Em primeiro lugar, nosso respeito e solidariedade aos trabalhadores do MN, que lutaram em meio às chamas, para salvar o que fosse possível, mesmo arriscando as próprias vidas, no desesperado intuito de talvez diminuir o prejuízo científico e cultural que a todos estarrecidos se depararam. Em um domingo, dia de descanso, estiveram lado a lado com as equipes de socorro, para tentar salvar parte do Patrimônio Cultural de nossa nação.
Segundo, nossa perplexidade, pois é praticamente impossível contabilizar em números ou monetariamente as perdas, visto que em 200 anos de história, o MN abrigava coleções de diversas áreas da ciência, incluindo fósseis com milhões de anos. Estas perdas incluem as áreas de exposição e os laboratórios e reservas técnicas, com materiais em estudos, ou que constituem os exemplares tipo de espécies descritas de nossa rica biodiversidade, e principalmente de materiais guardados para novos estudos.
Terceiro, nossa indignação, frente ao processo de contingenciamento da Ciência e Educação no Brasil, que levou à diminuição de recursos para a manutenção do prédio, e por muitas vezes apenas parcialmente liberados. Apesar das inúmeras notícias na imprensa, relatando as dificuldades de implementação de melhorias, e de incidentes anteriores de infiltração e falta de segurança, o MN sempre buscou parcerias público-privadas, que em época de crise econômica têm minguado e refletem a escolha de investir ou não em educação, ciência e patrimônio cultural.
Quarto, nossa tristeza, pela perda de exemplares únicos de nosso Patrimônio Cultural, tais como ossos da mais antiga humana do Brasil, a “Luzia”, bem como de um fóssil encontrado pelo Prof. Romeu Beltrão (UFSM) em 1965, enviado ao MN para salvaguarda, que foi estudado e publicado em 2011.
Quinto, nossa preocupação, com relação aos milhares de outros espaços que passam pelas mesmas dificuldades, seja em âmbito federal, estadual e municipal. Museus são espaços educativos, mas infelizmente isso têm sido negligenciado de forma recorrente, levando a disparates e comentários inadmissíveis nas redes sociais. Afinal, sem conhecer o passado é impossível entender o presente, e muito menos projetar o futuro.
Enfim, este é um dia triste para o Patrimônio Cultural e para a Ciência do Brasil.
Átila Augusto Stock da Rosa
Marcelo Ribeiro
Coordenação do PPG em Patrimônio Cultural