A Pró-Reitoria de Extensão (PRE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) passará por uma mudança em cargos de direção, seguindo a nomeação dos novos pró-reitores feita pela futura reitora Martha Adaime. Após oito anos à frente da extensão universitária, o professor Flavi Ferreira Lisboa Filho encerra um ciclo marcado pela consolidação institucional da PRE.
A nova gestão da Pró-Reitoria de Extensão da UFSM será marcada por grande protagonismo feminino. Dos quatro cargos de direção que passam por substituição, todos serão assumidos por mulheres, consolidando um momento de fortalecimento da liderança feminina na PRE. Tomam posse: a Pró-Reitora de Extensão; a Pró-Reitora Adjunta, que também acumula a Coordenação de Articulação e Fomento à Extensão; a Coordenadora de Cidadania; e a Coordenadora de Cultura e Arte.
Entre as coordenações já existentes, apenas um nome permanece: Leandro Nunes Gabbi, responsável pela Coordenação de Desenvolvimento Regional. Todos os demais setores passam a contar com novas lideranças, são elas: mulheres com trajetórias reconhecidas na extensão, reforçando um alinhamento entre renovação institucional e valorização da presença feminina.
Conheça os integrantes da nova gestão da PRE (2026–2029)

Pró-Reitora de Extensão: Milena Carvalho Bezerra Freire de Oliveira Cruz
Jornalista e publicitária de formação, com mestrado em Ciências Sociais e doutorado em Comunicação pela UFSM, a professora de Publicidade e Propaganda Milena Carvalho, também integrante do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e com mais de 15 anos de experiência docente, tem sua trajetória na extensão pautada pelo forte compromisso com os direitos humanos, a equidade de gênero e o diálogo social. A futura pró-reitora relata que sua conexão com a extensão foi consolidada por meio da interação com diversas comunidades.
Na Universidade, se destacou pela criação do grupo de pesquisa “Comunicação, Gênero e Desigualdade”, pela implementação do curso de especialização em Estudos de Gênero e pela coordenação do projeto “Conexões Maternas”. Além disso, Milena integra a Comissão Assessora para Equidade, Diversidade e Inclusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS).
Natural do Rio Grande do Norte, a professora morou em diversos lugares, incluindo o Piauí, onde lecionou no curso de Turismo. Foi nesse período que, segundo ela, teve grande contato com a extensão. “Em Parnaíba, comecei a viver uma experiência mais concreta com a extensão: realizávamos imersões em campo, fazíamos diagnósticos com a comunidade local e entendíamos o potencial turístico da região. Era um aprendizado para os estudantes e, ao mesmo tempo, uma devolutiva para a comunidade, que estava fazendo a transição de um contexto predominantemente pesqueiro e bucólico para um lugar com crescente demanda turística”, explicou Milena.
Ao refletir sobre o desenvolvimento da extensão na UFSM ao longo dos anos, a professora expressa entusiasmo com o processo: “Hoje, vejo que estamos em um momento de colher os frutos de um trabalho que foi muito bem semeado ao longo dos últimos anos. Toda a força que a extensão tem hoje na UFSM é resultado de um trabalho sólido, especialmente nos últimos oito anos”, comenta. Milena destaca que a extensão na universidade não é mais apenas um item curricular a ser cumprido, mas uma prática consolidada e de grande impacto. Como tutora do Programa Educação Tutorial (PET) Saúde e Equidade no eixo de maternagem, ela enfatiza que os estudantes da área da saúde aprendem a olhar para as pessoas além do corpo biológico, compreendendo suas histórias de vida e os contextos de vulnerabilidade. “Essa atuação é uma experiência de extensão profundamente interdisciplinar”, afirma ela.
