Na manhã desta terça (3), foi realizada, no auditório do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), a apresentação do Documentário “Falando com a boca”. Resultado do projeto do curso de psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), “Oficinas com adolescentes em uma escola aberta: discutindo sobre violência, sexualidade, drogas e projeto de vida”, com a colaboração da jornalista editora da Revista Arco, Luciane Treulieb, o documentário, gravado em 2012, trata a história da infância e adolescência de sete jovens que frequentam a Escola Aberta Paulo Freire, a partir da sua própria narrativa. O projeto faz parte do Núcleo de Estudos Interdiciplinares em Saúde, formado por professores e alunos de graduação e pós-graduação da Psicologia.
A Escola Aberta Paulo Freire recebe crianças e adolescentes, encaminhados pelo Conselho Tutelar e outras instituições de Acolhimento, que não conseguiram se adaptar a escolas regulares, e vêm de uma realidade que é marcada por questões de abandono familiar, violência e exclusão. Baseado nisso, o grupo de pesquisa tentou trabalhar em algo que despertasse o interesse dos estudantes. Mestre em Psicologia e uma das idealizadoras do documentário, Mariana Lopes conta que “a intenção era trazer uma leveza maior aos alunos”. No vídeo, os jovens falam sobre a infância e adolescência, as brincadeiras que gostavam, quais são seus sonhos, suas expectativas para o futuro, o que a família esperava deles entre outras coisas. Todos ressaltaram o desejo de terminar os estudos e ter uma profissão. Construir uma família bem estruturada e ter uma boa casa também foi um dos pontos destacados por alguns deles.
Anderson Figueiredo, na época com 12 anos, ao ser questionado sobre a maneira como educaria os filhos – se da mesma forma que foi educado – responde: "falando com a boca, não pegando o chinelo ou alguma coisa para bater", frase que o grupo acreditou ser a que melhor representava o documentário, tornando-se o nome, diz uma das coordenadoras do Núcleo de Estudos, prof. dra. Dorian Mônica Arpini. A edição do vídeo tratou de dar destaque aos aspectos positivos citados pelos sete protagonistas, para que eles pudessem se ver de forma diferente e encarar a sua realidade um pouco melhor, explica Mariana Lopes.
A professora Mônica destaca a importância de mostrar o lado criança e adolescente retratados pelos próprios jovens, de uma realidade dura de quem não teve apoio familiar. O documentário trata da infância e da adolescência, mas também mostra o sofrimento, a ausência de proteção, e o sentimento de invisibilidade de alguns deles. “Por mais dura que a realidade possa ser, a infância se produz ali e a adolescência também. A ideia é colocar um pouco de olhar sobre isso”, destaca a professora.
A Escola Aberta Paulo Freire é pública e estadual e atende grupos pequenos de crianças e adolescentes do Ensino Fundamental, cerca de 18 a 20 alunos por dia. Oferece café da manhã, almoço e banho aos estudantes, que passam o dia todo na escola. As oficinas realizadas pelo Núcleo de Estudos são encontros quinzenais, onde se discute, através de jogos, vídeos e músicas, temas referentes à sexualidade, drogas, violência, relações familiares, abandono, gravidez, entre outros assuntos que permeiam o cotidiano deles. O grupo mantém contato frequente com a instituição, para dar retorno das atividades realizadas, além de alertar alguns casos em que se observa maior dificuldade de algum aluno.
“Estamos muito felizes de poder concretizar esse trabalho, eles receberam o documentário, a escola viu conosco. E a ideia é de que agora o trabalho continue. Talvez a gente trabalhe com outros recursos a partir do documentário e com o conteúdo que não entrou nesse documentário”, conclui Dorian Mônica Arpini.
Fotos: Arquivo do Núcleo de Estudos Interdiciplinares em Saúde (NEIS).
Repórter: Franciele Varaschini – Acadêmica de Jornalismo.
Edição: Lucas Durr Missau.
