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Família é pertencimento: ações voltadas ao acolhimento familiar possibilitam a permanência estudantil na UFSM

Entre desafios e possibilidades, famílias fazem da Universidade suas casas



Dia 15/05 é comemorado o Dia Internacional da Família. Proclamada na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 1993, a data busca dar importância a ações voltadas para elas, nas suas mais diversas configurações. Pensando em como contribuir para a formação de pais e mães estudantes, a Universidade Federal de Santa Maria oferece serviços para que os filhos dos alunos estejam também inseridos na comunidade acadêmica. Conversamos com famílias moradoras da casa do estudante para entender como este apoio funciona. 

Roseni Mariano, Geovane Bento, Ligea Campos e Giovana Sales, pais e mães moradores da Casa do Estudante Indígena Foto: Ana Alícia Flores

Ligea Campos é estudante de Medicina, mãe e moradora do Bloco Indígena da UFSM. A estudante conta que antes de decidir vir para Santa Maria, passou por outras universidades, mas com a ausência de assistência direcionada ao público indígena ficou inviável se manter na graduação. Além de precisar pensar nela e na manutenção no curso, a preocupação enquanto mãe é constante, e ter os filhos próximos permite que o coração fique mais tranquilo. 

Graduanda de Odontologia, Roseni Mariano relata os desafios pelas conquistas dos direitos estudantis da população indígena tanto em Santa Maria quanto no país. Também mãe e moradora da Casa, Roseni conta que se manter na Universidade hoje é uma forma de resistir e a luta para sua manutenção é diária. “Eu penso todos os dias na importância de estar aqui e conseguir esta formação. Penso no significado disso tudo”, pontua ela. Ligea relata o mesmo sentimento. “Estar hoje na Universidade é possibilitar que mais meninos e meninas indígenas possam futuramente ingressar também, é abrir portas”. 

Como relatam as estudantes, o senso de comunidade é algo característico da população indígena. Mesmo longe de onde passaram boa parte das suas vidas e onde está toda sua cultura, estar em um lugar destinado para o seu coletivo é também manter um pouco de suas tradições. Roseni declara a necessidade de sempre revisitar suas memórias com a família para que não se esqueçam de onde vieram. “Sempre procuro conversar com meu filho sobre de onde é nossa casa. Hoje estamos aqui, fizemos também parte deste lugar, mas não podemos esquecer dos nossos e da nossa terra.”.

Os espaços da Universidade

Os espaços físicos possuem grande relevância para construção de um convívio social. Na UFSM, alguns locais além de inserir estas famílias na sociedade, também caracterizam o que chamamos de lar. A Casa do Estudante é um destes lugares. Inaugurada em 2018, a Casa do Estudante Indigena foi conquistada através de muita luta. E até hoje, para sua manutenção, os moradores buscam recursos para que sigam estudando através da assistência estudantil. Ligea Campos conta que o Bloco Indígena da universidade é um espaço de troca entre as famílias, de compartilhamento de vivências únicas, mas também coletivas. 

Espaço de amamentação no CE Foto: Sendi Spiazzi

Além da Casa, a Universidade possui outros lugares que as famílias, tanto moradoras quanto visitantes, podem utilizar. Em 2020, a direção do Centro de Educação (CE) da UFSM dispôs um espaço de amamentação para acolher mães e filhos. O local fica no terceiro andar do prédio 16B. Em dezembro de 2019, o CE venceu uma chamada pública e recebeu o trabalho da artista plástica Karina Machado. A ideia da artista foi produzir um espaço de apoio e empoderamento para estas mães que amamentam. O CE também possui uma praça destinada para o convívio em comunidade e familiar. O Parque de Bambu, como um desses espaços planejados, foi construído na perspectiva da permacultura. A ideia do espaço é trabalhar questões sustentáveis e criar vínculos entre a natureza, edificações e as pessoas da comunidade. 

O Centro de Convenções possui um espaço específico para troca de bebês e crianças, próximo aos banheiros. Também tem um sofá no hall de entrada do banheiro para o cuidado e a amamentação. Mesmo sendo um local destinado a adultos é preciso deixar pais e mães que frequentam confortáveis para o convívio. 

Em entrevista para a Revista Arco a pesquisadora da área de Comunicação, coordenadora no Grupo de Pesquisa Comunicação, Gênero e Desigualdades (CNPq/UFSM) e docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no curso de Publicidade e Propaganda Milena Freire ressalta a necessidade da discussão do maternar enquanto sociedade, não sendo um processo exclusivo da mãe. “A maternidade parece, mesmo dentro do campo do feminismo, um assunto menor, doméstico, relacionado ao afeto, ou seja, individual. Um dos pareceres sobre o meu projeto dizia para tomar cuidado para que o projeto não fosse uma questão pessoal, como se a pesquisa não pudesse ser política. Eu, particularmente, me vi envolvida e estimulada a pensar sobre esse tema a partir da minha experiência. Mas não quer dizer que somente pessoas que têm a experiência materna possam falar sobre. A maternidade é uma questão da sociedade.”, pontua Milena. Ligea e Roseni expõem que uma das dificuldades encontradas hoje é um espaço para troca destas famílias e destas experiências e que essa discussão fica restrita a comunidade de moradores do bloco. “A nossa realidade é muito diferente das dos nossos colegas e professores e pela correria do dia a dia com a família, dificilmente temos conversas com outras pessoas”, exemplificam as duas. 

Mesmo com os avanços dos direitos das famílias e a utilização dos espaços públicos de mães, a caminhada ainda é longa. “Vamos atrás do que é direito nosso e repassamos para as outras famílias, se hoje lutamos tanto por isso é para que abra caminho para outras e outros”, pontua Roseni. Ligea conta o sonho de criar projetos para meninas da sua aldeia após a conclusão da graduação para incentivar a formação profissional. Ocupar estes lugares que até pouco tempo eram lhes negados é resistir. 

Assistência Estudantil voltada às famílias 

A UFSM tem buscado aperfeiçoar constantemente suas ações para o acolhimento de famílias na Universidade, possibilitando com que mães e pais possam dar continuidade nos seus estudos. 

Atualmente, a resolução da moradia estudantil n.25/2014 determina que, a partir de uma entrevista e avaliação com assistentes sociais, crianças menores de 12 anos possam residir na CEU, juntamente com seus responsáveis. Ainda, caso a família more fora da UFSM, poderá optar por uma bolsa do Programa Auxílio Moradia. Para os dependentes com idade inferior a cinco anos, poderá ser concedido auxílio creche. Para a alimentação, as crianças moradoras da CEU têm acesso gratuito ao RU, além de atendimento psicossocial, odontológico e da equipe de saúde da casa, um projeto do departamento de saúde coletiva do Centro de Ciências da Saúde em parceria com a PRAE. 

Angélica Iensen, Pró-Reitora Adjunta de Assuntos Estudantis, destaca que a UFSM é pioneira e referência nacional nesse tipo de auxílio, porém sabe que as ações são limitadas e ainda precisam ser aperfeiçoadas. “Um dos grandes entraves para que essas políticas se desenvolvam é a falta de recursos financeiros. Nossas ações são extremamente limitadas por falta de verbas, se não houver o reconhecimento da necessidade dessas ações e incentivo por parte do governo federal não será possível avançar nessa política”, lamenta ela. Ainda assim, Angélica destaca que essas ações são necessárias e complexas, devendo estar em constante construção, desenvolvimento e aprimoramento, mas fundamentais para a permanência de famílias em vulnerabilidade social na Universidade.

 

Texto: Letícia Klusener, estudante de jornalismo e voluntária na Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista na Agência de Notícias

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