Milena menciona dois desafios iniciais que pretende priorizar em sua gestão. O primeiro é realizar um diagnóstico detalhado: ouvir os colegas que já estão na Pró-Reitoria, entender as necessidades e obter uma visão mais ampla do que, por enquanto, ela só consegue enxergar de fora. Em seguida, seu foco será acompanhar de perto como a extensão está presente nos currículos dos cursos, aprimorar esse processo, minimizar ruídos, planejar metas alcançáveis e identificar o que funciona bem e o que precisa de ajustes. Segundo ela, sua intenção é concentrar esforços nas unidades da Universidade. “Outro ponto central é fortalecer o diálogo com as unidades de ensino. Cada uma das 14 unidades — centros, colégios, campi — tem especificidades e demandas próprias de extensão. O que é relevante para a área da saúde é diferente do que é para o Centro de Artes e Letras (CAL), e não se trata de hierarquizar, mas de compreender cada contexto”, destaca Milena.

Pró-Reitora Adjunta de Extensão e Coordenadora de Articulação e Fomento à Extensão: Angela Weber Righi
Formada inicialmente em Fisioterapia pela UFSM, a professora Ângela Righi desenvolveu interesse por temas como ergonomia, saúde do trabalhador e engenharia de fatores humanos. Com doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela atua como professora no Departamento de Engenharia de Produção desde 2017. Atualmente, também está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da UFSM.
A relação de Ângela com a extensão começa ainda na graduação, quando se envolveu em diversas ações comunitárias nos cursos da área da saúde. Como docente, ela liderou grupos de trabalho que ajudaram a definir as diretrizes extensionistas do Centro de Tecnologia (CT) e atuou diretamente no processo de curricularização da Engenharia, seguindo as novas diretrizes. Desde 2017, participa ativamente da Comissão de Extensão do Centro de Tecnologia, onde assumiu, primeiramente, o cargo de vice-presidente e, mais recentemente, de presidente. Nesse papel, tem sido uma peça-chave na reformulação pedagógica dos cursos de Engenharia ao integrar a extensão de maneira estratégica nos currículos.
Ângela foi responsável pela criação do manual de extensão para as engenharias, com o objetivo de adaptar essa prática a um contexto mais técnico. Segundo ela, no CT, a extensão foge do convencional, e sua intenção foi encontrar um espaço para ela dentro de um ambiente tradicionalmente mais técnico. “No Centro de Ciências da Saúde (CCS), de onde eu venho, a extensão está muito ligada à assistência, ao serviço de apoio. Já no CT, temos características bem próprias: relações com empresas, desenvolvimento de produtos, apoio a laboratórios que prestam serviços tanto para outras unidades da UFSM quanto para a comunidade externa”, explica Ângela.
Com grande entusiasmo, a professora compartilha sobre os projetos de extensão que coordena. No projeto “Engenharia para além do mercado de trabalho”, os estudantes de Engenharia de Produção visitam escolas para realizar atividades com as crianças. “É uma experiência muito rica ver os estudantes transmitindo conhecimento para os pequenos. A gente vai até as escolas e apresenta essas ferramentas, realiza dinâmicas — como a montagem de uma caneta, simulando uma linha de produção — e insere os conceitos da Engenharia de Produção nesses exercícios. É fascinante ver como os alunos começam a perceber a diferença que esses conceitos podem fazer na prática”, ressalta ela.
Sobre suas expectativas para a gestão, ela afirma que, inicialmente, é fundamental conhecer a estrutura interna da PRE e da Coordenadoria de Articulação e Fomento à Extensão (CAFE), além de reconhecer as ações e projetos já em andamento e identificar pontos de melhoria com base na experiência das unidades. Para isso, ela destaca a importância da escuta ativa com docentes, técnicos e estudantes: “A primeira etapa é reconhecer o que já foi construído. A extensão cresceu muito nos últimos anos, e nosso papel agora é fortalecer, articular e qualificar esse trabalho”.
Ângela espera fortalecer a comunicação da extensão, tornando mais visíveis os projetos, os resultados e as oportunidades. “Um dos maiores desafios é comunicar a extensão. Precisamos mostrar o que já é feito, dar visibilidade às ações e aos resultados, porque a extensão cresce quando é compreendida. E, para isso, é essencial engajar, fomentar e dialogar”, afirma. Segundo ela, sua abordagem será justamente essa: interagir, tocar as pessoas e se expressar. “Eu venho de duas áreas diferentes e, por isso, trago a capacidade de transitar entre mundos. A extensão exige diálogo, adaptação e sensibilidade — e é para isso que pretendo contribuir”, conclui a futura pró-reitora adjunta.

