Nesta segunda-feira (5), prosseguimos a série de entrevistas com os reitoráveis. Apresentadas
em duas etapas, a primeira com os vices e a segunda com os candidatos a
reitor(a), as entrevistas tiveram as mesmas
perguntas e a ordem definida por sorteio.
O entrevistado de hoje é o professor Dalvan José Reinert, do Curso de Agronomia, do Centro de Ciências Rurais (CCR). Dalvan concorre ao cargo de reitor
pela Chapa 2, Juntos por um novo amanhã, que tem como vice o professor Pedro Brum Santos, do Centro de Artes e Letras (CAL)
Agência de Notícias – Qual o perfil adequado para o(a) reitor(a) da
UFSM, e como sua trajetória está adequada ao desempenho desta função?
Dalvan Reinert – O reitor de uma universidade como a UFSM,
patrimônio nacional, instituição com campi em quatro municípios do Rio Grande
do Sul, com uma comunidade de mais de 30 mil integrantes, responsável por
formação e titulação de milhares de pessoas por ano, responsável pela produção
e difusão de muito conhecimento, pela relação com a sociedade no âmbito de seus
diferentes campi e pelo papel de inclusão, deve ter perfil compatível com citada
empreitada e que dê a evidência adequada a seu quadro qualificado de pessoas
(servidores) que fizeram, fazem e farão a UFSM. Certamente, o gestor máximo
deve ter percorrido os degraus da história de sua universidade e, além disso,
entender, participar, saber ouvir, ter planos claros, fazer e ter “percorrido”
os caminhos que fazem o dia a dia da instituição, cuja nobre missão está
pautada em ensino, pesquisa, extensão, inclusão e inovação. Também, não deve,
no exercício do cargo, defender ideologias e partidos políticos. Deve, sim,
seguir a política universitária para e com todos – Juntos. Nossa trajetória na
UFSM começa por ter alcançado as titulações necessárias (mestrado, doutorado, pós-doutorado), que, desde 1978, qualificam-nos
como professor. De outra parte, nunca nos furtamos dos encargos
administrativos, de ensino, pesquisa e extensão. Tenho a feliz experiência de
conciliar em meu perfil a capacidade de diálogo, tolerância, e de agregar
pessoas. Entendo que esses são requisitos fundamentais ao gestor máximo da
UFSM.
Agência de Notícias – A UFSM tem quatro campi físicos (Santa Maria,
Frederico Westphalen, Palmeira das Missões e Cachoeira do Sul). Após um período
de expansão, as universidades federais passam por um momento de redução de
investimentos. Como sua gestão pretende enfrentar esta situação, garantindo a
manutenção da estrutura e dos recursos humanos necessários?
Dalvan Reinert – A expansão da UFSM foi parte de um projeto nacional
de expansão do ensino superior público e gratuito. A UFSM, como outras IFES,
possui orçamento anual de investimento e custeio (manutenção) como conseqüência
de sua matriz global (estudantes, servidores, área física, etc.), cujos
componentes são submetidos ao MEC, que por sua vez tem sua parte no orçamento
nacional aprovado pela LOA. O crescimento havido na sede e nos campi da UFSM foi criado e implementado com verbas de projeto da expansão e, posteriormente, nosso orçamento
recebeu agregação decorrente de tal projeto. A
expansão do campus de Cachoeira do Sul, por exemplo, está em desenvolvimento,
de maneira que iremos envidar esforços significativos (unindo UFSM e Sociedade)
para realizarmos sua completa execução (recursos financeiros e de pessoal). O
mesmo vale para os complementos necessários nos demais campi. A conjuntura
atual nos indica que teremos que fazer gestão financeira enxuta no presente e
olharmos para um futuro com orçamentos sem muita expansão. Nos 57 anos da UFSM,
desde 1960, experimentamos vários períodos de orçamentos apertados e nossa
universidade soube criar alternativas e manter sua missão no horizonte,
formando muitas pessoas e se construindo como uma instituição de destaque
nacional. Assim, juntos, continuaremos construindo a UFSM.
Agência de Notícias – O perfil do aluno da UFSM tem mudado, com a
consolidação do acesso aos cotistas provenientes de escolas públicas, portadores
de deficiência, indígenas, afrodescendentes e refugiados. Qual sua política
para o sistema de cotas e para a assistência estudantil a este público?
