Criado com o objetivo de unificar e democratizar o acesso ao
ensino superior, o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) cresceu e se consolidou
como principal forma de ingresso às universidades federais nos últimos anos. A
transição do tradicional vestibular para o SiSU trouxe um desafio para a gestão
das instituições de ensino: como preencher, de forma rápida e eficiente,
conforme as cotas estabelecidas em lei, o maior número possível de vagas. Na
UFSM, a questão está, desde 2014, a cargo da equipe coordenada pelo professor
Jerônimo Siqueira Tybusch, responsável pela Coordenadoria de Planejamento
Acadêmico (Copa/Prograd) e traz números animadores. O processo de chamada oral
com migração de vagas, implementado na Universidade, garantiu, neste segundo
semestre, uma taxa de 92% de ocupação das vagas nos cursos de graduação, uma
das mais altas entre as universidades federais do país.
“O grande desafio nosso foi organizar uma comissão que fosse
capaz de fazer de forma ágil o trabalho com o ingresso relacionado às ações
afirmativas dentro da Universidade”, relembra o professor Jerônimo. A partir
disso, foi criada a Comissão de Seleção e Ingresso, com suas subcomissões,
responsáveis pelas análises necessárias para o preenchimento das vagas. As
subcomissões trabalham na análise dos atestados médicos relativos às pessoas
com deficiência; na conferência da documentação socioeconômica, para alunos com
renda familiar igual ou inferior a 1,5 salários mínimos; na realização das
entrevistas com alunos autodeclarados pretos e pardos; na verificação
documental obrigatória, como histórico escolar, certificados de conclusão e de
identidade, além da triagem interna, separando a documentação e fazendo o
registro no sistema já durante a chamada, para que o aluno saia habilitado e
com sua vaga confirmada.
Após a organização dessa estrutura, a equipe se voltou para o
preenchimento das vagas e a melhor forma de efetivar o ingresso. O primeiro
passo foi a informatização do processo, em parceria com o Centro de
Processamento de Dados (CPD). Os documentos entregues são colocados em
envelopes, que recebem um código de barras, o que permite que seja feita a
leitura durante a passagem pelas subcomissões e o registro direto no sistema. A
informatização, nesse caso, agiliza o processo e permite que seja concluído já
durante a chamada.
O segundo passo diz respeito à confirmação da vaga em si. Após
a divulgação do listão, os candidatos devem comparecer com os respectivos
documentos. No caso das vagas de ampla concorrência, a confirmação pode ser feita
por procuração. Os candidatos inscritos para as cotas devem estar presentes
para as entrevistas e entrega de documentos específicos. Segundo Jerônimo, esse
primeiro processo não preenche todas as vagas. No primeiro semestre letivo, a
média de preenchimento fica entre 40% e 50% e, no segundo semestre, entre 20% e
30%.
Considerando-se esses números, vem a importância da chamada
oral. “No vestibular, você tinha somente uma lista de suplentes. E essa é uma
vantagem muito grande do SiSU: você tem uma lista muito maior. A lista de
espera é imensa”, destaca o professor.
Todos os candidatos que constam na lista de espera são
chamados a comparecer na Universidade. Após registrarem a presença, o sistema
os classifica de acordo com a nota e eles começam a ser chamados oralmente. As
subcomissões trabalham simultaneamente durante o processo, o que permite já
validar tanto as vagas de ampla concorrência, quanto as vagas reservadas às
cotas.
Na primeira chamada oral, Jerônimo destaca o trabalho de
migração de vagas dentro das cotas, conforme previsto em lei, o que otimiza o
preenchimento. “Por exemplo, se há três pessoas e duas vagas na cota L9, e duas
vagas e uma pessoa na cota L10, então essa vaga migra. Você pode chamar mais em
outra cota. Isso é feito na hora”, comenta. Já a segunda chamada oral é pela
classificação geral.
Após esse processo, chega-se ao preenchimento final das vagas.
No primeiro semestre, a UFSM tem registrado média de 96% de ocupação e, no
segundo, de 90% a 92%. Os números se destacam frente aos 50% e 30%,
respectivamente, com a primeira entrega de documentos após a divulgação do
listão.
A estrutura montada na UFSM, de chamada oral e com a migração
de vagas acontecendo na hora, foi apresentada recentemente no Fórum Nacional de
Acesso ao Ensino Superior e tem servido de exemplo para outras instituições.
Cerca de 100 pessoas atuam no processo, entre servidores e bolsistas, com a
utilização de 35 computadores e cinco salas para as subcomissões. A estrutura é
móvel e percorre todos os campi da Universidade.
A quebra do mito
Com a implementação do SiSU, muito se falou sobre a
Universidade perder seu caráter de receber estudantes da região, favorecendo
candidatos de fora do Estado frente aos jovens daqui. Analisando os números do
processo atual, desmitificamos essa informação. Cerca de 90% dos ingressantes
na UFSM são do Rio Grande do Sul. Desses, 54% são de Santa Maria e Região.
“Quebra com esse mito de que as vagas são dadas para fora, justamente porque o
sistema de chamada oral faz com que eles participem”, avalia o professor
Jerônimo.
Próximos passos
Além das melhorias no processo de ingresso já conquistadas nos
últimos anos, a Universidade segue trabalhando em novas frentes. Uma delas é o
novo prédio da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e do Departamento de
Registro e Controle Acadêmico (Derca), que contará com um auditório próprio,
onde serão realizadas as chamadas orais no campus sede, não havendo mais necessidade de deslocamento entre os
prédios para a chamada.
Para Cachoeira do Sul, Frederico Westphalen e Palmeira das
Missões, está prevista uma capacitação de equipes locais neste ano. Sob a
supervisão do professor Jerônimo, as equipes poderão atender aos seus próprios
campi, sem necessidade de deslocar pessoal de Santa Maria. A atuação deve ter
início já no primeiro semestre de 2018.
Outra mudança prevista para o começo do ano que vem é a
eliminação do papel durante o processo, com apoio do CPD e do Departamento de
Arquivo Geral (DAG). A ideia é que os candidatos apresentem os documentos
originais, que serão escaneados ou fotografados, e devolvidos ao final da
chamada. Com isso, economiza-se também espaço físico para arquivo, uma
tendência na administração pública.
“Esses processos precisam ser aprimorados dentro da
instituição e a gente busca isso. Não é questão de burocracia. Pelo contrário,
é questão de que os nossos fluxos, a nossa gestão precisa sempre ser
aprimorada. Se tu tens um processo mais ágil, mais eficiente e mais seguro, tu
traz um benefício grande também para a administração pública”, conclui
Jerônimo.
Texto: João Ricardo
Gazzaneo
Fotos: Gabriela Pagel e Taisa Medeiros, arquivo