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CT na Reconstrução: Escritório Modelo de Engenharia recupera pontes em rodovias da região

Na terceira reportagem da série sobre as ações do CT-UFSM nas enchentes de 2024, conheça o projeto que auxiliou na restauração de estradas do RS



As chuvas começaram no dia 27 de abril, ganharam força dois dias depois e assolaram o estado durante todo o mês de maio de 2024, em forma de enchentes e deslizamentos de terra. De acordo com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), as chuvas danificaram grande parte da infraestrutura rodoviária de responsabilidade estadual: dez pontes foram interditadas e mais de 8 mil quilômetros de estradas foram danificados.

Você se lembra do que estava fazendo há um ano, quando o Rio Grande do Sul enfrentava a maior catástrofe climática de sua história? A Subdivisão de Comunicação do Centro de Tecnologia preparou uma série de reportagens intitulada #CTnaReconstrução, para tratar de projetos, servidores e estudantes que atuaram na linha de frente. As matérias mostram niciativas de apoio imediato à população e projetos de recuperação e prevenção a médio e longo prazo de áreas atingidas pela catástrofe climática no RS. Na terceira reportagem, destacamos o projeto que auxiliou na recuperação dos estragos em rodovias do Rio Grande do Sul. 

Equipe do Escritório Modelo trabalhou com casos reais, como projetos de reconstrução de pontes em Arroio Grande

Conheça o Escritório Modelo

Escritório Modelo de Engenharia é um projeto de extensão desenvolvido pelos cursos de graduação e pós-graduação em Engenharia Civil. O projeto em seu formato atual existe desde 2021 e é coordenado pelo professor Almir Barros Santos com a colaboração direta dos docentes André Lubeck e Rogério Antocheves. O Escritório atua como um elo entre a universidade e a comunidade ao prestar serviços para órgãos públicos federais, estaduais e municipais, por meio da elaboração de projetos de engenharia, acompanhamento de obras, realização de cursos de capacitação, consultorias e assessoramentos técnicos. Quando os entes federados encontram dificuldades para realizar ou contratar tais atividades, podem dispor dos serviços do Escritório Modelo da UFSM.

A origem do Escritório Modelo remonta à experiência dos professores na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), entre 2006 e 2017, onde atuaram desde os primeiros anos de funcionamento da instituição. Na época, como aquela universidade não dispunha de infraestrutura administrativa e corpo técnico completos, os docentes recém-chegados acabaram por assumir múltiplas funções e aprender, na prática, como gerir obras e contratos públicos. Esse ambiente desafiador permitiu que eles acumulassem uma vivência profissional impulsionadora. A partir de 2017, quando os três professores se reencontraram na UFSM, trouxeram consigo essa bagagem.

A ideia de criar o Escritório Modelo de Engenharia surgiu a partir de uma conversa a direção do CT. A proposta era estabelecer um projeto de extensão que pudesse apoiar a Pró-Reitoria de Infraestrutura (Proinfra) na elaboração de projetos estruturais e, futuramente, atender também a órgãos públicos externos.

Após início com atendimento exclusivo para as demandas da Proinfra, especialmente na área de estruturas da UFSM, o projeto ampliou seu alcance e passou a desenvolver projetos para prefeituras e outros órgãos públicos, principalmente em municípios pequenos, onde a falta de equipe técnica especializada é um obstáculo frequente.

O Escritório é remunerado pelos contratantes a partir de cada projeto desenvolvido. Os pagamentos são feitos à Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), responsável pela gestão administrativa e financeira, que distribui os recursos de acordo com as rubricas previstas — como bolsas, retribuições e remuneração aos profissionais envolvidos. Parte dos recursos é destinada à Universidade e outra parte é reinvestida nos laboratórios do Centro de Tecnologia. Para assegurar a regularidade e a compatibilidade dos preços, os projetos seguem tabelas referenciais de órgãos públicos como Daer e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – isso garante que os projetos estejam alinhados às exigências legais e os valores cobrados estejam dentro da realidade do mercado. O Escritório Modelo, portanto, presta um serviço de alta qualidade técnica a preços de mercado e com viés social, tanto para quem contrata quanto para quem trabalha nos projetos.