Dalvan Reinert – A UFSM, desde 2008, implantou o programa de Ações
Afirmativas e percebe-se com muita clareza, hoje, a mudança de panorama nas
nossas salas de aula, entre os estudantes, bem como, no quadro de pessoal da instituição,
onde, a inclusão de cidadãos negros, pardos e índios já se dá em números significativos.
Com a Lei de Cotas (Lei 12.7111/2012), o MEC instituiu a bolsa permanência como
estímulo de permanência e redução da evasão. A UFSM, desde sua criação, possui
programa de assistência estudantil referência entre as IFES, com investimento e
custeio orçamentário próprio até o surgimento do PNAES, que se somou ao
orçamento já existente. Nossas propostas de ação na política de assistência
estudantil estão colocadas no nosso site, mas a de melhorias de moradia (CEUs),
restaurantes (RU), bolsas, cuidados de saúde e bem-estar, estarão no horizonte
do investimento. Esforço e relacionamento com as direções (Casa e DCE, de modo
particular) serão constantemente reafirmados e objetos de trabalho. Temos
convicção de que o impacto da política de assistência é muito positivo como
atração e manutenção de estudantes na UFSM.
Agência de Notícias – O sistema de ponto eletrônico para os servidores
técnico-administrativos em educação foi um dos grandes debates na eleição
anterior. Qual sua posição sobre o atual sistema? Há outra alternativa para o
controle da carga horária dos técnico-administrativos?
Dalvan Reinert – É sabido que, ao longo de alguns anos, os reitores
procuraram postergar ao máximo a adoção de controles de frequência eletrônica
aos seus servidores. O decreto obrigando o controle eletrônico dos TAEs e
desobrigando o de professores data de 1996 (Decreto nº 1.867/1996). Sucessivas
gestões estabeleceram os seus contrapontos, em relação às complexidades do
trabalho universitário, tanto de docentes quanto dos TAEs. Mas, fatos em
sequência, com transgressões em relação ao cumprimento de suas tarefas e
jornadas de trabalho, levadas ao conhecimento do Ministério Público Federal
(ação civil pública), e deste para esfera judicial (sentença judicial), acabou
por decisão processual impingindo à UFSM a adoção de tal medida. O que se falou
na eleição anterior nós lembramos, e o que foi realizado nos anos que se
sucederam, pelo atual reitor, são fatos. O decreto tem força de lei e não
respeitá-lo gera improbidade administrativa, indicando que para mudanças de
alternativa há necessidade de mudança na legislação ou de entendimento judicial.
Agência de Notícias – Qual a sua avaliação sobre a influência e a
relação da UFSM com a comunidade de Santa Maria e para o desenvolvimento deste
e dos demais municípios em que atua? A crítica histórica de que a UFSM é uma
instituição fechada em seus muros é pertinente?
Dalvan Reinert – A UFSM foi a primeira universidade federal fundada
fora das capitais, criada por idealizadores, liderados pelo Dr. José Mariano da
Rocha Filho. O propósito foi claro, interiorizar o ensino superior e, com isso,
trazer o conhecimento para sociedade próxima de sua área de influência. Desde
então, se sabe e se reconhece o papel da universidade em nossa comunidade – na
formação de pessoas, prestação de serviços (somente o HUSM cobre 46 municípios),
atração de investimento, crescimento de prestadores de serviço. Da fundação da
UFSM aos dias atuais, a conjuntura local e global mudou muito e, com isso, a
percepção da presença da universidade na comunidade local e regional também
está em contínua mudança. Mesmo assim, nos dias de hoje, há claro sentimento de
que há grande influência da UFSM na comunidade local e regional. Porém, também
há clara percepção de que há enorme potencial de se aumentar a presença da UFSM
na comunidade. O grande benefício dessa relação está ligado à necessidade de
interação de projetos que envolvam ensino, pesquisa e extensão (especialmente
envolvendo inovação) onde a UFSM emerge num campo real de formação e a
sociedade se beneficia diretamente de seus resultados. Há muito espaço para que
isso aconteça – queremos criar e ampliar canais e oportunidades da relação com
nossa sociedade.