A relações públicas Tânia Regina Weber é a primeira entrevistada da série Enlaces, especial voltado às comemorações dos 65 anos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A servidora aposentada atuou na instituição de 2001 a 2022, especialmente no Gabinete do Reitor, onde cuidou do cerimonial universitário. Antes, a relações públicas trabalhou em atividades de comunicação em diferentes estados brasileiros.
Tânia é uma mulher sorridente e carismática, que trata a todos como velhos conhecidos. Não foi diferente comigo e com o fotógrafo Paulo Baraúna no dia em que a entrevistamos por cerca de meia hora no Salão Imembuí. Assim como os demais convidados da série Enlaces, ela escolheu o local, que, aliás, Tânia conhece como a palma da sua mão. Um comentário feito pela nossa entrevistada foi sobre uma pequena infiltração no mural do artista Eduardo Trevisan.
Nossa conversa abordou a paixão de Tânia pelo cerimonial universitário, assunto de seu mestrado e que culminou na criação de um grupo que, hoje, reúne profissionais de instituições de ensino superior de todo país. Também dialogamos sobre a vida de aposentada e a família. Confira a seguir a conversa com Tânia:
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Como você começou a trabalhar como servidora na UFSM?
TÂNIA REGINA WEBER – No início, eu comecei na Coordenadoria de Comunicação Social e, após alguns meses, fui convidada para trabalhar no Gabinete do Reitor. Na época, o reitor era o professor Paulo Jorge Sarkis, e o chefe do gabinete era o professor Isaías Salin Farret. Foi ele quem me convidou para trabalhar com cerimonial e protocolo no gabinete. Eu não tinha muita experiência nessa área, mas fui muito incentivada pelo professor Isaías a me desenvolver nessa parte. Então eu fiz vários cursos, fui me aperfeiçoando e gostando cada vez mais.
Depois que tu começas a trabalhar com cerimonial, se encanta, porque é uma área muito bonita. Às vezes, o pessoal pensa assim: ‘cerimonial é bobagem. Deixa pra lá’. Mas não imagina em um evento o que o cerimonial faz. Ele organiza aquele evento, informa quais autoridades vão falar, qual a ordem, se tem discurso, quem fala primeiro, quem fala depois e a ordem de precedência das bandeiras. Tudo isso faz parte do cerimonial universitário.
Eu fui me aperfeiçoando e, em 2012, tive a oportunidade de fazer o mestrado profissional em Gestão de Organizações Públicas aqui na UFSM, e a minha dissertação foi especificamente sobre cerimonial universitário.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Por que você escolheu estudar Relações Públicas?
TÂNIA – A área da comunicação sempre me atraiu. Na época tinha três habilitações: Relações Públicas, Jornalismo, Publicidade e Propaganda. No ano que eu entrei, em 1981, também tinha Rádio e Televisão. E, avaliando cada uma, eu me identifiquei mais com a área de Relações Públicas.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – E você se sentiu realizada trabalhando como relações públicas?
TÂNIA – Sim, eu me realizei. Fiz muitas amizades e tenho conhecidos da área no Brasil inteiro. Não tem muita literatura referente a isso [Nota: aqui a entrevistada se refere ao cerimonial universitário]. Por isso, eu decidi fazer a minha dissertação sobre esse tema. Foi muito interessante. Nós fundamos o Forcies, que é o Fórum Nacional dos Organizadores de Cerimônias Universitárias e Acadêmicas. Primeiro eram só as instituições federais. Depois, passou a ser de todas as universidades, incluindo estaduais, confessionais e particulares.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Você gostava do seu trabalho na UFSM?
TÂNIA – Eu adorava meu trabalho. Sempre exerci com todo o profissionalismo, dedicação e amor. Meu trabalho me proporcionou muitas alegrias. Conheci muitas pessoas e fiz amizades que eu levo para a vida inteira e que moram no meu coração para sempre. Eu tenho amigos da geração mais antiga, da época em que eu trabalhei e, inclusive, dessa geração que continua atuando aqui na UFSM.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Como era seu dia a dia na reitoria?
TÂNIA – Eu trabalhava com o cerimonial universitário na organização de diversos eventos que acontecem na Universidade. Os eventos mais importantes que eu sempre participei foram as cerimônias de colação de grau. Foram inúmeras formaturas. Também organizei outros eventos que aconteciam na Universidade, todo tipo de seminário, congresso, cerimônias de posse de diretores de centro e diretores de unidade. Organizei todos os eventos que passavam pelo Gabinete do Reitor.
Eu trabalhei com o professor Paulo Jorge Sarkis, depois com o professor Clóvis Silva Lima, com o professor Felipe Martins Muller, com o professor Paulo Afonso Burmann e, por último, com o professor Luciano Schuch.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Existe algum momento mais marcante para você durante os seus anos de UFSM?
TÂNIA – Tem uma coisa que sempre me emociona muito quando lembro. Após o incêndio da boate Kiss, eu estava passando por um problema pessoal. Depois de passar um tempo da tragédia, nós organizamos um culto ecumênico ao lado da reitoria. Foi um momento muito bonito e marcante. Enquanto eu estava no palco, ajudando na organização, eu recebi um telefonema. O meu irmão estava com leucemia e ele acabou falecendo. Nós éramos seis filhos e eu era a única compatível com ele para a doação de medula óssea. Eu recebi essa notícia quando estava ali no palco, organizando o evento. Isso me marcou bastante.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Você passou por algum momento desafiador?
TÂNIA – Momentos desafiadores sempre tem. Por exemplo, a cada troca de gestão geralmente trocam os assessores no Gabinete do Reitor. Mas eu permaneci. Eles sempre me convidavam para continuar. E, como eu adorava o meu trabalho, continuava.
Na pandemia, a gente teve um desafio: como realizar as cerimônias sem público? A gente teve que organizar cerimônias de colação de grau aqui na reitoria, na sala dos conselhos. Cada estudante na sua casa, cada professor na sua casa e a gente aqui. A gente teve que fazer uma adaptação bem grande na época da pandemia. Mas, graças a Deus, passou e retomamos as solenidades presenciais.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Você comentou que tem filhos. Pode contar sobre a sua família?
TÂNIA – Eu tenho dois filhos. A Vanessa, que é bióloga, e se formou aqui na UFSM. Ela segue a vida dela na Suíça. Ela se casou com o Sanzio, um italiano. Também tenho um filho, o William, que é engenheiro civil também formado aqui na UFSM. Ele fez o mestrado e o doutorado em Portugal e, desde fevereiro, está morando e trabalhando em Londres.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Por que você se aposentou?
TÂNIA – Eu preenchi todos os requisitos de idade e de tempo de contribuição. Já podia me aposentar, mas continuei trabalhando no abono permanência. E, aí, a minha filha engravidou e perguntou se eu iria para a Suíça acompanhar o nascimento da minha neta. Eu decidi: “bom, está na hora de parar de trabalhar e partir para outros rumos”. Eu me aposentei no dia 29 de abril de 2022 e fui para a Suíça. A minha neta, a Marina, nasceu no dia 11 de junho de 2022, e é uma das grandes alegrias da minha vida.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – E você já se habituou com a vida de aposentada?
TÂNIA – A gente sempre pensa que vai ser difícil, porque são muitos anos de dedicação e de uma rotina de acordar cedo, trabalhar o dia todo e só voltar para casa no final da tarde. Durante 21 anos essa foi a minha rotina. E eu pensava: “mas parar assim, o que eu vou fazer da vida?”. Mas, quando eu decidi parar, logo eu fui para a Suíça e fiquei três meses lá, o que foi maravilhoso.
Depois voltei ao Brasil. Aí, acabei me envolvendo com a minha mãe, que está com 94 anos e mora com a minha irmã, a Marli. Tenho outros irmãos que moram aqui e uma irmã que mora em Caxias.
Sou diretora de comunicação da Atens, a Seção Sindical dos Técnicos de Nível Superior da UFSM. Isso faz com que me envolva com a Universidade até hoje.
Também faço outros projetos que, quando a gente trabalha não consegue se dedicar muito, como o pilates.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Depois de mais de 20 anos como servidora e de três como aposentada, como você percebe a universidade hoje?
TÂNIA – A universidade sempre foi muito importante, teve um papel de destaque na cidade e na região. Apesar de ter passado por vários governos meio problemáticos, que não acreditam muito no ensino superior e na educação, a universidade está resistindo.
Agora, ela vai completar 65 anos, no dia 14 de dezembro de 2025. E a nossa universidade é referência, vai continuar sendo e resistir. Eu só tenho gratidão à UFSM. Eu tenho 64 anos, a UFSM sempre fez parte da minha vida e vai continuar fazendo.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Quais são suas perspectivas?
TÂNIA – Por enquanto, meu sonho é continuar viajando e visitando meus filhos. E, provavelmente, vou ter mais netos. Talvez da minha filha, do meu filho. Também quero continuar convivendo mais com as minhas amigas e curtindo a vida.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Por que a senhora escolheu o Salão Imembuí para a nossa entrevista?
TÂNIA – Porque ele sempre esteve muito presente no meu dia a dia. O Salão Imembuí fica no mesmo prédio que o Gabinete do Reitor, e praticamente todos os dias tinha algum evento aqui. Então, eu já conhecia cada cantinho daqui e esse painel maravilhoso do Eduardo Trevisan. Quando tu pediu uma sugestão de lugar, eu achei que aqui seria perfeito.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Você gostaria de deixar uma mensagem para os 65 anos da UFSM?
TÂNIA – Eu quero parabenizar a UFSM pelos seus 65 anos e todos aqueles que fizeram, fazem e farão parte dessa universidade. O sentimento maior é de gratidão à UFSM.
A Série Enlaces entrevista pessoas ligadas à UFSM. É um especial dos 65 anos da instituição produzido pela Agência de Notícias para o site e para o Instagram.
Entrevista e texto: Jessica Mocellin, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos e vídeo: Paulo Baraúna, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Maurício Dias, jornalista
Supervisão geral: Mariana Henriques, jornalista e chefe da Agência de Notícias