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Alunas de Pedagogia da UFSM realizam estágio de forma remota



O distanciamento provocado pela pandemia do coronavírus fez com que muitos cronogramas de trabalho fossem reorganizados para seguir com o calendário acadêmico. Desde a suspensão das aulas no dia 16 de março de 2020, adaptações têm sido feitas de acordo com a necessidade de cada curso. Na UFSM, diversos cursos seguiram novas programações em meio ao ensino remoto. O estágio curricular obrigatório do curso de Pedagogia da universidade utilizou a tecnologia para dar continuidade a essa etapa importante e fundamental para a graduação. Os estágios foram supervisionados pelas professoras do Centro de Educação (CE) Estela Maris Giordani, Helenise Sangoi Antunes e Jane Schumacher, que ofereceram apoio para os alunos durante esse período cheio de desafios. 

Cerca de 20 alunas dos cursos de Pedagogia Diurno e Noturno realizaram os estágios em escolas públicas de Santa Maria e região nos meses de novembro e dezembro de 2020, em turmas de anos iniciais do ensino fundamental. As professoras relataram que o processo foi repleto de desafios, aprendizado e imprevistos. “Tivemos muita resistência inclusive dentro do próprio grupo de professores que trabalham com os estágios. Somente três professores optaram por ofertar a turma de estágio nos anos iniciais remotamente. A cada mês e a cada reunião,  tínhamos a certeza que era necessário estudar, mudar e quebrar paradigmas, pois teríamos que atuar além do espaço escolar, com outros recursos pedagógicos”, comenta Jane Schumacher. 

Camila Fonza Predebon, de 25 anos, estagiou na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Francisca Weinmann, orientada pela professora Jane. O trabalho foi desenvolvido em uma turma de 4° ano, e ela afirma que aprendeu sobre a prática docente da sala de aula e a importância das atividades lúdicas para o desenvolvimento integral das crianças. Uma das principais dificuldades durante esse processo foi a adaptação ao novo cenário on-line das aulas. Camila conta que a área da educação sempre sofreu muitas dificuldades, e neste período remoto surgiram novos obstáculos, como falta de conexão, aparelhos que não comportam os aplicativos, famílias que não oferecem o apoio necessário para seus filhos, seja por falta de informação ou tempo, e também professores não capacitados para o uso da tecnologia, que por esse motivo acabam impondo a velha pedagogia, sem o respeito às singularidades de cada um.

Luiza Paul Gehrke fez o estágio na Emef Chácara das Flores, na turma do 2º ano

O tema escolhido por ela para o trabalho de conclusão de curso foi um relato de experiência, contando toda a trajetória do estágio remoto, com o objetivo de contribuir e encorajar aqueles que futuramente terão a oportunidade de viver essa experiência, com a possibilidade de usar sua pesquisa como referência. Com muito orgulho da profissão de educadora, afirma que sente muita alegria em ter contribuído para o crescimento de cada criança dentro do período de estágio, vivenciando momentos ricos de aprendizagem. “Nada supera o ensino presencial, o toque, o carinho, as interações que fazem muita falta. Apesar disso, nós temos que ser protagonistas desse momento para garantirmos a educação pública e de qualidade, repensando toda a forma de ensinar. Não foi nada fácil, mas é gratificante ver os frutos que esse trabalho tão intenso e maravilhoso rendeu”, afirma.

Além disso, ela diz que precisou conciliar o estágio com a maternidade, o que foi desafiador. Com as escolas fechadas por segurança e sem ninguém para cuidar da pequena Maria Clara, ela precisou voltar para a casa dos pais, onde encontrou uma rede de apoio que foi muito importante para concluir essa etapa. “Foi um processo um pouco doloroso, ela muitas vezes queria atenção e, nos momentos em que estava em aula, isso não era possível. Assim que acabava, sempre dedicava um tempo precioso só para ela, suprindo minha ausência. Ela é pequena porém muito madura, sempre compreendia o que estava acontecendo”, comenta. 