Coordenadora de Cidadania (COCID): Cassiana Marques da Silva
Pedagoga formada pela Universidade Franciscana (UFN), mestre em Gestão Pública pela UFSM e servidora na mesma instituição desde 2010, Cassiana Marques assume a Coordenadoria de Cidadania após uma trajetória em áreas estratégicas como saúde do trabalhador, gestão de pessoas e assistência estudantil. Atualmente, ela ocupa o cargo de Pró-Reitora Adjunta da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE).
Ela comenta que também passou pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) em Brasília e, ao retornar a Santa Maria, assumiu um cargo na Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP), na Coordenadoria de Saúde e Qualidade de Vida do Servidor (CQVS), onde foi chefe de núcleo e, posteriormente, coordenadora por quatro anos. A trajetória de Cassiana sempre esteve voltada à interação com pessoas. Segundo ela, a extensão sempre fez parte de sua vida, pois acredita que é essencial para o aprendizado. “Eu sempre submeti projetos para o Observatório de Direitos Humanos (ODH), sempre voltados a estudantes, diversidades e minorias sociais”.
O projeto mais recente da servidora é “Educação e cultura popular: fazeres, saberes e ações na educação básica municipal, ensino superior e escola de samba, um intercâmbio cultural”, mais conhecido como “Cultura Educa”. O projeto promove um intercâmbio cultural entre estudantes estrangeiros, quilombolas, indígenas e escolas municipais.
Para ela, a COCID é essencial para fortalecer as políticas sociais e a interação com as comunidades vulneráveis: “É necessária para levar o serviço e a informação até o cidadão que precisa. É por meio desses projetos que trabalhamos no desenvolvimento dessas pessoas”, relata. Cassiana também fala sobre as prioridades da gestão. Segundo ela, é fundamental mapear as demandas, identificar os responsáveis e entender as subdivisões das coordenadorias.
Ela destaca que, embora mudanças possam gerar ansiedade, também trazem novas possibilidades, pois a equipe se reconstrói junto. “Eu sou uma pessoa que não sei trabalhar se não for no coletivo. Não consigo. É muita tortura trabalhar em uma sala sozinha”, comenta Cassiana.

Coordenadora de Cultura e Arte: Raquel Guerra
Atriz, diretora, produtora cultural e professora do Departamento de Artes Cênicas da UFSM, Raquel Guerra é mestre e doutora em teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Sua relação com a extensão começou ainda na graduação, quando acompanhava ações artísticas com a comunidade externa, visitando escolas, comunidades e espaços sociais. “Uma professora minha, ainda na graduação aqui na UFSM, nos botava em um ônibus e nos levava para fora da Universidade para apresentar em escolas e visitar asilos e comunidades, e eu lembro que era uma coisa que eu achava muito importante porque foram essas ações que me ajudaram muito no processo de profissionalização” relata Raquel.
Durante o mestrado e doutorado, ela trabalhou em Florianópolis no Instituto Guga Kuerten, uma organização social e fundação dedicada a projetos de incentivo à cultura e ao esporte. Segundo ela, a extensão já era uma prática muito presente no meio do teatro e, quando surgiu a curricularização da extensão no curso, isso não causou surpresa entre os alunos: “Dentro da área do teatro, existe esse universo do teatro em comunidade, que visa a prática artística com foco no desenvolvimento da comunidade. Para nós do curso, a inserção da extensão foi algo natural, pois já realizávamos extensão o tempo todo”.
Com projetos reconhecidos regional e nacionalmente, Raquel coordena iniciativas como o Teatro Caixa Preta e o Caixa Aberta, que convidam a comunidade a participar ativamente do teatro. Para ela, cultura é extensão, pois a arte deve ser voltada para a sociedade: “A gente produz arte para a sociedade, visando a produção artística como um espaço de reflexão social”.
