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UFSM vai contar com o primeiro laboratório do interior do RS com nível de biossegurança 3

O Laboratório NB-3 Neuroimunologia da UFSM terá condições para a pesquisa com amostras vivas do novo coronavírus



Um dos principais equipamentos no interior do laboratório é a cabine de biossegurança, que é onde os pesquisadores vão manipular as amostras

Desde que o mundo foi pego de surpresa pela pandemia de Covid-19, buscam-se respostas sobre o modo de contaminação do novo coronavírus (Sars-Cov-2), de como ele provoca a síndrome respiratória aguda grave e, principalmente, de formas eficazes de tratamento e profilaxia. Com a criação do Laboratório de Nível de Biossegurança 3 (NB-3) de Neuroimunologia, que vai começar a funcionar em breve, a UFSM dá um passo adiante para que seus pesquisadores possam buscar por si próprios, e de forma segura, respostas satisfatórias para esses questionamentos. Este é o primeiro laboratório com a classificação NB-3 do interior do Rio Grande do Sul. Além do novo coronavírus, o laboratório também oferece condições para a pesquisa de outros microrganismos que causam doenças potencialmente letais, incluindo vírus que provocam doenças como a Aids, febre amarela, gripe A, dengue, Zika e Chikungunya e bactérias como o bacilo de Koch (causador da tuberculose).

O laboratório localiza-se no prédio 15B do campus sede da UFSM. De acordo com a sua coordenadora, professora Micheli Mainardi Pillat, a ideia de adaptar um laboratório do prédio para o nível NB-3 surgiu ainda no início da pandemia. Ela relata que, quando professores e acadêmicos dos programas de pós-graduação em Farmacologia e Ciências Farmacêuticas começaram a fazer pesquisas com o novo coronavírus (contando com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – Fapergs), aproximadamente 60% do trabalho tinha de ser feito em Porto Alegre, em um laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), já que a UFSM não dispunha de um laboratório no qual se pudesse trabalhar com a cultura do vírus.

Esses programas de pós-graduação da UFSM já tinham o espaço físico e alguns dos equipamentos necessários para a instalação de um laboratório NB-3, como um ultrafreezer com capacidade de resfriamento de – 80 ºC e uma autoclave de barreira (usada para a esterilização de materiais). As adaptações foram realizadas pela empresa Biosafe Biossegurança Brasil, especializada no projeto e construção desse tipo de laboratório e que foi também responsável pelo treinamento dos professores, técnicos e alunos que vão atuar no Laboratório NB-3 Neuroimunologia.

Entrada – No laboratório NB-3, é permitida somente a entrada de um número restrito de pesquisadores e técnicos autorizados, e para os quais a porta somente abre por meio da verificação por sensor biométrico. O espaço é aberto apenas para a entrada e saída das pessoas autorizadas e das amostras em pesquisa. E, para isso, existe um protocolo complexo que precisa ser rigorosamente obedecido.

Antes de uma pessoa entrar no laboratório NB-3, ela tem de passar por duas antecâmaras. A primeira delas (também conhecida como “antecâmara limpa”) é para a higienização das mãos e para vestir o equipamento de proteção individual (EPI), que inclui máscara PFF 2 ou N 95, máscara face shield, macacão, avental, luvas, óculos de proteção, calçados de segurança e propés. Como essas peças são todas descartáveis, e podem ser usadas somente uma vez, sempre que uma pessoa sai do laboratório deve despir o EPI na segunda antecâmara – também conhecida como “antecâmara suja”, pois recebe os pesquisadores e técnicos após saírem do laboratório.

Para alguém entrar no laboratório, tem de atravessar três portas – localizadas entre o corredor do prédio e a primeira antecâmara; entre a primeira e a segunda antecâmara; e entre a segunda antecâmara e o interior do laboratório. As três portas funcionam por sistema de intertravamento, ou seja, para abrir uma delas, é necessário que as outras duas estejam totalmente fechadas.

No final de julho, os professores, técnicos e alunos que vão atuar no laboratório passaram por um treinamento, que incluiu a manipulação do display onde constam as condições de pressão, temperatura, umidade e renovação do ar

Ar, pressão, temperatura e umidade – No corredor do prédio, ao lado da porta de acesso à “antecâmara limpa”, há um medidor analógico para o controle da pressão no seu interior; logo abaixo, está um display digital que – além da pressão no interior do laboratório e das duas antecâmaras – informa também condições como temperatura, umidade e renovação do ar no interior desses recintos.

