Conhecida como “Cidade Universitária”, devido à vasta concentração de estudantes, Santa Maria abriga prédios históricos, sítios paleontológicos, unidades militares e, entre as instituições educacionais, uma universidade que há 57 anos contribui para resgatar e manter viva a história da cidade, a UFSM. Às vésperas de completar 159 anos de emancipação política, no dia 17 de maio, o município ainda inspira professores e alunos da universidade na produção de livros e publicações que têm por finalidade relatar o passado de uma cidade que foi impulsionada, sobretudo, pelo polo ferroviário.
A obra “Trens na memória: num longo tempo, entre trajetórias público-privadas, fatos da história ferroviária brasileira e sul-rio-grandense”, do professor João Rodolpho Flôres, publicada na última quinta-feira (11) pela Editora UFSM, é o mais recente lançamento que retrata uma identidade que Santa Maria mantém até os dias de hoje: a atividade ferroviária.
Impulsionado pela falta de materiais concretos na área, João Rodolpho buscou, a partir do doutorado, relatar o movimento ferroviário e o que a atividade representou para o Rio Grande do Sul em termos de desenvolvimento. De acordo com professor, “grande parte da herança da história ferroviária nós estamos vivenciando hoje, que é o setor de comércio, a indústria, os serviços e o setor educacional da cidade. A ferrovia trouxe para Santa Maria pessoas para estudar nas escolas, que aqui se estabeleceram e disso decorreu o surgimento da própria UFSM”. A obra do professor integra o quarto livro dos materiais originários de sua tese. Ele adianta que quem ler o livro vai perceber muitas informações que nunca pensou em imaginar sobre o passado da cidade.
Localizada no “Coração do Rio Grande”, Santa Maria tem a característica de cativar visitantes e moradores que já habitaram a cidade. As memórias dessas passagens pelo município podem sem reavivadas e descobertas no livro “Santa Maria: relatos e impressões de viagem”, do professor José Newton Cardoso Marchiori, que reúne crônicas e textos de viajantes. Organizadas cronologicamente, as narrativas abordam as diferentes origens que permeiam a cidade e são apoiadas em relatos e ilustrações. Um livro ao mesmo tempo histórico e literário, que proporciona aos leitores a visão de um tempo longínquo, que retrata o início da chegada dos povoadores, datado no final do século XVIII, até meados do anos 1900.
Dissertações também enfocam a história
Durante a Ditadura Militar (1964-1985), sindicatos, trabalhadores, jovens, entre outros, viram a necessidade de formar uma organização unificada e engajada para defender seus direitos, sobretudo os civis, que rapidamente eram suprimidos. Frente a esse contexto, os estudantes também somaram-se à mobilização, com o desafio de reestruturar o movimento estudantil, fragilizado pela cassação de lideranças e entidades de estudantes.
Com o objetivo de investigar a ação e organização do movimento estudantil em Santa Maria, entre outros, o estudante Mateus da Fonseca Capssa apresentou em seu mestrado a dissertação “Movimento estudantil e ditadura civil-militar em Santa Maria (1964-1968)”. Na pesquisa, o estudante discorreu sobre a atuação de grupos críticos e simpatizantes à Ditadura Militar, analisou as disputas eleitorais na União Santamariense dos Estudantes (USE) e no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSM e também questionou afirmações da imprensa e de parte da historiografia que permearam o movimento estudantil.
A implantação do Distrito Industrial de Santa Maria também foi tema de dissertação de mestrado de Bruna Lima, da pós-graduação do curso de História da UFSM. Em sua pesquisa “O Distrito Industrial de Santa Maria – RS: instalação e novas perspectivas”, a estudante procurou compreender como ocorreu o processo de implementação, diante do contexto do ano de 1960, e objetivou demarcar os principais problemas apresentados pelo Distrito Industrial. Para a produção desse material, Bruna utilizou, além das referências bibliográficas, documentos como o anteprojeto e o estudo de viabilidade do Distrito Industrial de Santa Maria, o Plano Diretor da cidade, os relatórios das comissões que tinham objetivo de formular subsídios para efetivação dos Distritos Industriais no Rio Grande do Sul, além de fontes orais e outros materiais que foram complementares à pesquisa.
Exposição fotográfica
Na busca por fotografias que exemplifiquem o patrimônio histórico de Santa Maria, o Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria (AHMSM) organizou uma programação para comemorar o aniversário da cidade. Dentre as atividades está a exposição “Santa Maria Antiga”, que está aberta à visitação até o dia 31 de maio, de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 12h e das 13h às 16h30min. A exibição reúne fotografias da evolução histórica, política, social, urbana e arquitetônica da cidade, entre os anos 1890 a 1970, e está aberta ao público em geral.
O AHMSM está localizado na Rua Appel, nº 900, no Centro Integrado de Cultura Evandro Behr. Mais informações no site.
Texto e foto: Gabrielle Ineu Coradini, acadêmica de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti