Lucas Casali
“O vale é muito bonito, e com música fica mais bonito ainda.”
O vale ao qual se refere a professora Vera Vianna, do curso de Música da UFSM,
é Vale Vêneto, distrito do município de São João do Polêsine. E a música, como
tradicionalmente acontece desde 1986, é aquela com a qual toda a região é
brindada durante o Festival Internacional de Inverno. As belezas arquitetônicas
e naturais do local, aliadas às aulas e concertos de música erudita que o
festival proporciona, foram aludidas pela sua coordenadora na noite de
terça-feira (3), durante o lançamento da 29ª edição do evento.
Saudado pelo reitor Paulo Burmann como um dos maiores
eventos culturais do Rio Grande do Sul, o festival neste ano vai ocorrer de 27
de julho a 3 de agosto, paralelamente à 29ª Semana Cultural Italiana de Vale
Vêneto. O público presente no lançamento, realizado no campus de Santa Maria
(no Salão Imembuí), assistiu a uma apresentação da Orquestra de Cordas dos
Cursos de Música da UFSM, formada por alunos e professores. Na ocasião, a
orquestra tocou a Sinfonietta de
Janós Decsényi e a suíte Israel, de
Benny Wolkoff.
A possibilidade de aprender a tocar melhor seu instrumento é
o que traz a Vale Vêneto alunos de música de todo o Brasil e de países vizinhos,
bem como instrumentistas e professores de música de várias nacionalidades. Neste
ano, o Festival de Inverno terá oficinas ministradas por professores dos EUA,
Inglaterra, Itália, Argentina, Costa Rica, Alemanha, Áustria e Suíça, além de
professores de diferentes regiões brasileiras. Entre os músicos estrangeiros,
uma das presenças assíduas é a do uruguaio Milton Masciadri, responsável pela
oficina de contrabaixo e também colaborador na organização do evento. Ele
leciona nos EUA, na Universidade da Georgia, instituição parceira da UFSM na
realização do festival.
Primeira a manifestar-se durante o lançamento do Festival de
Inverno, a professora Vera Vianna mostrou entusiasmo com a quantidade de inscritos
que o evento vem recebendo deste a última segunda-feira (2), quando foram
abertas as inscrições para as cerca de 20 oficinas oferecidas. Um exemplo
citado neste sentido são os 10 inscritos para a oficina de violão, considerando-se
que nela estão abertas apenas 12 vagas. A professora também ressaltou a
colaboração da comunidade na cedência de espaços – como escola, igreja,
seminário e até mesmo residências – para a realização de oficinas e apresentações.
“O que me assusta em termos de número de inscritos é que, se
seguirmos nesse ritmo, em 10 dias nós vamos ter preenchido todas as vagas”,
informa a professora.
Se o festival traz músicos de todo o Brasil e do exterior, não
é apenas a música o que atrai a Vale Vêneto os habitantes da região central
gaúcha. As tradições cultivadas por descendentes de imigrantes e, principalmente,
a comida típica são atrativos à parte, proporcionados pela Semana Cultural
Italiana. Estas atrações fazem os santa-marienses percorrer os aproximadamente
40 km que os distanciam do vale, juntamente com o público de outros municípios
da Quarta Colônia. Na programação, destacam-se também um desfile típico e um
encontro de corais que cantam em italiano e no dialeto vêneto.
O coordenador da Semana Cultural, Luiz José Pivetta, saudou
o crescimento contínuo do público e, ao mesmo tempo, lamentou duas ausências:
do idealizador do festival, padre Clementino Marcuzzo, falecido em 2009, e do
radialista Pedrinho Sartori, divulgador da cultura italiana na região da Quarta
Colônia, o qual morreu no ano passado.
“A cada ano, os espaços estão ficando menores: limitados,
disputados e concorridos. Vemos que a Semana Cultural Italiana está limitando
os ingressos. E, no festival, as vagas são preenchidas rapidamente e são sempre
insuficientes”, destaca Pivetta.
Embora o número de visitantes cresça a cada ano, o
desenvolvimento turístico de Vale Vêneto tem sido obstruído praticamente por um
único obstáculo: a falta de um acesso asfaltado. A prefeita de São João do
Polêsine, Valserina Gassen, salientou em sua manifestação esta luta da comunidade
local, que vem se arrastando há anos. Também destacou o festival em seu aspecto
educacional, referindo-se principalmente às oficinas de musicalização para
crianças e ao curso de formação continuada em música para professores da
educação infantil.
“Para nós, esta parceria, que perdura por 29 anos, é uma
ação sólida que estamos realizando. Nesses últimos anos, mais organizados e
qualificados, estamos conseguindo oferecer mais segurança e conforto aos
professores, alunos e visitantes”, afirma a prefeita.
Ao encerrar a solenidade, o reitor Paulo Burmann falou sobre
a superação de obstáculos na organização do festival, principalmente quanto à
disponibilidade de recursos. Em referência ao discurso anterior ao seu,
informou ter encaminhado ao governador Tarso Genro a demanda de asfaltamento da
estrada de acesso a Vale Vêneto.
“O festival é um evento que supera diferenças, supera competências
e que efetivamente está enraizado na comunidade regional, se constituindo em um
dos principais eventos culturais do Rio Grande do Sul – com a característica
regional, sim, mas com uma forte característica internacional, o que é típico
de todas as ações que desenvolve o Centro de Artes e Letras”, avalia o reitor.
Durante o festival, o público terá a oportunidade de
assistir gratuitamente, todos os dias, a recitais solo, de música de câmara,
orquestra sinfônica ou orquestra de sopros. Também estão previstas
apresentações em Silveira Martins, Cachoeira do Sul e Santa Maria. Para os
músicos interessados em participar das oficinas, as inscrições podem ser
realizadas até 30 de junho. A programação completa e outras informações constam
na página www.ufsm.br/festivaldeinverno.