Tanto o laboratório como as duas antecâmaras têm um sistema de pressurização que garante que a pressão seja negativa no interior desses recintos. Esse é um expediente importante para obstruir a saída e propagação dos vírus e bactérias pesquisados no laboratório. Isso porque um ambiente com pressão menor “suga” o ar quando se comunica a um ambiente com pressão maior. Por isso, a cada porta que se abre para entrar no laboratório, a pressão decai gradativamente. Na primeira antecâmara, ela é de – 10 Pa; na segunda, é de – 20 Pa; por fim, dentro do laboratório, a pressão é de – 40 Pa.

A pressurização desses ambientes é sustentada por um sistema centralizado e duplicado de condicionamento, exaustão e renovação do ar, para cujo funcionamento foi necessária a construção de uma verdadeira “casa de máquinas” no lado de fora. Além de realizar 27 trocas de ar por hora dentro do laboratório, fica a cargo desse sistema a manutenção da temperatura ambiente em cerca de 20 ºC e a umidade relativa do ar em aproximadamente 65%. A duplicação do sistema de ar é necessária para, no caso de falha no ar-condicionado principal, um outro de reserva entrar em operação. O laboratório também é protegido contra quedas de energia elétrica, pois está conectado a um gerador no lado de fora do prédio. E, para o caso de uma eventual emergência, foi instalado um sistema de alarme.

Dentro do laboratório – O protocolo de segurança exige que, sempre que um pesquisador ou técnico entrar no laboratório, precisa estar acompanhado de pelo menos dois auxiliares – um dentro e outro do lado de fora do recinto. Caso o pesquisador necessite de algo que não esteja no laboratório, o auxiliar que fica de sobreaviso na parte externa pode levar até ele utilizando-se do pass through, que consiste em uma pequena caixa para passagem de materiais, comunicando o interior com o exterior do laboratório.

Além da cabine de biossegurança (à esq.), um dos principais equipamentos com os quais o laboratório conta é a autoclave de barreira (à dir.), que serve para a esterilização de materiais

Entre os principais equipamentos que ficam dentro do laboratório (em uma área de aproximadamente 35 m2), além de alguns já mencionados (como a autoclave de barreira e o ultrafreezer de – 80 ºC), um dos principais é a cabine de biossegurança, que é onde os pesquisadores vão manipular as amostras. Com uma capacidade de recirculação de 70% do ar em seu interior e de filtragem dos outros 30%, essa cabine tem como finalidade obstruir a contaminação dos agentes biológicos manipulados e a sua propagação para fora desse equipamento.

O laboratório conta também com uma estufa, uma centrífuga, um microscópio ótico, uma geladeira e um computador para registrar os resultados das pesquisas. Outra adaptação importante no interior do laboratório foi a colocação de cantos arredondados entre a parede e o piso, para evitar o acúmulo de sujeira. Para o laboratório entrar em funcionamento, falta somente a instalação de uma bancada de aço inox.

Treinamento e amostras – Além do projeto e construção do Laboratório NB-3 Neuroimunologia, a empresa Biosafe foi também responsável pelo treinamento dos pesquisadores que vão atuar nele. Realizado de 25 a 27 de julho, o treinamento na UFSM foi ministrado para 10 pessoas (entre professores, servidores técnico-administrativos e alunos) pela pesquisadora Camila Pereira Soares. Ela é doutoranda em Microbiologia na Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação do professor Edison Luiz Durigon, que é um dos principais virologistas do país.

Durigon e sua equipe foram os primeiros no Brasil a isolar o novo coronavírus em laboratório. Também foram responsáveis por cultivar o vírus e enviar amostras inativas para vários laboratórios da rede de vigilância sanitária, para serem usadas como material de controle em testes do tipo PCR. Os cultivos de vírus realizados pela equipe de Durigon também têm abastecido laboratórios NB-3 de todo o país com amostras vivas do novo coronavírus. Isso inclui o laboratório da UFSM, que receberá em breve amostras de três cepas: a de Wuhan (causadora da primeira onda de Covid-19), a P1 (responsável por um surto significativo da doença que teve Manaus como epicentro) e a ômicron (variante de preocupação com alta disseminação identificada no final de 2021).

Texto: Lucas Casali

Fotos: Luis Ferraz

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