Uma das medidas da Universidade para intensificar o processo de internacionalização consiste em incorporar às grades curriculares disciplinas ministradas em outras línguas, a OLMI (Other Languages as Medium of Instruction), e em inglês, a EMI (English as Medium of Instruction). As cadeiras não ensinam um idioma, mas conteúdos regulares dos cursos em outras línguas, como francês e espanhol, além do inglês.
A utilização do método OLMI ou EMI geralmente parte da iniciativa do próprio professor ou de uma necessidade por conta da utilização de bibliografia estrangeira, como disciplinas dos cursos da área de Exatas. Por isso, o EMI Consulting Group foi criado com a intenção de auxiliar professores e, também, reunir os dados referentes a essas disciplinas.
Grupo de consultorias para professores de disciplinas EMI
O EMI Consulting Group surgiu em 2024, derivado de pesquisas do Laboratório de Pesquisa e Ensino de Leitura e Redação (LabLeR) do Centro de Artes e Letras (CAL). O grupo tem orientação pedagógica da professora e co-coordenadora do laboratório Graciela Rabuske Hendges, que foi coordenadora geral do Programa Idioma sem Fronteiras (IsF) da UFSM. A professora também orientou pesquisas de mestrado e doutorado de Gabriel Salinet e Juliana Michelon, sobre o uso do EMI em sala de aula.
O projeto é uma parceria do LabLeR com a Diretoria de Relações Internacionais (DRI), por meio das tradutoras institucionais Amy Graham Lee e Daniela do Canto. Amy conta que Graciela foi sua professora durante o doutorado, período em que conheceu o EMI. “Eles [Graciela e Gabriel] foram uns dos primeiros a coletar vários dados de pesquisa sobre o EMI na UFSM, e trabalham muito teoricamente sobre isso. E eu sugeri trazer isso para a prática”, lembra. A ideia surgiu durante o mini pós-doutorado de três meses da tradutora nos Estados Unidos. “Eu estudei sobre docentes não nativos que dão aula nas universidades nos Estados Unidos. E voltei com ideias para começar um projeto piloto”, conta.
As consultorias ocorrem cerca de duas vezes por semestre mediante inscrição. Como surgiu de pesquisas sobre o EMI, é voltado para professoras em disciplinas ministradas em inglês, mas Amy adianta que o grupo planeja expandir as consultorias para OLMI.
Em 2024, cerca de 16 professores participaram das consultorias. A tradutora informa que os docentes são de diversas áreas diferentes. “Tem da Biologia, das Artes, da Filosofia, da Medicina e da Fisioterapia. E tem muitos da Engenharia, Computação, Informática e Física. Tem alguns cursos que tradicionalmente usam muito inglês, como Química, Física e Engenharia Elétrica”, comenta.
Durante as consultorias, os professores podem trocar experiências entre si, e a equipe tira dúvidas, auxilia em dificuldades e discute possíveis soluções, a partir de suas próprias pesquisas e experiências. Além disso, o grupo propõe que sejam feitos planejamentos de aulas durante os encontros.
Uso do EMI em sala de aula
A tradutora Amy comenta que os professores não precisam de uma formação extensa no idioma – apesar de muitos já terem esse conhecimento prévio -, pois esse não é o principal objetivo do EMI. “Quanto mais professores se capacitarem melhor, porque vão ter mais consciência sobre sua prática pedagógica. Não é apenas mudar o idioma da mesma aula, tem certas coisas que mudam também. E a ideia não é que o professor precise ter o melhor inglês do mundo, ser o que chamamos de quase nativo. É sobre usar o inglês na sua área profissional”, enfatiza.
O EMI não significa que aquela aula vai ser inteiramente igual à que anteriormente era ministrada em português, ou que em nenhum momento será permitido falar o idioma materno. É um método adaptável e flexível. Amy explica que o professor pode começar com o uso de algum recurso, como um vídeo. “Falamos muito sobre o que chamamos de translanguage, que é transitar entre inglês e português. Quando precisa, pode usar português, não tem problema nenhum”, explica.
Ela acrescenta que o uso de outro idioma pode ser gradual. “O professor muitas vezes vem inseguro se vai conseguir, mas mesmo algum componente, como um vídeo, já configura uma prática de EMI. Não precisa ser tudo ou nada”, aponta.
Um dos motivos das dificuldades para a implementação do EMI é a falta de um regulamento. Segundo a tradutora, é mais fácil encontrar essas disciplinas na pós-graduação, pois na graduação elas não podem ser obrigatórias, precisam ser eletivas ou complementares, o que limita as possibilidades. Por isso, um dos objetivos do grupo de consultoria é criar uma resolução que facilite esse processo.
Contribuições do EMI como modelo de ensino
O EMI é uma prática que oportuniza ao estudante a expansão do conhecimento acadêmico em uma língua estrangeira. É uma alternativa para quem não conseguem realizar a mobilidade internacional, por meio de intercâmbios. De acordo com a tradutora, apenas 6% da comunidade acadêmica participa de mobilidade no exterior. “Assim eles estão fazendo um tipo de intercâmbio em casa. Aquele aluno que não teve condições de fazer um curso particular de inglês, estará contemplado nessas ações. E é justamente isso que queremos, que seja inclusiva”, defende.
E, além disso, estudantes e professores de fora da Universidade que não sabem português poderão assistir ou ministrar aulas em inglês. “Essa é uma ferramenta poderosa ao fazer com que os discentes tenham mais iniciativa para atuar em um mundo globalizado, para participarem de atividades futuras de intercâmbio, ou atividades de internacionalização. Tem sido uma experiência bem gratificante e produtiva em sala de aula”, relata o docente Élvis Carissimi, do curso de Engenharia Civil.
Como entrar em contato
Email: dri.idiomas@ufsm.br
Instagram: @dri.ufsm e @linc_ufsm
Texto: Giulia Maffi, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: EMI Consulting Group/UFSM
Edição: Maurício Dias, jornalista