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ProÁfrica propõe a erradicação da fome por meio da agricultura familiar



Solo árido da Argélia é objeto de estudo de pesquisadores que querem diminuir a fome a partir da agricultura familiar

A fome atinge ao menos 236 milhões de pessoas
no continente africano, conforme dados da FAO (Organização para a Alimentação e
Agricultura da ONU – Organização das Nações Unidas). A estimativa é de que 925
milhões de pessoas sofram com a privação de alimentos em todo o mundo. Em meio a essa catástrofe humana, as
universidades se inserem como fonte de estudos e pesquisas que tentam combater
essa realidade, ainda que minimamente devido aos limites de seu alcance.

Na UFSM, dentro da perspectiva de combate à fome, surgiu o Programa ProÁfrica, cooperação entre Brasil, Argélia
e Moçambique em 2009, a
partir edital do CNPq. Foram lançados três editais e o Núcleo de Estudos em Agricultura Familiar (NESAF) obteve
aprovação do projeto Pró-África em
todos. Por isso, a iniciativa se encontra em sua
terceira edição desde março de 2015 e tem como
objetivo utilizar a agricultura familiar para erradicar a fome na África.

Na Argélia, a instituição executora do projeto é a Université de
Mostaganem, que tem infraestrutura e número de estudantes similares à UFSM. Em
Moçambique, são a Universidade Eduardo Mondlane e o Instituto de Investigação
Agrária.

Os atuais coordenadores da iniciativa são os professor Danilo Reihnheimmer, da UFSM, o professor
Mohammed Benkhelifa, da Universitè de Mostaganem, e Magalhães Miguel do Instituto de Investigação Agrária.

A agricultura familiar como combate à fome

A
Argélia importa mais de 80% dos alimentos em decorrência de ser um país de
clima árido e semi-árido e também por ter sua economia baseada unicamente no
petróleo e no gás. No entanto, a costa mediterrânea é cultivada há milhares de
ano, como conta o coordenador brasileiro, professor Danilo Reihnheimmer. Hoje as áreas são muito
degradadas e as propriedades são de base familiar. Há forte erosão hídrica e
eólica e, além disso, a existência de grandes áreas salinizadas – cujos solos se tornaram inférteis devido ao
excessivo acúmulo de sais minerais. Estas limitações agravam a
possibilidade de plantio e colheita na África. Com o projeto, os professores da
UFSM auxiliam os alunos da Argélia e de Moçambique a diagnosticarem de modo
mais preciso os graus de degradação dos solos, além de oferecer alternativas de
uso e manejo do mesmo para diminuir a degradação e aumentar a produtividade em
seus países. Quando os integrantes da
equipe viajam para esses lugares, procuram visitar as associações ligadas à
agricultura, bem como a casa dos agricultores. Dessa forma, há o mapeamento e a
verificação de demandas que precisam ser atendidas. “A partir dessas visitas
sabemos mais da realidade dessas pessoas e como é feita a agricultura nessas
regiões, assim como os professores de lá tomam conhecimento de como
desenvolvemos o processo aqui. Há uma troca de experiências e saberes”, pontua
o professor Ricardo Dalmolin, do Centro de Ciências Rurais (CCR), que também integra
a equipe.

Segundo
Dalmolin, o Brasil, hoje, é detentor de uma tecnologia que contempla o pequeno
e o grande agricultor. Essa tecnologia gerada no Brasil serve de modelo aos
demais países, principalmente os africanos. Estes que recebem muitas
informações de pesquisas brasileiras. Nosso solo e clima são semelhantes,
porém, temos a agricultura mais desenvolvida pelo fato de investirmos há
bastante tempo nesse aspecto. É nesse momento que a ciência do solo, área em
que a equipe atua, mostra-se tão importante: é a partir dela que são estudadas
as características do solo, sua classificação e suas variáveis. “Em termos de agricultura
familiar, é a mesma situação, pois temos a tecnologia para o pequeno
agricultor, o maior produtor de alimentos. 70% dos alimentos consumidos no
Brasil provêm da agricultura familiar”, explica Dalmolin. Benkhelifa
conta que a necessidade de comida na Argélia é muito maior do que a
produção de alimentos e que o solo e o clima agravam a possibilidade de
produção agrícola na região. Contudo, isso não é impossível. “A grande
mobilidade de professores entre o Brasil e a Argélia, além dos estudos desenvolvidos,
contribuem muito para conseguirmos realizar uma agricultura familiar de
qualidade. Tentamos levar isso para os demais países”, comenta. O
coordenador argelino do Pró-África acrescenta
que outro bom resultado da parceria é a oferta de cursos ministrados
pelos docentes brasileiros aos acadêmicos das universidades envolvidas. Um
deles se chamava “Química do Solo”, com o professor Dalmolin, enquanto o outro,
de nome “Transferência Geoquímica no Solo”, com a professora Maria Alice Santana,
do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), com o uso do software PHREEQC, modelo geoquímico para análise de reações na água.
Também foram oferecidos cursos de políticas públicas para o fortalecimento da
agricultura familiar.

A
compreensão do NESAF é que a erradicação da fome de um país somente será possível com o
fortalecimento da agricultura familiar. Dalmolin avalia que os grandes
proprietários e empresários rurais não costumam ter interesse em produzir
alimentos aos mais pobres. “Há alimentos em excesso no mundo, porém, ainda há
pessoas no interior de Moçambique que morrem de fome. Isso não é diferente aqui
no Brasil, no Rio Grande do Sul e, inclusive, em Santa Maria. Por isso,
políticas públicas direcionadas à agricultura familiar, como aquelas
implementadas no Brasil de 2002
a 2015, são referências para o mundo todo e nosso
projeto está dentro dessa lógica”, argumenta.

O
NESAF começou a ser gestado em 2001, em discussões de um grupo de professores e
alunos do CCR sobre a necessidade de aproximar a UFSM das entidades ligadas à
agricultura familiar. A interação do NESAF com os agricultores familiares da
região ocorre também por meio das entidades parceiras ligadas à agricultura
familiar, tanto aquelas que foram co-fundadoras do núcleo quanto outras que
surgiram mais tarde.

O trabalho
pode ser interrompido

Professor Mohammed Benkhelifa, da Universitè de Mostaganem, permanece até esta quarta-feira (17) no Brasil / Foto: Bruno Steians

O professor Benkhelifa, da cidade de
Mostaganem, Argélia, chegou
ao Brasil no dia 5 deste mês e permanecerá até o aniversário do município de
Santa Maria (17). Com sua presença, a equipe que trabalha com a Pró-África 3
pretende concluir três importantes itens: a conclusão do projeto, a oferta de
minicurso na Argélia e a co-tutela para dupla titulação Brasil-Argélia.

O primeiro é o encerramento desta fase do projeto, prevista para 30 de
outubro, e a conclusão do relatório. Mais importante que isso é dar
continuidade à proposta iniciada em 2009. Entretanto, para que o ProÁfrica 4
ocorra, o governo brasileiro precisa lançar novos editais.

O segundo item é a oferta de minicurso, na Argélia, em setembro, com os professores
José Miguel Reicher, do NESAF, e o professor Tales Tiecher, da UFRGS. O
minicurso se baseará em um software chamado Hydrus.
“Dentre as funções do programa, pode-se realizar a simulação de movimento de
água e o comportamento de nutrientes no solo. Não temos muitos dados
disponíveis. Então, fazemos simulações a partir de informações cartográficas.
Assim, não erramos naquilo que vamos aplicar ao solo”, avalia o professor
Dalmolin. A proposta visa auxiliar os pesquisadores argelinos na compreensão de
como ocorre o fluxo de sal no solo e como prever cenários futuros, visto
que muitos teses são feitas em áreas salinizadas.

O último item, a ser concluído com a presença de Benkhelifa no Brasil, é a proposta de uma co-tutela de dupla
titulação entre o doutorado de Ciências do Solo da UFSM e de Gestão Sustentável
do Meio Ambiente da Argélia. Para tal, a equipe já teve uma reunião com a
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPPG),
com a Secretaria de Apoio Internacional (SAI)
e com o reitor e o vice-reitor. Já foi elaborada minuta de co-tutela, que será
submetida à apreciação ainda nesta semana. Se isso acontecer, os alunos de
pós-graduação poderão participar do projeto de forma direta. Haverá, assim,
acadêmicos da Argélia vindo para o Brasil e vice-versa.

Texto: Bruno Steians,
acadêmico de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias

Edição: Maurício Dias

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