais precisam
dialogar constantemente para que o processo editorial flua. Uma depende da outra para que as
tarefas sejam bem-sucedidas. Esse é o ponto principal.
Entrevistadora: Como você percebe a evolução da revista ao longo dos anos?
Bomfá: A revista cresceu muito, especialmente em visibilidade. Hoje é reconhecida não só
dentro da Produção Editorial, mas também na UFSM e em outras universidades de
Comunicação Social. Recebemos submissões de autores de diversos lugares e estados, o que comprova essa capilaridade. O engajamento dos alunos aumentou. Eles têm carinho e orgulho
da revista, como algo que pertence ao curso. No início, nos inspiramos na revista produzida
pelos alunos da ECA-USP. Fomos até lá conhecer o trabalho deles, que já era consolidado, e
decidimos criar nossa própria revista. Hoje, 14 anos depois, mostramos que conseguimos.
Nunca tivemos atraso nas publicações, mesmo com apenas um semestre para produzir cada
edição. Uma dificuldade recorrente é a impressão, porque nem sempre temos recursos
disponíveis para imprimir todos os números.
Entrevistadora: Para a senhora, qual é sua missão dentro da revista?
Bomfá: A minha missão é trazer a participação ativa do produtor editorial no campo das
revistas científicas. Tenho buscado inserir esse eixo dentro da formação, pois é uma área
pouco explorada em alguns cursos, mas que tem grande potencial no mercado. Existem
editoras especializadas em publicações científicas, nacionais e internacionais,: que
demandam profissionais qualificados.
Entrevistadora: Isso se conecta com as atividades da disciplina, certo?
Bomfá: Sim. Todas as atividades editoriais da disciplina de Projeto Experimental em
Revistas são desenvolvidas ali, desde o recebimento dos originais, tratamento, revisão,
avaliação, até a publicação e divulgação. A disciplina é o espaço onde aplicamos a
experimentação.
Entrevistadora: De que forma o envolvimento dos estudantes contribui para a sua atuação
como diretora e professora?
Bomfá: Eu, como educadora e editora, não sou nada sem a participação dos alunos. É um
trabalho conjunto, coletivo e colaborativo. Cada equipe e cada integrante sabe sua função e
seu compromisso com o projeto. Sempre reforço que não é uma revista feita apenas para a
sala de aula: ela será publicada e é aguardada por autores e leitores. Esse envolvimento é
fundamental, e os alunos sempre abraçam o projeto.
Entrevistadora: O que você espera para o futuro da revista? Há ideias de novos formatos?
Bomfá: Como é uma revista experimental, sempre espero desafiar os alunos a algo diferente.
Mas nunca imponho, são sugestões. Quero que os alunos tragam suas ideias, experimentem,
imprimam sua identidade. A revista é construída coletivamente. Muitos alunos até estranham
quando acaba a disciplina, porque vinham todos os dias prontíssimos para trabalhar, com
prazos e cronogramas. Isso mostra o quanto o processo é intenso e prazeroso.
Entrevistadora: Pensando no EditaSul, há ideias de novas parcerias para as próximas
edições?
Bomfá: Sim. Podemos avançar e pensar em parcerias com cursos de editoração de outras
universidades, como UFRJ ou USP. Participações conjuntas em mesas de discussão ou
grupos de trabalho seriam muito ricas. A tecnologia facilita isso, podemos fazer tudo
remotamente. Também quero fortalecer a relação entre academia e mercado, trazendo
profissionais que atuam no setor para compartilhar suas experiências.
Entrevistadora: Para finalizar, que mensagem você deixa para os alunos que no futuro vão
continuar o projeto?
Bomfá: Eu sempre penso nisso, quando eu não estiver mais aqui, quem vai segurar O QI? A
revista é como um filho. Acredito que ela vai se manter e espero que os alunos e professores
que vierem depois deem continuidade e percebam a importância que ela tem no curso. A
revista pertence aos alunos.
Entrevistadora: E para os semestres que estão chegando agora?
Bomfá: Para os calouros, eu diria para participarem desde cedo. Sempre divulgamos a revista
na recepção dos ingressantes, justamente para que entendam sua importância. Eles já podem
submeter trabalhos simples, resumos, resenhas, trabalhos de disciplinas. E mais adiante,
podem se engajar na produção científica e na experimentação editorial no sétimo semestre.
Fazemos questão de que eles conheçam as edições desde o início.