Um estudo publicado nesta segunda-feira (9) no periódico britânico Journal of Anatomy apresentou um dos registros mais antigos de fusão sacral em um dinossauro. O estudo, liderado por Débora Moro, acadêmica da Universidade Federal de Santa Maria, discute o fóssil com mais de 230 milhões de anos. “As vértebras da região do sacro são muito importantes na evolução dos dinossauros, pois elas, juntamente com a região pélvica, são responsáveis por sustentar uma parcela importante da massa do animal”, afirma.
A pesquisa ainda avaliou como a morfologia das vértebras sacrais variou ao longo das diferentes linhagens de dinossauros, ao rastrear a anatomia desta estrutura em espécies de animais compreendida em uma faixa de tempo de mais de 100 milhões de anos. “Há uma grande variabilidade na estrutura sacral dentro do grupo, e o fóssil que acabamos de descrever nos ajuda a entender como essas vértebras evoluíram ao longo do tempo”, explica a paleontóloga.
Segundo os autores, em pelo menos uma das linhagens analisadas, foi possível reconhecer um padrão evolutivo marcante. Uma tendência evolutiva de dinossauros é a de incorporar vértebras à região do sacro, que pode passar de seis elementos em algumas espécies. “As primeiras vértebras a se fusionarem são as chamadas sacrais primordiais, e isso se repete em diferentes espécies. Esse entendimento nos permite identificar com clareza quais são as sacrais primordiais de animais com muitas vértebras incorporadas ao sacro. Em última instância, isso poderá nos ajudar a entender inclusive como esses processos de incorporação se sucederam ao longo da evolução do grupo”, observa.
O fóssil apresentado pela equipe provavelmente pertenceu à espécie Buriolestes schultzi, um dos dinossauros mais antigos do mundo, encontrado no Sul do Brasil. Embora pequeno, esse dinossauro é um precursor da linhagem dos sauropodomorfos, que incluiu os maiores animais terrestres da história do planeta, como o Brontosaurus e o Brachiosaurus. “É interessante que no começo da linhagem, em um dos primeiros dinossauros do grupo, a fusão sacral já pudesse ocorrer”, comenta o paleontólogo da UFSM Flávio A. Pretto, co-autor do estudo. Ele complementa que a característica foi crucial para que os dinossauros, em especial os sauropodomorfos, atingisse seu “tamanho colossal”. “De certa maneira, parece que o arcabouço anatômico que permitiu isso já estava presente nos pequenos dinossauros da Quarta Colônia”, compara Flávio.
O artigo completo é de autoria de Débora Moro, Leonardo Kerber, Rodrigo T. Müller e Flávio A. Pretto, cientistas do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa) da UFSM.