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Rock com força, pesquisa com paixão



 

“É tudo culpa do meu pai, desde o início”. Nestas palavras, Clayton Hillig define como a música entrou em sua vida e, consequentemente, o ensino, a pesquisa e a extensão. Graduado em Medicina Veterinária, o professor de 45 anos atua no Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural. Desde 1998, trabalha na Universidade, e conta com orgulho que a UFSM já faz parte de sua vida. O primeiro contato com o rock and roll foi através de um compacto simples de Elvis Presley, cantor que o pai tanto gostava. Era o pontapé necessário para despertar a paixão pela extensão e o desejo de transformar o mundo.

A voz grave de Clayton e as notas de seu violão fazem parte da Flush. Formada em 2007, a banda de rock toca músicas lado-b de artistas como Rolling Stones, Camisa de Vênus e Barão Vermelho. Clayton deixa claro que a qualidade da banda não é o talento ou as habilidades de cada integrante com seus instrumentos, mas a vontade de tocar. “A única característica é o rock and roll. E é com força”. A banda é conhecida pelos alunos do professor, e já se apresentou no estacionamento do Centro de Ciências Rurais da UFSM. Quando avistou seus alunos da disciplina de Sociologia Rural durante o show, anunciou no microfone que “a aula vai começar agora. Só que o professor não veio”. Para Hillig, a música encanta os estudantes e serve principalmente como um mecanismo de aproximação. O professor perde seu estigma de autoritário, “porque tu tá lá fazendo rock and roll, como é que tu vai ser moralista?”. Clayton entende que o sucesso da prática pedagógica se dá por uma boa relação aluno-professor, e que aula boa é de gente que se gosta. Segundo seus princípios, professor tem que gostar da energia vital da juventude e, é claro, de um pouco de desobediência. Da mesma forma, para se trabalhar com extensão, o gosto por fumaça, sol, chuva e pessoas têm que ser natural.

Desde que se formou, Clayton trabalha como extensionista. A paixão intensa é explicada porque o professor vê a extensão como um laboratório da realidade – enxergando, assim, uma possibilidade de transformá-la. Em suas idas ao campo com os alunos, Hillig descobriu que o saber popular possui qualidades que o saber científico não tem. “A gente aprende valores, qualidades e atitudes que aqui dentro da Universidade não conseguimos produzir. Você vê coisas que nunca veria aqui, e que são muito mais reais que as coisas vistas aqui dentro”. Entretanto, o professor deixa claro que o saber é apenas uma ferramenta para o trabalho social, e que ele depende, na verdade, de sentimento. “Extensionistas, professores e pesquisadores, se não estiverem sensibilizados, não servem para nada. Eu acho que a música entra aí como uma forma de que as pessoas amoleçam seus corações e, inclusive, as estruturas sociais”.

Entre os projetos que Clayton realiza, está o Arquitetos do Saber. Atuando em Cachoeira do Sul, a ação busca aproximar educação fundamental da educação superior. Quando a diretora de uma escola da cidade pediu ajuda a UFSM, com medo de que a instituição fosse fechada, o grupo de Hillig fez uma pesquisa. “As escolas rurais fecham. É mais fácil buscar as pessoas e trazer para a cidade do que levar a escola até lá. Mas as pessoas não devem ser submetidas a isso – tem que levar a escola até elas e não trazer elas até a escola. Esse é o papel do Estado. Fizemos, então, um estudo da realidade, que comprovou que a coisa mais importante que tinha naquela comunidade era a escola, única instituição do Estado. Como sabemos que onde não há Estado surgem outras formas de poder – e as favelas estão aí para mostrar o crime organizado -, chegamos à conclusão de que não se poderia retirar a escola de lá”.

Durante dois anos, o grupo apoia a instituição, levando estudantes de graduação e pós-graduação até a escola. Oficinas de agroecologia, cidadania e educação ambiental são realizadas tanto na instituição como em visitas a UFSM por parte dos alunos da primeira a quinta série. “Quando se fala em inclusão social, parece que só pensam em gerar renda. Lá a gente tá pensando em despertar a motivação ecológica das crianças, em proporcionar o acesso à educação superior a quem nunca imaginaria isso na vida”. As atividades são feitas fora da sala de aula, realizando experiências com recursos naturais – água e terra, por exemplo. Para Clayton, a sala de aula pode ser o melhor mecanismo de educação, mas não é o único.

E foi através da música que Hillig adquiriu o gosto por conhecer pessoas e transformar a realidade em que vive. Nos idos dos anos 80, já teve até mesmo um bar, o Zanzi. Em uma época que as apresentações em Santa Maria consistiam apenas no clássico banquinho e violão, Clayton abriu o primeiro bar com a proposta de levar bandas de rock ao público. “Nós tivemos um problema incrível, obviamente. O barulho era horrível, a vizinhança nos odiava e tivemos que fechar rapidamente”. O Zanzi Bar durou apenas um ano, mas serviu para disseminar a ideia de incluir ruídos ensurdecedores nas noites santa-marienses.

Clayton possui três filhos: dois são de seu antigo casamento, de dezoito anos, e um de sua atual esposa, relação de três anos. Todos, é claro, recebem uma forte educação musical – e a surpresa aparece quando o professor revela que o rock não é unanimidade entre os filhos. Para Hillig, a “maior banda do mundo” são os Rolling Stones. Não esquece de incluir clássicos como Elvis, Jerry Lee Lewis e Beatles. Seu grande ídolo é Mick Jagger. “Ele tá vivo! Jovem, atuante, causa suspiros. Não é um velho, e o cara tem 68 anos”. Inspirado no ídolo, a energia com que o professor emite cada palavra é semelhante à vivacidade de Jagger.

Mas a verdadeira paixão de Hillig é uma banda surgida no final da década de 60. O Led Zeppelin foi o responsável pelo impacto em sua adolescência, levando o discurso de paz e amor mesmo depois do fervor do movimento hippie – “o maior movimento social que já houve no mundo”. É na mistura da música com a educação que a felicidade de Clayton se faz visivelmente completa – o professor ri a cada final de resposta. “Assim como eu acho que a educação entendida como ensino, pesquisa e extensão transforma o mundo, eu acho que a cultura transforma o mundo. Acho que transforma mais que as guerras. Então eu toco primeiro porque isso me diverte pra caramba e segundo porque isso é revolucionário. E depois, a música faz bem pra qualquer um nesse mundo. Já imaginou sexo sem música? Já imaginou um carnaval sem música?”. Hillig convence qualquer um com suas perguntas retóricas. Depois de um discurso tão bem articulado, fica difícil imaginar a própria vida sem música.

Repórter:

Dairan Paul – Acadêmico de Jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau.

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