Local de estudo, amizades e também de
debate e reflexão. Isso é o que tem ocorrido na Universidade durante a Semana
da Calourada. Preocupados com questões como gênero e acessibilidade, estudantes
de vários cursos da UFSM se reuniram no espaço multiuso para promover a “Roda
de Conversa sobre Combate às Opressões e Respeito”, com o intuito de provocar a
reflexão sobre temas como esses.
As mulheres são maiorias tanto na
sociedade brasileira, 51%,quanto nas universidades do país, 60%.
Porém, esses dados não são suficientes para colocá-las em cargos de poder, fato
visível nas próprias universidades. Além do mais, muitas vezes as alunas são
desestimuladas a concluírem ou ingressar em determinados cursos por vivenciarem
situações de machismo. É o que relata a estudante Isadora Barrios, do Colégio
Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM), que observa o questionamento, por
parte de alunos e professores, sobre a participação das mulheres nas
disciplinas práticas de produção de peças ou manuseio de maquinário.
Quando o assunto é credibilidade, a luta
pelo reconhecimento de fala é ainda maior entre as mulheres. Prova disso são os
dados relatados pela estudante Cristina Haas, do curso de Jornalismo, na qual
os cargos de direção em jornais, na publicidade e nas relações públicas são
ocupados por homens, apesar de 64% dos profissionais em comunicação social serem
mulheres. Apesar das mudanças culturais e sociais, a estudante Saritha Denardi lembra
que luta pela equidade não é um compromisso só das mulheres. “Os homens têm que
conhecer o seu machismo e desconstruírem isso”, observa.
Acessibilidade na UFSM
A acessibilidade na UFSM tem melhorado
significativamente, principalmente comparada com outras universidades, conforme
comenta a estudante Aline Dalcul,
do curso de Ciências Biológicas. Porém, apesar da evolução, a estudante relata
que muitas ações realizadas até agora ainda não são o ideal. Muitos prédios da
universidade ainda não possuem o acesso a pessoas com deficiência física ou,
quando possuem, não são bem construídos. Exemplo disso é o salão de convenções
que, além do lugar reservado a pessoas em cadeira de roda ser de difícil
localidade, o local ainda não possui a rampa de acesso até o palco.
A questão estrutural não é a única que
merece debate dentro do tema da acessibilidade, conforme comenta a estudante.
“Acessibilidade não é só isso. Acessibilidade é como tu vê o outro, a empatia e
isso é outro ponto que eu acho que é mais grave do que a questão estrutural”,
relata Aline que observa que muitas pessoas, inclusive professores, possuem um
sentimento de pena perante a pessoas em cadeiras de roda.
No curso de Jornalismo da UFSM, já foi
possível visualizar os avanços em termos de leitura acessível. O estudante
Lucas Reinehr citou o projeto
da Revista TXT. na qual foi desenvolvida, pela primeira vez na UFSM, uma
revista acessível no curso de jornalismo. A revista possui formato digital, com
audiodescrições completas e é totalmente adaptada para softwares leitores de
tela.
Resistência LGBT nas universidades
Outro assunto debatido na roda de conversa
foram as lutas e resistências de pessoas LGBTs. Mediada pelo estudante Joe
Carneiro, do curso de enfermagem da UFSM, a discussão em torno dessa pauta
serviu para refletir os desafios enfrentados pelas pessoas gays, lésbicas,
bissexuais e transexuais. O estudante, que se define como transexual não
binário e pansexual, relatou os desafios enfrentados na UFSM para obter o
reconhecimento de seu nome social. Apesar dos preconceitos enfrentados, o
estudante observa que houve um aumento significativo de pessoas LGBTs nas
universidades.
Para que haja mudança, é necessário que
reflexões como essas atinjam os estudantes e a comunidade acadêmica de forma
ampla, comenta o estudante Lucas Reinehr. “A gente tem que levar esse
debate a todos os centros, todos os setores para que essa LGBTfobia não seja
tão grande e não seja institucionalizada”, salienta. Além disso, o
estudante observa que a saúde da mulher lésbica e bissexual é negligenciado
tanto dentro da universidade, por não haver o debate, quanto na área da
ciência, por não haver desenvolvimento de métodos de proteção.
Apesar dos dados negativos expostos na
roda de conversa, os estudantes demonstraram que não faltam energias para
continuarem lutando por um mundo igualitário e livre de opressões. “O meu sonho
é um mundo em que não exista gênero. Nosso objetivo é que não exista mulher ou
homem, não precise diferenciar isso na hora do pagamento, por exemplo”, reforça
a estudante Saritha, que torce por um sociedade sem rótulos e que observa a
importância e o aumento dos movimentos sociais, tanto em nível regional, quanto
global.
Texto: Gabrielle Ineu Coradini, acadêmica de
Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias