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Um panorama sobre os conflitos na Líbia



O mundo aguarda apreensivo o desfecho dos conflitos na Líbia. Desde fevereiro, uma crise cerca o país. Milhares de pessoas já morreram. E a disputa pelo poder entre os rebeldes do Conselho Nacional de Transição (CNT) e os homens fiéis a Muammar Kadhafi parece estar chegando ao fim.

Inspirado em uma onda de protestos no Oriente Médio e norte da África, a Líbia foi o terceiro país a por fim em um regime militar de 42 anos. Além da Líbia, os protestos colocaram fim a regimes ditadores na Tunísia e no Egito.

As manifestações do povo líbio contra Kadhafi iniciaram no leste do país, onde a popularidade do ditador é baixa. Com o passar do tempo outras cidades aderiram aos oposicionistas e passaram a ser controladas por um conselho popular.

Apesar dos protestos terem ganhado força e tomado grande parte do país, a repressão de Kadhafi e seus seguidores foi dura, gerando milhares de mortes. Estima-se que mais de vinte mil pessoas morreram. Nos últimos sete meses, os conflitos se intensificaram e países como EUA, França, Rússia, entre outros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) passaram a apoiar os revoltosos com ajudas militares.

Mas o que acontecerá com a Líbia daqui para frente? Como se dará o processo de reconstrução do país? Entrevistamos o professor do curso de Relações Internacionais, José Renato Ferraz da Silveira, doutor em ciências políticas pela PUC-SP para comentar sobre os conflitos na Líbia.

A.A. – De que maneira os conflitos na Líbia afetam o Brasil?

José Renato – Diretamente no caso da Líbia, com a queda ou não do Muammar Kadhafi provavelmente as quatro empresas, incluindo a Petrobras aqui do Brasil, devem ser afetadas. O que os especialistas estão dizendo é que esse governo de transição pode alterar esses contratos, e são contratos milionários. Praticamente a Petrobras tem 2,3 bilhões de contratos com o governo líbio de investimento naquela região. Então o impacto no Brasil é bastante significativo nos negócios com a Líbia. Com relação aos países do oriente médio, é em menor medida, mas é claro que com o crescente papel do Brasil no comércio internacional ele está diretamente ou indiretamente envolvido com essas questões da primavera árabe.

 

A.A. – O grande arsenal bélico que a Líbia possui escondido pode ser uma ameaça mundial?

J.R. – O que os especialistas estão divulgando é que o conflito está chegando ao fim. Tendo ou não tendo esse armamento, embora eu acredite que o governo não tenha essas armas químicas, a queda dele é iminente. As informações que foram divulgadas é que de 80 a 90% dos rebeldes já tomaram a capital. E nesse sentido agora é questão de tempo para o Muammar Kadhafi ser capturado. A recompensa já está em 2,5 milhões. O prognóstico que eu faço é que a vitória dos rebeldes agora é iminente. O governo de transição vai assumir. Só que a questão, que é a mais delicada é a Líbia pós-Kadhafi.

A.A. – O que deve acontecer com a Líbia após o fim do conflito?

J.R. – O apaziguamento do conflito tende a se confirmar. A grande questão é a reconstrução do país. Será que os EUA e as grandes potencias vão fazer parte do conselho para reconstruir o país? Parece que sim. As refinarias de petróleo, gás natural e praticamente todos os recursos energéticos da Líbia não é algo desprezível para esses países.

A.A. – Como deve proceder o próximo governo na Líbia?

J.R. – A Líbia é formada de tribos. Será que essa população rebelde vai colocar as armas nos seus devidos lugares e cessar o conflito? E agora iniciar um processo democrático?

Em 1951, a Líbia se tornou independente. O rei Idris começou a governar o país. E, em setembro de 1969, o Muammar Kadhafi, o coronel, tomou o poder, deu o golpe da revolução e ele ficou até praticamente agora. Quase completando 42 anos. E, nesse cenário, a população da Líbia nunca viveu um regime democrático, amplo e com participação popular. Então é por isso que eu reitero, serão tempos nebulosos na Líbia.  

A.A. – A Líbia é formada por várias tribos, você acredita que possa se formar outro conflito entre essas tribos pela disputa do governo do país?

J.R. – É um prognóstico possível, um cenário possível e que pode ocorrer. O conflito não cessar, a transição não ocorrer de forma pacífica e a escalada de violência permanecer. Diferente, por exemplo, do caso da Tunísia e do Egito. Que ali havia uma nação, esses dois países estão em transição, embora esteja acontecendo de uma forma gradual e lenta, mas está ocorrendo de uma forma pacífica.

A.A. – É uma tendência dos dias atuais os povos se rebelarem e não aceitarem uma ditadura? 

J.R. – É um processo histórico emblemático o que aconteceu na primavera árabe. Já são praticamente oito meses de eventos que acontecem na África e na Ásia. Eu acredito que foi algo que chamou muito a atenção dos estudiosos, por que eles não acreditavam que isso fosse ocorrer, foi um movimento popular de negação política. Nós podemos definir negação política como transformação. E esse movimento de negação politica até atingir o objetivo  não cessa. Os objetivos são emancipação política, participação popular, além da obtenção de direitos sociais e culturais e direitos econômicos. E eu acredito que essa seja a grande bandeira dessa primavera árabe.

 

Repórter:

Angélica Aires – Acadêmica de Jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau – Jornalista.

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