
A PoliFeira do Agricultor, projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria, tornou-se objeto central de uma tese de doutorado sobre o direito à não agrointoxicação e à soberania alimentar. A pesquisa foi desenvolvida por Francieli Izolani, recém-titulada doutora pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI). O estudo analisou como a feira contribui para a concretização do direito à soberania alimentar, ao mesmo tempo em que amplia a renda dos agricultores e oferece alternativas ao uso de agrotóxicos.
Frequentadora da PoliFeira há vários anos, Francieli transformou sua experiência pessoal em investigação acadêmica. A partir da Teoria do Comunitarismo Responsivo, de Amitai Etzioni, a pesquisadora buscou compreender como a iniciativa articula comunidade, universidade e economia em torno da efetivação do direito à alimentação adequada. A tese indica que a PoliFeira opera como um exemplo prático dessa teoria no Brasil, ao equilibrar interesses econômicos com dimensões sociais e ambientais.
Entre campo, teoria e desafios
O trabalho envolveu pesquisa de campo realizada nos dias e turnos em que a Polifeira funcionava, na avenida Roraima e no campus, ao lado do Planetário, durante cerca de três ou quatro semanas. O processo, no entanto, coincidiu com o período das enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram diretamente os produtores. Muitos deles perderam parte significativa de suas lavouras. A impossibilidade de visitar algumas propriedades alterou o planejamento da pesquisa, mas não impediu a análise das práticas e relações comunitárias presentes na feira.
Para Francieli, a teoria do comunitarismo responsivo foi essencial para compreender a dinâmica da PoliFeira. Na pesquisa, a Universidade é analisada como representante do eixo estatal; a PoliFeira como expressão da comunidade; e os consumidores e produtores, como parte da economia. Segundo a autora, essa articulação demonstra que é possível gerar renda sem que o lucro seja o único objetivo, preservando valores sociais e ambientais. “É um espaço onde há lucro, porque vivemos numa economia capitalista, mas ele aparece como consequência, não como finalidade principal, permitindo que outras dimensões também tenham prioridade”, explica a pesquisadora.
Soberania alimentar em ações locais
A tese também destaca a PoliFeira como agente de promoção da soberania alimentar, conceito que ultrapassa a segurança alimentar ao enfatizar o direito das populações de decidir como produzir e consumir seus alimentos. Para a pesquisadora, em um país cuja produção agrícola é fortemente orientada por demandas do mercado externo, iniciativas locais tornam-se fundamentais.
Francieli aponta que a PoliFeira rompe, ainda que parcialmente, com a lógica de produção colonial descrita por autores como Boaventura de Sousa Santos e Aníbal Quijano. A feira fortalece vínculos diretos entre agricultores e consumidores, estimula práticas sustentáveis e amplia a autonomia dos produtores. “Ela mostra que é possível construir caminhos próprios, fortalecendo práticas sustentáveis, escolhas autônomas e vínculos diretos. Se iniciativas como a PoliFeira se multiplicarem, podemos começar a avançar, pouco a pouco, em direção à soberania alimentar no Brasil”, afirma.
Resultados e próximos passos
Entre os principais resultados, a tese confirma que a PoliFeira exemplifica a aplicação do comunitarismo responsivo no contexto brasileiro e funciona como movimento emancipatório local. Na prática, promove valores ligados à soberania alimentar, mostrando que é possível produzir e abastecer o mercado interno sem colocar o lucro acima da saúde coletiva e do meio ambiente
Com a tese aprovada, Francieli já trabalha na publicação de um livro baseado na pesquisa. O e-book deverá ser lançado em dezembro por uma editora com projeto social voltado à educação infantil. O objetivo, segundo a pesquisadora, é ampliar o alcance do estudo e inspirar outras iniciativas semelhantes em diferentes regiões do país.
Onde encontrar a PoliFeira do Agricultor
-
Terça-feira, das 7h às 12h30 – Avenida Roraima (entre faixa nova e faixa velha)
-
Quarta-feira, das 7h às 13h30 – Prédio 26A – CCS (próximo ao estacionamento do HUSM)
-
Quinta-feira, das 12h às 18h – Largo do Planetário
-
Domingo – Campus Sede UFSM
Com informações da comunicação da PoliFeira do Agricultor
Foto: arquivo pessoal de Francieli