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Prêmio O Futuro da Terra: professor da UFSM é referência em preservação ambiental

Diversos estudos e ações com foco na água e solo permeiam a carreira do docente



Momento da premiação (Foto: Tiago Haas Reichert)

Aconteceu ontem à noite a cerimônia de entrega da premiação O Futuro da Terra, na Expointer, em Esteio/RS, onde o professor do Departamento de Solos da UFSM José Miguel Reichert recebeu o prêmio na categoria Preservação Ambiental.  O docente acredita que a honraria é em decorrência de sua trajetória de 38 anos dedicados à agronomia, envolvendo extensão, pesquisa, ensino e administração. Para ele, ser homenageado representa uma distinção e uma responsabilidade: “para além do prêmio recebido, sou feliz por ser Professor e Cientista, casualmente as duas categorias profissionais mais confiáveis para os brasileiros”, afirma Reichert, ao citar pesquisa do Instituto Ipsos

Longo caminho 

O professor conta que ao longo de sua caminhada profissional sempre esteve presente a preocupação ambiental, a fim de investigar e aplicar conhecimentos para minimizar os impactos negativos de atividades agrícolas. Além disso, reconhece o papel fundamental da academia na pesquisa e na formação de recursos humanos com sensibilidade e capacidade de atuação. “Cada vez mais a sociedade cobrará do setor rural a produção de comida mais saudável e com menor impacto ambiental”, entende. 

Dentre os projetos de base científica e tecnológica que desenvolve neste tema, o professor destaca os seguintes: quantificação da retenção de água no solo e sua disponibilidade para as plantas; manejo do solo na cultura do fumo para a redução de perdas e da contaminação hídrica de solo, nutrientes e agrotóxicos; qualidade do solo na produção agroecológica de citrus; condição estrutural do solo para melhorar sua exploração pelas raízes de cultivos diversos; estrutura do solo (inclusive com o uso de tomografia computadorizada) pela sua compactação/descompactação mecânica e biológica, e a relação com a funcionalidade do sistema poroso para os componentes hídrico e gasoso; manejo florestal  em bacias hidrográficas para melhorar o uso da água do solo (medição do fluxo de seiva para uma estimativa da evapotranspiração pelas árvores),  reduzir a erosão hídrica e manter a vazão nos riachos; e  determinação da origem dos sedimentos em bacias hidrográficas agrícolas, florestais e sob pastagem. 

Impacto na sociedade 

Professor Miguel Reichert durante pesquisas (Foto: Ederson Ebling)

Segundo o pesquisador, esses estudos contribuem para a definição do Zoneamento Agrícola de Risco Climático, que é uma ferramenta de gestão que orienta sobre as épocas de cultivo de espécies agrícolas em que há menor risco de perda de produtividade, devido às variações climáticas. Ele também atua em projetos de irrigação e manejo do solo que auxiliam no trabalho de diversos setores da sociedade que exercem atividades no campo. 

O docente continua ao afirmar que os resultados dos estudos sobre erosão e origem dos sedimentos apresentam-se como ferramentas para indicar locais prioritários para execução de práticas de conservação do solo e da água, sejam elas nas lavouras, estradas públicas não-pavimentadas ou nas barrancas dos riachos. Portanto, podem ser utilizados tanto por parte dos agricultores como do poder público. Os resultados sobre manejos mais conservacionistas auxiliam os extensionistas, agricultores e empresas rurais no incremento da sustentabilidade agrícola e redução dos impactos ambientais.

Dessa forma, o objetivo maior de toda pesquisa desenvolvida pelo professor é que o ambiente e os ecossistemas sejam favorecidos de modo sustentável, com um melhor aproveitamento da energia que vem do sol e da água da chuva. “Com produção mais sustentável, não há necessidade de avançar sobre ecossistemas naturais”, complementa Reichert. 

Produção x preservação 

Nesse cenário, é comum pensar que a preservação ambiental é oposta à produção agrícola, alicerce da economia brasileira. Para o professor, esse conflito está, muito provavelmente, nas percepções díspares entre setor rural e urbano. Ele compreende que a  grande maioria dos agricultores não é “inimiga da natureza”, e estão interessados em preservar a própria saúde, a dos consumidores e a do ambiente. O meio urbano, ao exigir comida e outros produtos agrícolas produzidos de forma mais sustentável, tem um efeito positivo sobre a forma de produção. Todavia, ele reconhece a existência de grupos articulados politicamente para resistir à ideia de preservação. “Há muitos exemplos de agressão à conservação das águas e da biodiversidade”, lamenta. 

O professor então destaca que é preciso atuar em uma nova lógica. Um exemplo de inovação no campo aliado à preservação é a popularização de pesticidas naturais, que buscam, aos poucos, ser uma alternativa aos cancerígenos agrotóxicos. Reichert explica que, com o controle biológico, busca-se controlar pragas agrícolas e insetos transmissores de doenças a partir do uso de seus inimigos naturais. Também, faz-se o controle de enfermidades de plantas a partir da redução da densidade de inóculo ou das atividades determinantes da doença com a participação de um ou mais organismos. Esses seriam exemplos de como é possível uma atuação mais sustentável no campo.

Reichert esclarece que essa discussão e aplicação tecnológica é mais comum nos últimos anos. As razões são muitas, desde a pressão da sociedade por comida sem agrotóxicos, a preocupação de uma parcela dos agricultores com a saúde própria e coletiva, a atuação de órgãos de extensão com foco na agroecologia, a maior produção científica e tecnológica sobre o tema, e a existência de empresas produtoras e comercializadoras desses produtos.

Agricultura familiar x latifúndio 

Em meio a isso, vale refletir se o pequeno e o grande produtor rural dividem espaço no mercado. “Claramente, a agricultura familiar não é concorrente da agricultura para exportação, mas precisa de incentivo”, acredita o professor. Isto é, a agricultura de exportação atende a uma crescente demanda mundial por comida e alimentação animal. Em relação a esta última, enquanto houver grande demanda de soja pela China, deverá haver aumento na produção da mesma para exportação na forma de grãos, mesmo com a recente escassez e aumento de preços dos fertilizantes, aponta Reichert. 

Já a comida para os gaúchos e povo brasileiro é produzida, em grande parte, pela agricultura familiar. “É necessário que haja, novamente, políticas públicas de financiamento e incentivo à produção de comida para o mercado interno”, diz. 

Dessa forma, para o pesquisador, a agricultura familiar é sólida no RS e no território brasileiro. Contudo, o envelhecimento, a masculinização (mais homens do que mulheres no campo) e a sucessão na condução da propriedade – além da escassez de políticas públicas (extensão, pesquisa, financiamento e comercialização) para esse grupo de produtores – são problemas que devem ser encarados pelos governos. “Não apenas no discurso, mas em ações”, frisa. 

Alternativas ao desmatamento 

Para Reichert, não é necessário desmatar territórios, como a Amazônia, para continuar com a produção agrícola, cujo regramento ambiental deve ser seguido. O desmatamento da Amazônia, região de extrema importância no padrão de chuvas no território brasileiro, a não implantação ou manutenção de áreas de preservação ambiental e o uso intensivo e inadequado de agroquímicos são fatores os quais não contribuem com agricultura sustentável, entende o pesquisador. 

Em seu raciocínio, é possível produzir mais se a terra for tratada como sistema e com princípios conservacionistas, e se a que estiver degradada for recuperada. Por exemplo, ele crê que a recuperação de milhões de hectares de pastagens degradadas no centro e norte do Brasil representa uma possibilidade de expansão na produção agropecuária, sem necessidade de incorporar novas áreas. 

Agradecimentos 

Com o reconhecimento, Reichert destaca a participação de muitas pessoas em sua caminhada, além do apoio familiar, como seus colegas no Departamento de Solos, os professores Dalvan Reinert, Paulo Gubiani, Jean Minella e Danilo Rheinheimer dos Santos. Além disso, lembra os outros inúmeros pesquisadores de outras instituições e os estudantes que atuaram e atuam no campo e nos laboratórios para a execução das atividades de pesquisa: até o momento, 33 mestres e 36 doutores contribuíram diretamente nessas pesquisas. “A todos, muito obrigado! Compartilho esse Prêmio com todos vocês”, celebra. 

Ademais, o professor enxerga como grande desafio a recuperação do financiamento da pesquisa, o qual está sendo reduzido. Ainda, não se deve esquecer a contribuição da ciência no crescimento econômico e bem-estar das pessoas.

O prêmio O Futuro da Terra reconhece iniciativas e pesquisas que contribuem para a valorização de práticas que estimulam o desenvolvimento do agronegócio no Estado do Rio Grande do Sul. A promoção é do Jornal do Comércio, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).


Texto: Gabrielle Pillon, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista

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