Desde 1979, quando foi criado, o Programa de Educação Tutorial (PET), subsidiado pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Secretaria de Ensino Superior (SESu), tem o objetivo de propiciar aos estudantes de graduação, com a ajuda de um professor tutor, condições para realizar atividades extracurriculares. Essas devem complementar a formação acadêmica, atender às necessidades do curso e ampliar os objetivos e os conteúdos da grade curricular. Atualmente, na Universidade Federal de Santa Maria existem 19 grupos PET, entre eles os de Agronomia, Ciências Biológicas, Ciência da Computação, Física, Letras e o Ñande Reko.
Criado em 2010, por meio do Edital Conexões de Saberes, o PET Indígena Ñande Reko, expressão que significa “Nosso modo de ser Guarani”, atua desde 2011. O projeto foi desenvolvido pelo professor do Departamento do Curso de História da UFSM, André Luis Ramos Soares, o qual trabalha com a temática de povos originários desde os anos 90. Para ele a questão indígena dentro da Universidade e no PET é extremamente válida em questões de inclusão social e de diálogo entre culturas, devido ao fato que os estudantes participantes vêm de áreas onde há pouca experiência com a escolaridade e o mundo acadêmico formal.
“O objetivo do PET é inseri-los dentro da Universidade, não na forma de uma Universidade branca, mas de um lugar que dialogue com a questão indígena, com os saberes tradicionais. Portanto, possa ser uma via de mão dupla, no sentido de compreender esses saberes e dialogar com eles, como também levar o saber acadêmico. A função do PET é capacitar, instrumentalizar e melhorar a condição de acesso às comunidades indígenas e também de formar profissionais de primeira linha” afirma Soares.
Junto aos grupos PET, Ñande Reko esteve presente no Descubra UFSM, que ocorreu durante os dias 14 e 16. Para a estudante do quinto semestre de Enfermagem, Cristiane Andreia Bento, que participa do PET há dois anos, é importante participar desse tipo de evento da Instituição para dar visibilidade aos projetos que o grupo desenvolve dentro e fora UFSM.
No estande, situado próximo à praça de alimentação do Descubra, foram expostos banners e panfletos das atividades realizadas no campus e em comunidades indígenas, além de artesanatos. Segundo Emerson Hivgor Ribeiro, aluno do terceiro semestre de Engenharia Civil, integrante do Ñande Reko desde 2013, quando ingressou em Tecnologia de Alimentos, a estrutura oferecida no Descubra é muito mais que um simples lugar. “Essa tenda é para mostrar que a Universidade é um lugar de todos, que nós indígenas também estamos aqui, e para que as pessoas que vêm de fora descubram que a Universidade possui uma diversidade cultural, então a cultura indígena também está presente na UFSM”, comenta o acadêmico.
Atualmente, o PET Ñande Reko conta com 13 alunos, entre bolsistas e voluntários. Essa é a segunda vez que estão no evento. Para a equipe, o Descubra UFSM é muito mais do que uma ajuda na escolha de curso dos jovens do ensino médio, o ambiente serve para mostrar a comunidade acadêmica que existem indígenas de várias etnias na universidade, e que têm condições de permanecer neste lugar e obter sucesso nas áreas escolhidas.
“O principal ponto, tanto do Descubra quanto das outras atividades, é mostrar a visibilidade indígena, mostrar que esses índios entram na universidade, passam pelo PET, se formam e já estão colocados em suas respectivas profissões. O que demonstra um sucesso do PET”, ressalta André Luis, que não se considera tutor do grupo, mas se vê como um porta-voz.
Iniciativas como essas demonstram que a UFSM é um espaço de todos e que apesar dos empecilhos que estão instaurados na sociedade há anos, causas como a indígena têm conquistado espaço não apenas dentro do campus, mas também fora.
Texto e fotos: Victoria Lopes, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Maurício Dias
Fonte: www.ufsm.br