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Professor do Departamento de Ciência Sociais lança livro no próximo dia 28



Ministrante de palestras sobre temas como ética, política e pós-modernidade, o professor Dejalma Cremonese, do Departamento de Ciência Sociais na UFSM, se prepara para o lançamento de mais um livro em sua carreira. Intitulado “Ética e felicidade: lições da filosofia antiga para uma vida boa”, o livro aborda os temas da ética e da felicidade sob a perspectiva da argumentação filosófica. Além dessas temáticas, Dejalma também possui experiências nas áreas de Ciência Humanas e Sociais, com ênfase em Filosofia e Teoria Políticas.

O livro será lançado no dia 28 de outubro, na Cesma, a partir das 10h.

Confira a entrevista realizada com o professor Dejalma Cremonese:

No seu livro, o senhor transita entre autores da mitologia e da filosofia antiga, como Sócrates, Platão e Aristóteles, até os autores mais contemporâneos, como Jean-Paul Vernart e Joseph Campbell, para trazer lições de uma vida boa e tranquila. Quais seriam essas lições da filosofia como modo de vida? Elas são seguidas atualmente?

Dejalma Cremonese: Na verdade este trabalho é fruto de uma investigação dos últimos seis anos da minha vida acadêmica. Sempre tive curiosidade de adentrar no mundo da mitologia e da filosofia grega da Antiguidade. Minha formação toda ela foi na área das humanas: graduação e mestrado em Filosofia. Depois transitei pelas Ciências Sociais, quando fiz o doutorado em Ciência Política. Nos últimos anos me voltei um pouco na pesquisa da Filosofia clássica, inspirado na leitura de Pierre Hadot, um filósofo e filólogo francês contemporâneo de Michel Foucault, que entende a filosofia antiga como um modo de vida, um exercício espiritual. Hadot percebe a coerência dos filósofos clássicos na forma de pensar e viver. Há um esforço de viver filosoficamente, enquanto que a filosofia moderna e contemporânea, sem fazer nenhum juízo de valor, é bem mais acadêmica, sistemática e abstrata. Talvez sejamos, hoje, mais professores de filosofia do que filósofos propriamente ditos. Em um mundo em que apresenta uma série de mudanças, onde os paradigmas passam por diferentes crises, é pertinente buscar na filosofia clássica os ensinamentos para uma vida mais reflexiva, boa e tranquila. Para sermos mais felizes é preciso viver uma vida mais frugal, moderada, ética, reflexiva e eudaimônica, ouvindo a voz interior. Essas são algumas lições que podemos aprender dos pensadores antigos e comentadores contemporâneos, como Campbell e Vernant.

Qual a ligação entre a ética e a felicidade e quais os caminhos que elas podem apontar para uma vida mais feliz?

D. C.: Há certa dificuldade em traduzir a palavra “ética”, mas podemos afirmar que ela é de origem grega (ethos) e, no campo filosófico, pode ser traduzida pelas ideias de “lugar”, “residência”, “ambiente” e, por extensão, também como “caráter”, “distinção”, “modo” e “natureza”. A ética pode ser tratada como fundamento para uma vida boa, mais feliz, portanto. Quanto mais éticas forem as nossas ações, mais sentido damos à nossa existência. A partir de Aristóteles entendemos a ética como a formação do caráter (ethos) da pessoa, que requer, igualmente, boas leis e bons defensores dessas mesmas leis. Dessa maneira entendemos a ética como valores universais que são regidos por regras capazes de nortear a conduta do ser humano. A ética sempre tem um fim em si mesmo: fazer com que a comunidade humana possa conviver em harmonia e ser mais feliz.

Existe algum país que possa servir de exemplo por apresentar uma vida de acordo com os ensinamentos da filosofia?

D. C.: Não creio que haja um país em especial que coloque os ensinamentos filosóficos como parâmetro para uma vida feliz. Talvez o Butão seja um exemplo que não mede sua riqueza pelo aspecto material e econômico – PIB (Produto Interno Bruto), mas mensura o bem-estar de seu povo pelo PIF (Produto Interno de Felicidade). Me parece um belo exemplo de comportamento e vivência. O Estado deve apoiar o estudo sobre os pensadores e os valores que a filosofia traz consigo. Filosofia não tem um fim pragmático, nem instrumental. Conto no livro que durante as minhas aulas, alguns alunos já fizeram a seguinte pergunta: “Para queserve a filosofia?” Respondo em tom de brincadeira, mas com um sentido reflexivo, da seguinte forma: Se ela não servir para nada já está servindo para alguma coisa. Parafraseando Aristóteles, a filosofia não tem utilidade, ela está acima do mero conhecimento técnico. A filosofia é conhecimento puro. Mais brilhante é o argumento do filósofo estoico Sêneca: “[…] a filosofia se ocupa não no adestramento das mãos, mas em instruir o espírito.

O senhor acha que, antigamente, as pessoas eram mais felizes?

D. C.:. Sim, eram felizes do jeito deles. Bem diferente do entendimento que nós temos de felicidade em nossos dias. Através da filosofia eles buscavam viver uma vida simples, harmônica e serena. Eles chamavam de “ataraxia”, serenidade de espírito. Cultuavam a educação para a harmonia do corpo e da alma – a verdadeira paideia. Afirmo no livro que os gregos partiam da ideia do universo cósmico ordenado e finito. Todas as coisas teriam um lugar natural, com finalidades próprias. Para viver bem dever-se-ia viver no lugar certo, fazendo a coisa certa, “achar o seu lugar natural” para se realizar e ser feliz, o que eles chamavam de “eudaimonia”: uma concepção de que a felicidade é a finalidade da vida – vida soberana, vida que não precisa de outra para se justificar. Felicidade para os antigos advinha de uma disciplina do corpo e da alma. Talvez o que chamamos de felicidade hoje (consumo, viagens, aparecer em redes sociais) não deixam de ser apenas sensações localizadas de prazer. Felicidade para os gregos antigos é algo constante e duradouro, pois, como diz Aristóteles: “porquanto uma andorinha não faz verão, nem um dia tampouco; e, da mesma forma, um dia ou um momento não faz um homem feliz e virtuoso”. Assim, o homem feliz, ele o será pela vida inteira.

Qual o seu pensamento a respeito das redes sociais? Elas atrapalham os seres humanos na busca por essa vida mais tranquila, serena e feliz?

D. C.: Primeiramente é importante dizer que a internet talvez seja uma das maiores criações dos últimos milênios para o bem e para o mal. Não é a internet e as redes sociais que são boas ou más em si, mas o bom ou mal uso que fizemos delas. Infelizmente vivemos a era “fake”. Há um distanciamento significativo entre o que mostramos na vida virtual e o que somos na vida real. Concordo com o pensador Fernando Muniz, que diz que “não é surpresa que a era dos rostos sorridentes seja também a era dos antidepressivos. O sujeito depressivo animado com um sorriso no rosto é a outra face da excitação vazia”. Continua o autor: “É como o depressivo sorrir nas redes sociais (Twitter e Facebook) enquanto planeja em silêncio a própria morte”. A celebridade que “um dia antes posta uma foto eufórica durante a noite é a mesma que é encontrada enforcada com sua echarpe”. Transparecemos e compartilhamos o que não somos para milhares de amigos virtuais e somos incapazes de termos amigos reais, vivendo mais fora do que dentro de nós mesmos.

Texto: Gabrielle Ineu Coradini, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias

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