Na tarde de terça-feira (25), a Câmara dos Vereadores de Santa Maria ficou lotada para acompanhar a votação de moção de repúdio contra manifestações de cunho racista dirigidas a Fernanda Silva, 20 anos, e a Elisandro Ferreira, 42, estudantes de Direito da UFSM, vítimas diretas das frases de ódio pichadas no Diretório Livre do Direito (DLD), no mês passado.
Um grupo de estudantes, entre eles Fernanda e Elisandro, reuniu-se, às 13h30, no prédio da Antiga Reitoria e saíram em caminhada silenciosa em direção à Câmara. O ato Racismo BASTA teve como objetivo aprovar uma moção de repúdio, movida pelo vereador Alexandre Vargas (PRB), aos recentes atos racistas que ocorreram do curso de Direito.
Quando a passeata chegou na Câmara, o reitor Paulo Afonso Burmann, professores, técnico-administrativos em educação, dirigentes sindicais e ativistas de movimentos sociais, já estavam presentes para compor o ato. A Casa ficou cheia de manifestantes vestindo camisetas vermelhas com a frase “Racismo basta!”. Foram confeccionadas 200 peças para o ato e distribuídas gratuitamente no local.
Logo após a abertura da sessão, Fernanda e Elisandro fizeram o uso da Tribuna Livre para falar sobre o caso e ressaltar a importância da luta antirracista. Acadêmica do 8º semestre de Direito, Fernanda defendeu que a luta contra o racismo é diária e que em 2017 não é mais concebível que casos assim aconteçam.
Durante sua fala, Elisandro se emocionou ao relatar o caso, disse ter pensado em desistir do curso de Direito e só não o fez pois recebeu muito apoio de colegas e professores. “Nunca levantei bandeira de nenhum partido político. Mas agora acabo de levantar uma bandeira”, defendeu o acadêmico, enquanto segurava a bandeira Racismo BASTA, estendida na Tribuna. Ao final da fala os estudantes foram aplaudidos de pé pela Câmara.
Na sequência, o vereador Alexandre Vargas, autor da moção de repúdio à prática do ato de racismo contra os estudantes da UFSM, foi à tribuna defender sua proposição, que foi aprovada por todos os 19 vereadores.
Em seu discurso, Vargas citou a própria Câmara para falar sobre as poucas oportunidades aos negros. Atualmente a Casa conta com apenas uma vereadora negra, Lorena Santos (PSDB) e apenas quatro negros de um total de 105 assessores. “Dizer que somos contrários ao racismo não basta. É preciso ações como essa”, frisou.
Elisandro atentou para o fato de que, para além deste ato, que foi pensado para conscientizar e chamar atenção para a causa, é preciso que exista uma continuidade na luta. “Quando acontecem esses casos, num primeiro momento todo mundo se comove, mas depois esquece. O ponto é que não existe mais espaço para o racismo, o objetivo é conscientizar e se mobilizar”, reforça.
De acordo com Fernanda, está sendo organizado para os dias 21 e 22 de novembro, ao final da semana da Consciência Negra, um seminário do Direito Livre focado na questão étnico-racial, no Auditório da Antiga Reitoria, às 18h30. O evento contará com intervenção artística do coletivo Negrescencia, participação das professoras Rosane Leal e Maria Rita Py Dutra.
Texto e fotos: Mariana Flores, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Assessoria de Comunicação do Gabinete do Reitor