Um projeto de pesquisa desenvolvido em parceria entre a UFSM e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) está investigando o uso de revestimentos poliméricos termorresponsivos para aumentar a estabilidade e a durabilidade de enzimas utilizadas em biossensores eletroquímicos, como os testes de glicose amplamente utilizados no monitoramento de diabetes.
Coordenado pela professora Daiani Canabarro Leite, do Departamento de Física da UFSM, e pela pesquisadora Priscila Schmidt Lora, da Unisinos, o projeto tem como foco o desenvolvimento de polímeros capazes de reagir a estímulos externos, como a temperatura, para proteger e liberar reagentes de forma controlada.
Segundo a professora Daiani, os polímeros desenvolvidos funcionam como uma espécie de “cápsula protetora”, que envolve a enzima e impede sua degradação. “Esses materiais reagem a estímulos (por exemplo, à temperatura), liberando o reagente apenas no momento do teste. Isso aumenta a vida útil do produto e reduz a necessidade de armazenamento em condições especiais”, explica.
Na prática, o estudo busca aplicar essa tecnologia na construção de um biossensor de glicose mais estável, em que a enzima glicose oxidase é encapsulada pelo polímero. “Estamos testando se o revestimento desenvolvido pela Daiani pode reter a enzima dentro do produto e liberá-la apenas quando a temperatura for elevada”, complementa Priscila.
A parceria entre as universidades se dá de forma complementar: enquanto a equipe da UFSM é responsável pela síntese e caracterização dos polímeros, a Unisinos realiza os testes práticos nos sensores. “Trabalhamos com uma base comercial, um sensor já pronto. Aplicamos a enzima junto com o polímero e medimos o sinal elétrico gerado pela reação. Assim, conseguimos avaliar se o sistema funciona conforme o esperado”, detalha Priscila.
Além do avanço científico, o projeto representa um fortalecimento da colaboração entre instituições gaúchas. “É significativo ver duas universidades do Rio Grande do Sul, com compromisso científico e de inovação, unindo forças. Parcerias são fundamentais porque ninguém domina todo o conhecimento sozinho”, afirma Daiani.
Os impactos potenciais vão além da academia. De acordo com as pesquisadoras, o aumento da estabilidade das enzimas pode reduzir custos e perdas na produção de dispositivos médicos, especialmente em um país de clima instável como o Brasil. “Essas enzimas são sensíveis à luz e ao calor. Tornar esses produtos mais duráveis traz benefícios diretos à sociedade e à indústria”, destaca Daiani.
O projeto também inspirou uma iniciativa mais ampla: a criação de uma rede de pesquisadores do Rio Grande do Sul voltada ao desenvolvimento de sensores para a saúde. O grupo já reúne cerca de 40 pesquisadores de instituições como UFSM, Unisinos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e universidades federais do Rio Grande do Sul (Ufrgs), de Pelotas (UFPel) e de São Paulo (Unifesp), além de startups, o Senai Polímeros e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre. “Queremos unir forças, cada um contribuindo com o que tem de melhor. É impossível um pesquisador cuidar de todo o processo sozinho”, ressalta Priscila.
A pesquisa aponta para um futuro promissor, tanto para o avanço científico quanto para o fortalecimento da indústria nacional de dispositivos médicos, um setor que ainda carece de produção significativa no país. “Falamos de inovação, geração de empregos e desenvolvimento tecnológico brasileiro”, conclui a pesquisadora.
Texto: Assessoria de Comunicação da Pró-Reitoria de Inovação e Empreendedorismo