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Como é possível identificar parentesco pelo DNA?

Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, que acontece até sexta-feira (15), gera curiosidade sobre a ciência por trás da ação



Iustração colorida horizontal mostra, à esquerda, uma carteira de identidade brasileira verde, com foto genérica, linhas representando informações e uma assinatura fictícia. À direita, sobre um fundo azul quadriculado, há uma representação estilizada de uma dupla hélice de DNA, formada por esferas amarelas e rosas conectadas por linhas laranjas. Duas legendas com a palavra “DNA” apontam para a hélice, sugerindo a relação entre identidade pessoal e código genético.

O que é identidade? Para alguns, é um número impresso no Registro Civil. Para outros, está nas características que nos diferenciam: o jeito de falar, o formato do rosto ou a história que carregamos. Mas existe também uma assinatura invisível, presente desde o início da nossa existência e gravada dentro de cada célula: o DNA.

Por vezes, esse registro escondido em nossas células é extremamente necessário para identificação de pessoas desaparecidas. Em 2024, o país registrou cerca de 70 mil desaparecimentos, e o Rio Grande do Sul se enquadrou como o segundo estado com mais casos, sendo 7.538 ocorrências. No estado, esse cenário ainda foi agravado pelas enchentes de maio do ano passado. Conforme o Ministério da Justiça, houve um aumento de 7,09% no número de desaparecimentos após as chuvas.

 

Contextos como esse evidenciaram a necessidade de criar a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, que, em 2025, acontece até sexta-feira 15 de agosto e visa ampliar o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG). Apesar da iniciativa possuir ampla divulgação, ainda pouco se destaca sobre o processo científico por trás da coleta e como é possível identificar parentesco pelo DNA.

A ciência por trás da coleta

Descoberto em 1953, DNA significa ácido desoxirribonucleico. Essa molécula está presente em basicamente todas as células que formam o corpo humano e é responsável por armazenar e transmitir as informações genéticas de um indivíduo, sendo assim, parte da nossa identidade.

De maneira didática, o professor Daniel Graichen, também diretor do Laboratório de Genética Evolutiva da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), situado no Campus de Palmeira das Missões, explica que o DNA é como um “manual de instruções” escrito com um “alfabeto químico” de quatro letras (A, T, C e G), que significam Adenina, Timina, Citosina e Guanina, respectivamente.

Com isso, o DNA serve como molde para que as células produzam o RNA mensageiro que, por sua vez, é utilizado como molde para a síntese de proteínas. Conforme Graichen, as proteínas são moléculas metabólicas e estruturais de todos os seres vivos e determinam todos os nossos fenótipos, ou seja, características observáveis de um organismo, como a cor dos olhos e até aspectos mais complexos do metabolismo e do comportamento.

Sobre a ciência por trás da campanha de coleta, Graichen conta que a determinação de parentesco por meio da análise de DNA baseia-se na comparação de regiões específicas do genoma, o conjunto completo de informações genéticas de um ser humano contido no DNA, entre dois ou mais indivíduos. “Essas regiões, denominadas marcadores genéticos, apresentam elevada variabilidade entre pessoas, mas seguem padrões previsíveis de herança mendeliana”, aponta.

Nos testes de paternidade e na identificação individual, os marcadores mais empregados são os microssatélites ou STRs (Short Tandem Repeats). O professor explica que esses elementos consistem em pequenas sequências de nucleotídeos, o “alfabeto químico”, repetidas em conjunto, por exemplo, (ATT ATT ATT ATT ATT ATT), cujo número de repetições varia entre os indivíduos.

Graichen ainda revela que os microssatélites são amplamente utilizados devido a três características principais: alta variabilidade genética entre indivíduos, a herança previsível, com 50% dos alelos provenientes da mãe e 50% do pai, e a facilidade de amplificação por PCR e análise com alta precisão.

O professor comenta que no contexto de teste de paternidade, verifica-se se um indivíduo apresenta combinações de alelos compatíveis com a contribuição genética de um suposto pai, mãe ou outro parente. “A compatibilidade é confirmada quando todos os marcadores podem ser explicados pela soma genética dos supostos genitores”, elucida Graichen.

Segundo ele, no Brasil e em diversos países, os exames forenses e de parentesco seguem painéis padronizados de STRs. O padrão internacionalmente mais reconhecido é o CODIS (Combined DNA Index System), que atualmente contempla 20 marcadores. “O mesmo raciocínio é aplicado para exclusão de paternidade ou absolvição judicial: um suspeito pode ser excluído se o DNA presente na prova não apresentar compatibilidade genética com o seu perfil”, acrescenta.

Em casos de desaparecimentos, Graichen reforça que: “quando não há amostras biológicas diretas da pessoa antes do sumiço, pode-se utilizar o DNA de familiares biológicos, como pais, filhos ou irmãos, para verificar se a amostra encontrada é compatível com a linhagem genética e, assim, estabelecer uma associação com o desaparecido”.

