A Agência de Notícias entrevistou as duas chapas à reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). As mesmas perguntas foram encaminhadas por e-mail para as representações das campanhas no dia 29 de maio. As questões tratam de temas como assistência estudantil, acessibilidade, crise climática, gestão de pessoas, combate ao preconceito, multicampia e ingresso.
A Chapa 1 para a reitoria da UFSM é composta pelos professores Felipe Müller, do Departamento de Computação Aplicada do Centro de Tecnologia (CT), e Alessandro Dal’Col, do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Rurais (CCR). O candidato a reitor, Felipe, foi reitor entre 2009 e 2013, e vice-reitor entre 2005 e 2009. O candidato a vice, Alessandro é diretor do CCR.
Acompanha as respostas da Chapa 1

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Embora a UFSM invista em ações afirmativas para o ingresso de estudantes, os índices de evasão entre cotistas ainda são relevantes. Quais são as propostas da sua chapa para fortalecer as ações de permanência estudantil?
CHAPA 1 – A assistência e a permanência estudantil devem ser tratadas como compromissos básicos da instituição, assegurando que o acesso à universidade pública se traduza em trajetória acadêmica com equidade, dignidade e condições reais de conclusão dos cursos. Um plano de gestão comprometido com essa pauta deve fortalecer e ampliar as políticas de apoio socioeconômico, como auxílios financeiros, moradia estudantil, alimentação, transporte e acesso à saúde, com especial atenção às demandas de estudantes em situação de vulnerabilidade. É fundamental também integrar essas políticas a ações de acolhimento, escuta ativa, apoio psicopedagógico e inclusão digital, reconhecendo as diversas realidades que atravessam a vida estudantil. A articulação entre permanência, sucesso acadêmico e formação cidadã deve orientar a gestão, promovendo ambientes de aprendizagem inclusivos e acolhedores. Assim, a UFSM reafirma seu papel como promotora de justiça social, igualdade de oportunidades e transformação de vidas por meio da educação pública.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – A casa do estudante apresenta fragilidades, como a gestão da ocupação dos apartamentos, a manutenção da infraestrutura e a convivência entre os moradores. Qual a proposta para melhorar a moradia estudantil?
CHAPA 1– Temos consciência de que para uma boa formação não basta estar matriculado em uma boa instituição de ensino. É preciso ter uma rede de apoio à disposição dos estudantes. Enquadramos a problemática das casas dentro de uma gestão voltada a reduzir taxas de evasão de estudantes em situação de vulnerabilidade. Pretendemos garantir editais coincidentes, como o Benefício Socioeconômico (BSE) e a Casa do Estudante Universitário (CEU). Do mesmo modo, trazer para a discussão o amparo imediato aos estrangeiros que chegam a UFSM e que demandam moradia, alimentação e assistência. Precisamos ter clareza para reconhecer diferenças e individualidades, e maturidade para construirmos juntos o melhor gerenciamento de vagas nos apartamentos, bem como, a garantia do bom funcionamento das instalações e dos bens patrimoniados. Precisamos avançar na qualificação dos espaços de acesso dos estudantes da CEU, aos finais de semana, como a união universitária, com equipamentos necessários ao desempenho de atividades acadêmicas.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – A acessibilidade na UFSM apresenta avanços, mas ainda é deficitária em vários aspectos, como os acessos externos e internos dos prédios, a disseminação das LIBRAS entre a comunidade universitária e o combate ao capacitismo. Qual a proposta da sua chapa para a acessibilidade?
CHAPA 1 – Enfrentar a precarização das estruturas físicas assegurando condições adequadas para o ensino, a pesquisa, a extensão e a permanência estudantil, através da manutenção e revitalização dos espaços, garantindo a integridade física das pessoas, ampliando a acessibilidade e a infraestrutura e prezando pela vida e saúde de todos. O dado principal aqui é estar baseado em acessibilidade universal e em soluções que tenham em conta inovações técnicas e tecnológicas, dando igualdade de condições de trabalho, ensino e estudo para todos e todas.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Os eventos climáticos extremos fazem parte da realidade atual e o Sul do país é vulnerável. Em 2024, mais de 95% do Rio Grande do Sul foi afetado por enchentes históricas, que provocaram uma série de problemas, inclusive na UFSM. De que forma a sua gestão, caso vença, irá lidar com o tema?
