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Estudante da Medicina da UFSM é finalista em premiação com estudo que desafia narrativas sobre uso de telas e TDAH

A pesquisa, inédita e construída a partir de dados coletados durante oito anos, questiona a ideia de que mais tempo de tela agravaria sintomas do transtorno



Foto colorida horizontal de dois homens jovens sentados em poltronas à frente de uma parede azul. O jovem da direita é o estudante Ricardo. À esquerda dele, outro homem segura o microfone. À frente deles, a plateia.
Estudante Ricardo Bombardelli durante o Congresso Gaúcho de Psiquiatria

O estudante Ricardo Kaciava Bombardelli, do sexto semestre de Medicina da UFSM, foi finalista entre os melhores trabalhos de psiquiatria da infância e adolescência no XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria. O estudo investigou se o aumento do uso de telas – como televisão, computador, celular e videogame – estaria associado ao aumento de sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ao longo do tempo. O resultado surpreendeu: a pesquisa mostrou que essa relação não se confirma.

O trabalho, orientado pelo professor chefe do Departamento de Neuropsiquiatria, Mauricio Hoffman, analisou dados de uma coorte brasileira acompanhada ao longo de oito anos, considerada uma das maiores e mais robustas do país em saúde mental do desenvolvimento. A pesquisa utilizou três momentos de coleta: quando os jovens tinham cerca de 10 anos, depois aos 14 e novamente por volta dos 18.

 

Estudo inédito no país sobre TDAH

O professor explica que a equipe utilizou um modelo estatístico capaz de observar oscilações individuais ao longo dos anos, e não apenas comparar grupos. “A gente consegue medir o além da média de cada jovem. Se, em determinado momento, ele aumentou o tempo de tela além do que era típico para ele mesmo, e se isso gerou um aumento também atípico nos sintomas”, disse o orientador.

O estudo aplicou escalas de desatenção e hiperatividade respondidas pelos pais, e verificou diariamente o tempo de exposição a telas. Segundo Hoffman, isso permitiu analisar tendências reais de comportamento, isolando confundidores importantes. Ele destaca que efeitos como psicopatologia materna, por exemplo, influenciam tanto na atenção dada ao filho quanto no uso de telas – algo que a análise conseguiu mensurar. “O que encontramos é que o tempo de tela geral não tem impacto duradouro nos sintomas de desatenção. Pelo menos não em longo prazo”, afirmou. O orientador da pesquisa ressalta que efeitos curtos, como irritabilidade após muitas horas seguidas, podem existir, “mas não algo que permaneça anos depois”.

 

Questionar a narrativa dominante

Para o acadêmico Ricardo, o estudo nasceu de uma inquietação: a distância entre o que a mídia repete e o que a ciência mostra. “A gente vê muita notícia dizendo que as telas estão ‘gerando’ TDAH nas crianças. Sempre achei estranho que isso se disseminasse tanto sem estudos sólidos por trás”, questionou.

Ao mergulhar na literatura, estudante e orientador observaram resultados inconsistentes entre estudos anteriores, muitos com metodologias frágeis. A partir disso, os pesquisadores decidiram aplicar um modelo que permitisse analisar a direção dos efeitos – se o tempo de tela aumentava sintomas ou se os próprios sintomas faziam as crianças usarem mais telas.

Ricardo explica: “Talvez a criança com sintomas elevados busque mais estímulos, então ela vai para a tela. A gente não sabia se era isso ou o contrário. Nosso objetivo era entender essa direcionalidade”.

Foto colorida horizontal do estudante Ricardo em pé com microfone na mão direita, próximo à boca, e controle na mão esquerda, usado para comandar a apresentação visual projetada no telão. Atrás dele, um painel azul e um parte da apresentação com desenhos de telas. À frente dele, algumas pessoas
Ricardo apresentou estudo decorrente de oito anos de coleta de dados sobre uso de telas e TDAH

Reconhecimento em congresso e futuro na pesquisa 

O Congresso Gaúcho de Psiquiatria é um dos principais eventos científicos estaduais da área. Promovido pela Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), o encontro reúne psiquiatras, profissionais da saúde mental, pesquisadores e estudantes para discutir avanços, apresentar estudos e debater temas atuais da psiquiatria. O congresso é reconhecido pela relevância acadêmica e por promover a atualização profissional e a circulação de pesquisas inéditas na área. A 17ª edição aconteceu de 4 a 6 de setembro em Porto Alegre.

Ser finalista no congresso foi uma surpresa para Ricardo Bombardelli. “Eu fiquei bem nervoso na hora de apresentar”, contou. “Tinha 40 ou 50 pessoas me olhando, e eu tremia um pouco. Mas, depois, ver as professoras vindo falar comigo, pedindo para eu explicar a pesquisa… foi muito gratificante”, acrescentou. Para o estudante, representar a UFSM em um congresso regional de destaque foi simbólico. “Se não fosse o ambiente acadêmico aqui, o estímulo da universidade e do meu orientador, eu não teria chegado até aqui”, revelou

Ricardo já sabe que quer seguir na pesquisa. Ele revela que só escolheu Medicina por causa da psiquiatria. E,  hoje, o estudante se vê ainda mais perto desse caminho: “Eu sempre quis trabalhar com saúde mental e com pesquisa. Agora estou mexendo com estatística, programação, comportamento… tudo o que eu queria”.

 

Texto: Isadora Bortolotto, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias

Fotos: APRS/Divulgação

Edição: Maurício Dias

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