Em evento realizado recentemente no auditório do anexo C do Centro de Tecnologia da UFSM, o diretor do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (Ctism), Luciano Caldeira Vilanova, ressaltou em seu discurso a grandeza da unidade universitária da UFSM: “nenhuma escola técnica possui tantos laboratórios quanto o Ctism. São 32 laboratórios à disposição de vocês”. Vilanova lembrou ainda que o colégio é o maior em número de alunos matriculados na cidade de Santa Maria.
As palavras do diretor fazem referência não só à quantia, mas também à qualidade dos espaços de ensino do Ctism. O Laboratório de Pneumática, coordenado pelo professor Sérgio Adalberto Pavani, é um exemplo de sala de aprendizado onde os estudantes podem exercer na prática o que aprendem nos livros e nas aulas. São 20 bancadas pneumáticas equipadas com cilindros e componentes do fabricante que mais vende materiais didáticos desta espécie no Brasil.
E foi um representante da marca que, em visita ao laboratório, certificou o espaço como o maior do país para o ensino da pneumática. Para se ter uma ideia da dimensão do Laboratório de Pneumática do Ctism, a UFRGS tem apenas cinco bancadas à disposição dos estudantes de engenharia.
Professor do curso de Mecânica há 20 anos, Pavani deixou para trás outros 20 anos de indústria para dedicar-se à formação de profissionais para o mercado. Por 10 anos esteve na maior indústria siderúrgica das Américas e uma das maiores do mundo, presente em 14 países. Tanta experiência no chão de fábrica faz com que Pavani traga para a sala de aula todos os atalhos que garantem a completa instrução para os estudantes.
Sendo assim, ao longo dos anos no Ctism, participou da construção do laboratório para as aulas de pneumática. No ano de 1996, quando começou a lecionar, contava apenas com uma bancada didática. “Em 2005 nós participamos de um projeto que nos possibilitou comprar vários equipamentos pneumáticos e hidráulicos no valor de um milhão de euros”, lembra Pavani. A partir daí foram gerados dois laboratórios completos para o ensino de pneumática básica e avançada, e hidráulica, além de um laboratório de sensores, que faz parte do curso de Automação Industrial. Estes laboratórios, no entanto, atendem praticamente todos os cursos oferecidos pelo Colégio.
Um espaço para inovação
O estudante Lucas Cereta da Silva, de 17 anos, formou-se no curso de Mecânica Integrado em 2014 e agora é estagiário no Laboratório de Pneumática. O projeto do estagiário, sob a orientação do professor Pavani, é ousado: uma bicicleta pneumática. A grosso modo, é um veículo movido por ar comprimido, com um cilindro encaixado no quadro da bike, por uma extensão localizada na posição do banco. Os pedais serão acionados automaticamente após a ordem do piloto, com uma força aproximada de 150 quilos. “O reservatório do ar comprimido será feito com garrafas pet, e nosso objetivo é ir do Ctism até a reitoria com a bicicleta” – afirma o estagiário. O projeto ainda não está concluído, pois necessita de algumas peças que passarão pela usinagem.
E logo percebe-se que o laboratório mantém outros projetos ricos em inovação. Utilizando sistemas pneumáticos simples, o professor Pavani já criou um banco que se eleva a mais de dois metros de altura com uma força que suporta até 300 quilos, e acaba sendo uma diversão extra para os alunos que frequentam as aulas de pneumática. Além desse equipamento, outro invento também sacia os anseios lúdicos dos estudantes: uma espécie de plataforma movida a ar comprimido e comandada por controles que se assemelham aos de videogames, balança em diversas inclinações com o objetivo de conduzir uma bolinha de gude através de um labirinto.
Dessa forma, os estudantes vão aprendendo como desenvolver aplicações práticas dos conhecimentos adquiridos no próprio laboratório, e que acabam se transformando em equipamentos para entretenimento ou até mesmo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. “Alguns projetos que nós já desenvolvemos servem perfeitamente para a área da saúde, na recuperação de doentes neurológicos”, afirma Pavani, referindo-se também ao jogo do labirinto (veja como funciona no vídeo abaixo). O professor ainda revela que tem o “sonho de trabalhar criando uma área de apoio para os pequenos empresários, com sistemas pneumáticos, ajudando na economia da cidade e ajudando a espalhar esta potencialidade contida no Ctism”.
Oportunidade para todos
Na rotina do laboratório de pneumática, uma mulher se destaca na manutenção das bancadas e na assistência ao professor Pavani. Clarice Maciel Ceni é oriunda do curso de Eletromecânica Subsequente Proeja e há três meses estagia no laboratório. Em meio a furadeiras, chaves e componentes de todo tipo, a mãe de três filhos enfrenta uma rotina exaustiva para conciliar a vida de estagiária e estudante. Responsável pela parte elétrica das bancadas didáticas, instala fontes, troca botões e conectores. Nas terças, quartas e quintas, entra no Ctism às 8h e vai para casa depois das 23h. E nem por isso encara o cotidiano com esmorecimento. “Aprendi aqui em três meses coisas que não tinha aprendido em dois anos de curso”, comemora Clarisse.
A estagiária, assim como muitos estudantes da modalidade Proeja, busca qualificação para reingressar no mundo do trabalho. Reclama, no entanto, do preconceito sofrido simplesmente por ser do sexo feminino: “a discriminação com a mulher trabalhando na metalurgia é muito grande. Mesmo apresentando o diploma é muito difícil ser aceita. No mural de oportunidades, por exemplo, é comum ver empresas procurando pessoas do sexo masculino. É raro chegar no mural e ver que há vagas para ambos os sexos”.
Apesar deste entrave, Clarisse espera concluir o estágio para conseguir o direito ao registro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) e começar logo uma nova carreira profissional. Para isto conta com a ajuda do orientador de seu estágio: “o professor Pavani nunca deixa que pensemos que não somos capazes. Fica sempre tentando extrair o que há de melhor em nós. Por isso acredito no meu esforço e sigo em frente”, fala com entusiasmo.
Projetos inovadores, estudantes aplicados e aulas divertidas. Depois de ver do que é constituído o maior laboratório de pneumática do país, percebe-se que aquilo que o torna destaque não é só o número de bancadas ou quantidade de cilindros, mas também o amor pela construção de um futuro melhor.
Confira vídeo do Laboratório de Pneumática:
Texto e fotos: Assessoria de Comunicação do Ctism