CHAPA 1 – Nossa resposta vai além do emergencial: trata-se de um projeto estruturante, estratégico e de longo prazo, com impacto direto na proteção da vida, no desenvolvimento sustentável da região e na consolidação da instituição como referência nacional e internacional em estudos de Adaptação para Mudanças Climáticas, pois a UFSM reúne todas as condições – científicas, técnicas, geográficas e institucionais – para liderar o enfrentamento da crise climática no Sul do Brasil. Nossa proposta de gestão reconhece a ciência como ferramenta para proteger vidas, preservar a biodiversidade e promover o desenvolvimento sustentável da região. Vamos retomar o Núcleo para Estudos de Eventos Extremos e Mudanças Climáticas e disponibilizaremos serviços de meteorologia a setores estratégicos regionais estratégicos como o turismo, o setor imobiliário, os negócios em geral e o sistema de saúde. Por fim, reforçar a compreensão de que o conhecimento antecipado sobre eventos climáticos permite desde o planejamento de safras e manejo de irrigação até decisões logísticas em empresas de transporte e armazenamento. Para tanto, é necessário estabelecer as condições favoráveis para o melhoramento da infraestrutura.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – O regime híbrido de trabalho é considerado uma conquista para a classe dos técnico-administrativos, embora haja divergências sobre sua aplicação. Como a sua chapa pretende conduzir essa discussão?
CHAPA 1 – Antes de mais nada, somos favoráveis ao Programa de Gestão e Desempenho (PGD). Julgamos, porém, que houve muita pressa para implantar o PGD e faltou uma discussão mais eficaz entre as partes envolvidas. Ações da Assufsm, ATENS e Sinasefe-SM foram importantes para frear o ímpeto de rapidez da Progep e da Reitoria. A Sedufsm queria ser ouvida e não foi. Por que os representantes dos sindicatos não participaram? A aplicação do PGD precisa ser melhor discutida, com diálogo efetivo e respeito à opinião das entidades representativas dos servidores docentes e técnico-administrativos. Afinal de contas, as atividades e as entregas recaem sobre os servidores. É necessário ter bom senso e escuta nesse processo. Os TAEs da UFSM são qualificados e prestam um serviço de alta qualidade à sociedade.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – A recomposição de vagas por meio de concursos públicos enfrenta limites em áreas como comunicação e acessibilidade. Sua proposta contempla estratégias para lidar com essa questão? Quais seriam elas?
CHAPA 1 – Esta situação precisa ser enfrentada com coragem, diálogo e transparência. Um exemplo: a Coordenadoria de Comunicação da UFSM tem falta de servidores, principalmente nas rádios (Universidade 800 AM e UniFM 107.9) e na TV Campus. Decretos governamentais vêm impedindo a contratação, via concurso público, desses profissionais. Isso é um enorme retrocesso e traz prejuízo às equipes e ao trabalho em si. Já a acessibilidade em concursos e contratações no serviço público é garantida por lei e não tem limitações, mas exige adaptações e medidas específicas para garantir a igualdade de oportunidades. Achamos que aí entra o papel da gestão, o apoio da Procuradoria Jurídica, os pareceres especializados, enfim, através dos quais é necessário estabelecer as justificativas adequadas de modo a enfrentar as limitações legais.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Casos de racismo, xenofobia e LGBTfobia ainda são comuns na Universidade, assim como na sociedade em geral. Para além de campanhas educativas, o que sua gestão pretende fazer para lidar de forma efetiva com esses problemas?
CHAPA 1 – O conceito de equidade consta em importantes legislações internacionais sobre direitos humanos dos grupos específicos (negros, indígenas, pessoas idosas, PCD’s, refugiados/deslocados, mulheres, LGBTQIAPN+, neurodivergentes) pois são reconhecidos como de maior vulnerabilidade, resultando a necessidade de políticas públicas ‘focalizadas’, pois as universais não são capazes de equalizar as desigualdades estruturais. É fundamental a correção de assimetrias, oferecendo as condições necessárias para que todas as pessoas tenham acesso às oportunidades. Um plano de gestão comprometido com esses princípios deve consolidar e ampliar ações afirmativas, políticas de acessibilidade, combate às diversas formas de discriminação e garantia de direitos para os grupos marginalizados. É essencial institucionalizar núcleos e comissões de acompanhamento, fortalecer espaços de escuta e representatividade, além de incorporar a temática da diversidade nos currículos, na formação docente e dos TAEs, e nos projetos de extensão e pesquisa. A criação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade visa garantir a implementação efetiva de políticas afirmativas, inclusão e equidade no ensino superior
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – As realidades dos campi fora de sede são completamente distintas às de Santa Maria. Os campi enfrentam especificidades em relação ao acesso a serviços administrativos e apoio às atividades acadêmicas. De que maneira sua proposta pretende aprimorar a integração e oferecer suporte tanto em termos administrativos quanto nas áreas finalísticas (ensino-pesquisa-extensão-inovação)?