Além de auxiliar órgãos públicos na resolução de demandas emergenciais, como no caso das enchentes, o projeto proporciona aos estudantes de Engenharia Civil da UFSM a oportunidade de participar diretamente do desenvolvimento de projetos reais, e vivenciar os desafios da profissão antes mesmo de concluírem a graduação. A experiência prática, segundo os coordenadores, faz toda a diferença na formação dos futuros profissionais. “É muito diferente o aluno trabalhar com um projeto hipotético em sala de aula do que acompanhar a elaboração de um projeto de ponte que realmente será executado”, comenta André Lubeck. E foi essa experiência que foi posta à prova no momento de emergência vivido há um ano.

Foto colorida vertical de lugar ao ar livre, próximo a um arroio de um rio. O lugar é cheio de pequenas pedras arredondadas. Quatro pessoas estão na imagem. Duas de um lado do arroio seguram cordas. Uma terceira segura a ponta da corda da outra margem. E uma quarta pessoas está em cima de uma estrutura de madeira, que parece ser o início de uma ponte
Equipe do Escritório Modelo realizou trabalho de campo nos distritos Arroio Grande e Boca do Monte, em Santa Maria
Grupo da UFSM atuou em nove dos 19 pontos críticos de Santa Maria afetados pelas enchentes

Logística da reconstrução

Quando as enchentes atingiram o Rio Grande do Sul, em maio de 2024, a equipe do Escritório Modelo de Engenharia se viu diante de uma demanda emergencial inédita. Diversos municípios da região, afetados pela destruição de pontes, passarelas e estradas vicinais, passaram a buscar apoio técnico para viabilizar projetos e acessar os recursos de recuperação disponibilizados pela Defesa Civil e pelo Governo Federal.

“Enxergamos a situação como uma oportunidade de ajudar, porque tínhamos estrutura e conhecimento para isso”, relata Lubeck. A relação prévia com a Prefeitura de Santa Maria, que já havia contado com os serviços do Escritório, foi decisiva para organizar os primeiros atendimentos. Na época, o município tinha 19 pontos críticos. “Eles nos perguntaram se teríamos condições de atender e nós falamos que não daria para fazer tudo, mas que poderíamos contribuir”, lembra o professor.

A partir desse contato, a equipe do Escritório pautou seu trabalho pelas diretrizes do manual da Defesa Civil, que orientava a elaboração dos projetos e da documentação necessária para acessar os recursos de recuperação. A análise do material revelou a necessidade de estudos complementares de geotecnia e hidrologia, além dos projetos estruturais. “Brasília [governo federal] só libera o recurso se tudo atender à legislação. Emergência não é sinônimo de improviso”, reforça o professor.

Para ampliar a capacidade de atendimento, os coordenadores do Escritório articularam parcerias com outros professores da UFSM. Na geotecnia, contaram com o professor Magnos Baroni para os estudos de solo. Na área hidrológica, uniram-se ao grupo de Ecotecnologias, com os professores Daniel Allasia e João Francisco Horn. “Os professores trouxeram seus estudantes, organizamos as equipes e mostramos para Santa Maria o que conseguiríamos assumir”, detalha Rogerio Antocheves.

As demandas fizeram com que o Escritório fosse ampliado para agregar mais profissionais. Hoje, o Escritório Modelo entrega projetos completos, com orçamentos, especificações técnicas, Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e toda a documentação exigida pela Defesa Civil e por órgãos de controle. Este é um diferencial do projeto: reunir profissionais especializados em áreas específicas para realizar soluções técnicas, atributo que por vezes não é encontrado no mercado privado.

Santa Maria, então, reorganizou sua estratégia e repassou nove pontos críticos para o Escritório Modelo, enquanto buscava outras soluções para o restante. A experiência com a prefeitura — uma das maiores e mais organizadas da região — serviu como aprendizado e modelo para os atendimentos posteriores. “Quando vieram as demandas de municípios menores, como Quevedos, São Vicente e São Francisco de Assis, a gente já sabia como funcionava o processo e até os ajudamos a organizar a documentação e os procedimentos”, lembra André.

