“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!”; Assim começa o soneto “Ouvir estrelas”, de Olavo Bilac, publicado em 1888.
Lembrei-me desses versos porque nós, geólogos, também praticamos o insensato: ouvimos (não as estrelas, mas) as rochas; conversamos com as rochas; deciframos seus códigos e segredos. E as amamos.
A geologia consiste no estudo de todos os processos terrestres e de todos os seus produtos. Os geólogos compreendem desde os processos que ocorrem ou ocorreram na superfície do planeta, como vulcanismo, sedimentação, formação do relevo ou evolução da vida, até os processos internos, profundos, como a geração e cristalização de magmas e o metamorfismo. Os geólogos conhecem os produtos da evolução terrestre: minerais, rochas, fósseis, estruturas tectônicas, oceanos e cadeias de montanhas. E ainda trabalham em uma escala de tempo que a experiência humana não é capaz de compreender totalmente: o tempo profundo, o tempo geológico, os 4,56 bilhões de anos da história da Terra.
Nós geólogos contribuímos com a formação de outros profissionais, aportando conhecimentos essenciais a diversas áreas. Ajudamos os geógrafos a compreender os elementos físicos da paisagem; a explicar os assentamentos humanos pela disponibilidade de bens minerais, e os conflitos advindos de sua exploração. Mostramos aos pesquisadores das ciências rurais de que rochas advêm os nutrientes de que necessitam as diferentes culturas agrícolas ou florestais, e quais as limitações que a geologia impõe a essas culturas. Interagimos com os químicos, para explicar-lhes a origem geológica dos elementos e compostos usados na indústria. Compartilhamos com os biólogos a tarefa de entender os fósseis, e discutimos com eles a enorme influência que a geodiversidade possui sobre a biodiversidade e sobre a estruturação dos diferentes ecossistemas e biomas. E, por fim, contribuímos com os engenheiros civis e sanitaristas/ambientais com informações cruciais sobre a água subterrânea e sobre o comportamento das rochas e minerais como materiais de construção e como bases para fundações, aterros e sistemas de tratamento de efluentes. Para o contato com todos esses profissionais, sempre buscamos selecionar as informações mais relevantes e, sobretudo, adaptar nossa linguagem e nosso jargão, muitas vezes bastante complicado, para sermos entendidos e contribuirmos com a universidade e com a sociedade.