CHAPA 1 – Nossas propostas são de manter um diálogo ativo com as instâncias políticas, administrativas e comunitárias, tanto no campus sede como nos campi fora de sede, recuperando um papel de protagonismo que cabe à universidade pública com sua força de representação e transformação. Para tanto, vamos reforçar o papel e a inserção institucional da universidade nas comunidades que a acolhem e que são por ela acolhidas – tanto no campus central como nos campi fora de sede. Também vamos garantir o devido valor para as atividades de pesquisa, ensino e extensão que possuem conexão direta com aspectos dos municípios abrangidos pela UFSM, com particular reforço aos campi fora de sede. Vamos fortalecer a cultura de cooperação entre os diversos os setores da instituição em todos os seus campi e com as respectivas comunidades externas, por meio do desenvolvimento de ações integradas, projetos colaborativos e parcerias interinstitucionais. No plano de infraestrutura, vamos rever a política de vigilância e segurança dos campi da UFSM. Por fim, vamos ampliar a oferta de formação e titulação aos técnicos administrativos, tanto no campus sede como nos campi fora de sede.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS A UFSM ampliou seus processos seletivos tanto para graduação como pós-graduação, incluindo o retorno do vestibular depois de 10 anos. Mesmo assim, ainda enfrenta problema de preenchimento de vagas em alguns cursos. Qual a proposta para o ingresso?
CHAPA 1 – Do ponto de vista externo, a Universidade precisa retomar protagonismo no conjunto das instituições da região Sul e do Brasil, demonstrar seu valor de excelência, recuperar o diálogo com as comunidades externas, reforçar as feiras construídas em diálogos com o ensino médio. Internamente, precisamos reforçar políticas de permanência estudantil, criar programas de autoavaliação, estreitar o diálogo entre as pró-reitorias e as coordenações de curso. É um esforço conjunto e coordenado que precisa ocorrer para enfrentar tanto a questão do preenchimento de vagas como o problema da evasão.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – O vestibular é um dos principais meios de ingresso na UFSM, mas há debates sobre como torná-lo mais alinhado à democratização do acesso. Como sua candidatura propõe lidar com essa questão?
CHAPA 1 – Entendemos que tanto o sistema regulado pelo SiSU como o vestibular são mecanismos importantes de ingresso. Podemos discutir algo relativo a percentuais de vagas e datas. Mas essa é uma discussão que precisa ser amadurecida com o conjunto da gestão e da comunidade acadêmica. Do mesmo modo, a questão de termos um processo seriado de ingresso. Em síntese, temos aqui algumas coordenadas gerais, mas desejamos colocar o assunto em discussão com a comunidade universitária.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – A extensão universitária tem papel central na articulação da universidade com a comunidade externa. Como sua gestão pretende valorizar e ampliar projetos de extensão, especialmente em regiões vulneráveis e nos territórios onde a UFSM está inserida?
CHAPA 1 – A extensão universitária deve ser consolidada como uma dimensão do ensino e da pesquisa, fortalecendo seu papel transformador junto à sociedade. Um plano de gestão comprometido com essa perspectiva deve institucionalizar práticas extensionistas por meio de políticas que valorizem a curricularização da extensão, incentivem projetos interdisciplinares e ampliem a atuação da UFSM em espaços socialmente vulneráveis, promovendo o diálogo entre saberes acadêmicos e populares. É essencial garantir financiamento, infraestrutura e reconhecimento institucional aos projetos de extensão, além de fomentar parcerias com movimentos sociais, organizações comunitárias, escolas e setores produtivos. Dessa forma, a UFSM reafirma seu caráter público, gratuito e socialmente referenciado, contribuindo para a formação cidadã de seus estudantes e para o desenvolvimento sustentável das regiões onde está inserida.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – A UFSM tem três estruturas no centro de Santa Maria: a Antiga Reitoria, a Casa do Estudante e o Antigo Hospital. Cada um está em um estágio diferente. Enquanto a Antiga Reitoria tem sido recuperada e dado espaço para a extensão, a CEU I carece de mais atenção e ainda não há uma definição para o Antigo Hospital. Qual a proposta para tais espaços?
CHAPA 1 – Para nós, o Antigo Hospital requer uma negociação. A ideia é repassá-lo para um ente público ou privado em troca de benefícios para a Universidade – benefícios que poderiam retornar em obras no campus ou mesmo, na reforma da antiga reitoria e da CEU I. Estes dois espaços, pensamos em manter e redimensioná-los. Achamos que no caso da antiga reitoria, o destino mais lógico seria um grande centro de ações comunitárias, um espaço comum para arte, cultura, ciência e saberes em geral, algo perfeitamente adaptado a acolher a comunidade de Santa Maria. Pensamos em transformar todo aquele espaço – incluído aí o antigo garajão e a antiga Cesma – e um grande complexo de ações comunitárias.
Respostas e fotos encaminhadas pelas representações das candidaturas à Agência de Notícias