Suas intenções para a nova gestão são claras e objetivas: intervir de forma a promover uma transformação social, alterando a estrutura do pensamento social, como o racismo, machismo, sexismo e etarismo. Raquel enfatiza que a cultura é um espaço crucial no combate às desigualdades. “Espero também poder contribuir para a diminuição do assédio moral dentro da Universidade. Qualquer tipo de assédio ou violência de gênero, eu acredito que a arte e a cultura têm um poder muito forte em combater essas formas de violência”, ressalta ela.

Coordenador de Desenvolvimento Regional (CODER): Leandro Nunes Gabbi
O único coordenador que permanece no cargo, Leandro Gabbi, é servidor na UFSM desde 2014, possui uma sólida trajetória acadêmica e profissional que se reflete diretamente em sua atuação em prol do desenvolvimento regional. Graduado em Ciências Econômicas pela própria Universidade e com mestrado em Gestão de Organizações Públicas, ele iniciou sua carreira no Campus Cachoeira do Sul, onde atuou como Chefe do Gabinete de Projetos. A mudança para a Pró-Reitoria de Extensão (PRE) em 2021, onde trabalhou no Escritório do Geoparque Quarta Colônia, foi um marco em sua carreira, aprofundando seu envolvimento com a extensão universitária e o desenvolvimento territorial. Em 2023, foi convidado a assumir a Coordenadoria de Desenvolvimento Regional (CODER), na qual tem ampliado sua contribuição para as comunidades locais e para o desenvolvimento sustentável da região.
A relação com a extensão universitária começou ainda no Campus Cachoeira do Sul, onde Leandro foi integrante da Comissão de Ensino, Pesquisa e Extensão e da Câmara de Extensão da UFSM. Essas experiências o ajudaram a entender a extensão como um elo entre a universidade e as comunidades, uma forma de aplicar o conhecimento acadêmico para atender às demandas reais dos territórios. No Escritório do Geoparque Quarta Colônia, ele passou a articular ações com comunidades de municípios que compõem esse território, segundo ele: “A extensão acontece de fora para dentro. Nosso papel é articular demandas reais das comunidades e transformá-las em projetos capazes de gerar desenvolvimento regional sustentável”.
Para ele, a CODER tem desempenhado um papel fundamental na articulação com a comunidade, promovendo o desenvolvimento sustentável nas áreas de turismo, cultura e patrimônio natural. Ele vê a extensão universitária como um instrumento estratégico para o fortalecimento dos vínculos entre a Universidade e os municípios da região. “A troca de saberes entre a academia e a comunidade é essencial não apenas para a formação acadêmica, mas também para a qualificação da mão de obra local e o fortalecimento da identidade regional”, afirma Leandro.
Para os próximos anos, o gestor tem grandes expectativas. Sua prioridade é consolidar e expandir a atuação da CODER, com foco na manutenção dos Selos de Geoparque Mundial da UNESCO nos territórios de Caçapava e Quarta Colônia, além de reforçar a integração da UFSM com os municípios da Região Central do Rio Grande do Sul. Ele acredita que o principal desafio será unir os municípios para que se vejam como uma região integrada, capaz de pensar e agir coletivamente: “Para o próximo período de gestão, a nossa prioridade é manter a nossa atuação de articulação junto aos territórios, procurando, através da extensão universitária, atender à demandas das comunidades e promover o desenvolvimento regional sustentável não só na Região Central, mas também nas regiões de atuação dos Campus Cachoeira do Sul, Frederico Westphalen e Palmeira das Missões”.
Uma gestão que nasce fortalecida pelo diálogo
Em comum, os novos gestores destacam três fundamentos centrais:
Escuta ativa e construção coletiva
Valorização de estudantes como protagonistas da extensão
Expansão da presença da UFSM no território
As equipes da PRE agradecem a atual gestão pelo empenho durante os últimos anos e abrem as portas para a nova gestão, que assume com o desafio de preservar conquistas, qualificar processos e impulsionar novos caminhos, mantendo a extensão da UFSM como referência nacional em impacto social.
Texto: Maria Lúcia Homrich Gotuzzo, bolsista de jornalismo da Subdivisão de Divulgação e Editoração (PRE/UFSM).
Revisão: Catharina Viegas, revisora de textos da Subdivisão de Divulgação e Editoração (PRE/UFSM).