Para tentar organizar um atendimento coletivo, o Escritório Modelo enviou ofícios e propôs reuniões com associações regionais, como a Quarta Colônia. Porém, diante da urgência e da complexidade da situação, cada município buscava sua solução como podia — alguns contratatavam empresas particulares, outros recorreram a profissionais internos.

Foto colorida verticula de ponto destruída em Quevedos. Na imagem, apenas estão as cabeceiras da ponte e o rio. Não há, na foto, nenhum vestígio da ponto. Também há vários troncos presos nas cabeceiras.
Escritório Modelo atendeu outros municípios da região, como Quevedos, que ponte derrubada nas enchentes

Projeto em campo

O trabalho do Escritório Modelo de Engenharia Estrutural da UFSM vai muito além dos cálculos e projetos em escritório. Apesar de atuar principalmente com projetos técnicos para licitação, a equipe realiza visitas de campo para vistoriar as áreas afetadas — sempre após a estabilização da situação, para garantir a segurança e o levantamento preciso das necessidades.

“Nós só atuamos depois que o problema está formalmente registrado e definido pela prefeitura. Mas, claro, fomos a campo vistoriar os locais atingidos”, explica o professor André. Professores especialistas em geotecnia e hidrologia acompanharam as inspeções em áreas críticas, como encostas, para garantir que as condições estejam seguras para intervenções futuras. Os discentes da UFSM têm papel ativo em todo esse processo, sempre sob supervisão técnica rigorosa. Eles colaboram na elaboração de desenhos, orçamentos e especificações, com atenção especial à revisão, pois os projetos serão auditados por órgãos como tribunais de contas.

Nas vistorias em Santa Maria, mestrandos chegaram a trabalhar com água na altura da cintura para medir fundações de pontes. “São histórias que ficam para a formatura, qualificam muito a formação dos estudantes.” Os docentes lembram de um episódio marcante durante a entrega dos projetos para a Prefeitura de Cacequi: “Esperávamos uma reunião formal, mas era um evento com imprensa, secretários e vereadores. Dois alunos que participaram — a Giovana e o Felipe — tiveram que dar entrevistas. Para eles, foi o auge da graduação.”

Mas nem tudo são boas notícias. “Muitas pontes que caíram já apresentavam sinais antes. A enchente foi só o empurrãozinho final,” alerta André. Problemas comuns como bueiros entupidos e falta de manutenção adequada comprometem a infraestrutura. “Ficamos felizes em ajudar, mas também tristes por ver onde a engenharia e a manutenção pública estão faltando. Se isso não mudar, os problemas vão continuar,” conclui.

Na atuação do Escritório Modelo e na formação dos alunos da UFSM, um ponto é sempre reforçado: por trás de cada projeto de engenharia, existe uma questão social profunda. O professor Rogério conta a história de uma senhora feirante que mora próxima a uma das pontes em avaliação. “Ela nos disse que, com a falta daquela ponte, a rotina dela mudou totalmente. Tem que sair muito mais cedo, dar uma volta enorme. E, quando chove, fica impossível passar.” A ponte, para ela, não é apenas concreto ou cálculo — é conexão com o mundo, é qualidade de vida.

Essa realidade é o que a equipe busca transmitir aos estudantes, o docente enfatiza: “Por trás de cada ponte, de cada prédio, tem pessoas que dependem dessas estruturas para trabalhar, estudar, viver. Esse olhar social precisa caminhar junto com a técnica, senão a engenharia perde o sentido.”

A ação relatada acima é exemplo que reforça o papel social da Universidade pública enquanto espaço de formação técnica e científica mas, acima de tudo, humana. Em momentos de crise, projetos como esses mostram que o conhecimento produzido dentro da academia pode e deve ser colocado a serviço da sociedade.

Esta é a terceira reportagem da série #CTnaReconstrução. A primeira e a segunda abordaram as principais ações dos grupos e projetos do CT que ampararam Santa Maria e região no auge das inundações. Acompanhe as próximas reportagens ao longo do mês de maio no site do CT.

 

Texto: Marina dos Santos, acadêmica de Jornalismo, com supervisão da Subdivisão de Comunicação do CT/UFSM.

Fotos: Escritório Modelo

Edição final: Agência de Notícias

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