A imagem colorida horizontal apresenta uma explicação visual e textual sobre a estrutura do DNA, com um fundo azul quadriculado e elementos gráficos coloridos que representam a molécula. No centro, há uma ilustração estilizada da dupla hélice do DNA, semelhante a uma escada em espiral. Os “degraus” da escada são formados por pares de esferas conectadas por linhas brancas, simbolizando as bases nitrogenadas. As esferas amarelas e rosas representam os pares de bases químicas que sempre se unem da mesma forma: Adenina (A) com Timina (T) e Citosina (C) com Guanina (G). À esquerda da imagem, um texto explica que o DNA tem formato de dupla hélice e que cada degrau é formado por duas bases unidas. À direita, outro texto define o que são bases nitrogenadas, listando as quatro principais bases que compõem o DNA. Abaixo, em letras grandes e destacadas, está a informação sobre o pareamento específico das bases: “A com T, C com G”. O design da imagem é colorido e didático, com linguagem acessível, voltado para fins educativos. Mostrar menos Conteúdo original excluído.

Quais técnicas e equipamentos se utilizam nesse processo?

De acordo com o professora Graichen, o processo de identificação genética normalmente envolve várias etapas, como a coleta de amostras de sangue, mucosa bucal, ossos ou dentes, a extração do DNA com reagentes químicos ou kits automatizados, e a amplificação do material genético por PCR.

Ele afirma que a técnica PCR é essencial porque “sintetiza in vitro uma região específica do DNA, aumentando em milhões de vezes sua representatividade”, o que permite uma análise precisa. Após isso, aplica-se a técnica eletroforese capilar, que utiliza campo elétrico para separar os fragmentos amplificados por tamanho e determinar o número de repetições em cada marcador genético, criando um “perfil genético”.

Por fim, a interpretação dos resultados é feita com o auxílio de softwares e bancos de dados, que ajudam a calcular a probabilidade de parentesco. Entre os equipamentos utilizados estão termocicladores (aparelhos que permitem a amplificação de fragmentos de DNA), sequenciadores automáticos de DNA, centrífugas, cabines de biossegurança e computadores com programas de bioinformática.

Com a estrutura atual, o professor acrescenta que os “testes de parentesco bem conduzidos podem alcançar confiança estatística acima de 99,99% para confirmar ou excluir paternidade/maternidade, porém, nenhum método é absolutamente infalível e erros como, troca ou contaminação de amostras, interpretação incorreta dos dados, casos raros de mutações ou mosaicos genéticos e relações biológicas atípicas, tais como irmãos muito semelhantes geneticamente, podem ocorrer”.

Benefícios e limitações dos bancos de perfis genéticos

No Brasil, existe o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), instituído no âmbito da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG). Ele integra um instrumento de auxílio nas investigações criminais e na identificação de pessoas desaparecidas. Graichen conta que esses locais “não armazenam o DNA das pessoas, mas o perfil genético identificado pelas técnicas mencionadas anteriormente”.

Ao considerar o cenário nacional, Graichen destaca, a partir do seu ponto vista, os benefícios atingidos com a criação do BNPG e as iniciativas de coleta: “a ampliação da eficácia investigativa, com potencial de acelerar a resolução de crimes e de reabrir casos arquivados, a contribuição significativa para a localização e identificação de pessoas desaparecidas, a integração entre diferentes unidades da federação, promovendo padronização técnica e eficiência operacional, e a possibilidade de prevenir erros judiciais, permitindo tanto a confirmação da autoria de crimes quanto a exclusão de suspeitos inocentes, são pontos positivos”, frisa

Entretanto, o diretor do Laboratório de Genética Evolutiva também aponta desafios e limitações. “A cobertura populacional, embora numericamente relevante, permanece restrita em comparação a países que adotaram sistemas semelhantes há mais tempo, como Estados Unidos e Reino Unido, limitando o alcance potencial do banco”, revela. Atualmente, a RIBPG é composta por 23 laboratórios e cobre todas as 27 unidades federativas. Nesse sentido, Graichen aponta que “persistem desigualdades regionais na infraestrutura laboratorial, o que pode gerar assimetrias na capacidade de análise e processamento das amostras”.

Além disso, o professor  alerta que “a manutenção da base demanda rigorosos protocolos de segurança da informação, a fim de prevenir acessos não autorizados e usos indevidos. Outro ponto, é o cadastramento compulsório que em casos previstos na legislação suscita debates sobre privacidade, direitos individuais e limites éticos, impondo a necessidade de um arcabouço jurídico robusto e transparente”, finaliza.

A Campanha Nacional de Coleta de DNA

Iniciada em 2021, a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas chegou a sua terceira edição em 2025, com 334 pontos de coleta, ativos até o dia 15 de agosto, Brasil afora.  

Em Santa Maria, a campanha recebe a população no Posto Médico Legal de Santa Maria, localizado na Rua Floriano Peixoto, 1750.

Para realizar a coleta, os familiares devem apresentar um documento de identificação e as informações do Boletim de Ocorrência do desaparecimento (número, estado de registro, delegacia). Itens pessoais da pessoa desaparecida, como escova de dentes ou dente de leite, também podem ajudar na identificação. 

Vale ressaltar ainda que há uma hierarquia de prioridade para a doação de material genético. Em primeiro estão, filhos(as) biológicos(as) e o outro genitor, em segundo lugar, Pai e/ou mãe biológicos e, por fim, estão os irmãos biológicos (mesmo pai e mesma mãe). 

O procedimento de coleta é simples e pode ser feito de duas formas: por meio de um cotonete passado na parte interna da bochecha ou com uma gota de sangue extraída do dedo.

Mais detalhes sobre a campanha, outros locais de coleta, dúvidas frequentes e informações sobre as próximas edições podem ser acompanhadas no site do MJSP.

Texto e arte gráfica: Pedro Moro, estudante de Jornalismo e bolsista na Agência de Notícias

Edição: Maurício Dias

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