Janaína Ribeiro Stafford, coordenadora da Emef Francisca Weinmann, conta que, além de Camila, mais cinco estagiárias trabalharam na escola. Ela avalia a experiência de uma forma muito positiva, principalmente em questões relacionadas à tecnologia. A influência das estagiárias permitiu que as professoras explorassem mais o on-line, perdendo o medo de realizar videochamadas, facilitando essa nova realidade. Patrícia Miolo foi uma das professoras da escola que acompanhou de perto o trabalho das estagiárias. Ela afirma que inicialmente foi necessário estudar como era feita a gravação de vídeos, como utilizar algumas tecnologias educacionais que antes não eram manuseadas, e a partir disso planejar aulas com esse apoio. “O professor teve que ir além, precisamos sair da sala de aula e buscar novas opções, aquilo que não estávamos acostumadas a usar nos nossos planejamentos. Foi um grande desafio buscar estratégias para contribuir com o processo de ensino e aprendizagem das crianças através do ensino remoto”, relata Patricia. 

As adversidades apresentadas durante esse período foram inúmeras. Entre diversos pontos negativos e positivos, todos foram enfrentados através da tela que separa o professor e o aluno. Luiza Paul Gehrke, de 20 anos, realizou o estágio na Emef Chácara das Flores, na turma de 2º ano. Segundo ela, a ansiedade esteve presente a todo momento, mas as adversidades foram enfrentadas com clareza e se tornaram muito significativas para o conhecimento e aprendizagem durante o período de estágio. Ela foi orientada pela professora Helenise Sangoi Antunes, que reconhece que o exercício profissional na orientação dos estágios é um desafio muito grande, principalmente no ensino remoto. “Precisei me dedicar muito e me superar a cada dia, saindo da zona de conforto. Hoje tenho o sentimento do dever cumprido e pude perceber o quanto o CE e a nossa UFSM podem fazer para a sua comunidade”, declara.

Camila Fonza Predebon estagiou na Emef Francisca Weinmann, em uma turma do 4° ano

A reinvenção dos professores nesse processo foi essencial para que tudo funcionasse da melhor maneira possível. Luiza conta que as atividades precisaram ser totalmente adaptadas para que cada aluno pudesse desenvolvê-las na sua casa. Tarefas consideradas “simples” precisaram ser repaginadas. Isso inclui gravação de vídeo, cenário e edição, o que demanda trabalho e tempo. Outras atividades também foram realizadas de forma diferenciada utilizando outras plataformas sociais como o Facebook e Google Formulários. 

Também foram disponibilizadas aulas individuais em horários específicos uma vez na semana, planejadas conforme a demanda de cada aluno. Para que isso fosse possível, a participação dos familiares e responsáveis foi imprescindível, tanto em atividades de compreensão básica, como no momento da escrita, entrega e manuseio de material em momentos de propostas mais lúdicas. E também em momentos mais complexos, como na compreensão de uma simples letra e também para a compreensão do som. “A todo momento do estágio realizado, agradeci as famílias e responsáveis pelo acompanhamento e compreensão que tiveram na realização das propostas. Muitos agradeciam a todo momento pelo empenho que tínhamos com os alunos, a dedicação com todas as fotos e vídeos que enviamos. Isso para mim representa um sentimento de dever cumprido e gratidão a todo o trabalho desenvolvido”, acrescenta Luiza.

No início deste ano, os cursos de Pedagogia compartilharam as práticas do ensino remoto realizadas em 2020 em um evento on-line. A professora Estela ainda afirma que não existe comparação entre o presencial e o remoto. São duas naturezas completamente diferentes, mas afirma que, dentro das condições que foram ofertadas, os frutos dos estágios remotos foram muito bons. Era necessário proteger o aprendizado das crianças e a formação de docentes, e felizmente o resultado foi bem expressivo. Para o ano de 2021, ainda não foi decidido o que será feito em relação aos estágios remotos.

Texto: Vitória Parise, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias

Edição: Lucas Casali

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