O pós-doutorado do professor Renato Machado, na Suécia, contou com uma parceria entre a UFSM, a Blekinge Institute of Technology (BTH) e o Grupo Saab Electronic Defense Systems (SAAB). No projeto, o professor desenvolveu algoritmos de detecção de alvos para o sistema CARABAS II e CARABAS III e também Radares de Abertura Sintética (Sintetic Aperture Radar – SAR). Eles têm por finalidade o monitoramento de grandes áreas (em geral com camuflagem natural – floresta), através da obtenção de imagens formadas pela reflexão de ondas de rádio. O radar serve para detectar objetos na escala de alguns metros de distância e a principal aplicação é de defesa militar.
O professor Renato Machado é formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e tem mestrado e doutorado também em Engenharia Elétrica, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além disso, realizou um doutorado sanduíche na Arizona State University (ASU) e, recentemente, foi para a Suécia realizar seu pós-doutorado, na Blekinge Institute of Technology (BTH). Atualmente é professor na UFSM, onde também é coordenador do curso de Engenharia de Telecomunicações, trabalhando principalmente na área de comunicações e processamento digital de sinais.
Nos últimos anos a UFSM buscou se aproximar do Exército, em função do potencial que Santa Maria tem na área de defesa. Esta abertura ocorreu lentamente, uma vez que havia grande rejeição da comunidade.
“Muitos aqui na Universidade pensaram que nós, do Centro de Tecnologia (CT), estivéssemos desenvolvendo armas e outras coisas que pudessem causar prejuízo à vida humana. Em nenhum momento isso passou pela nossa cabeça. Na verdade as demandas eram tecnológicas, como desenvolvimento de equipamentos de simulação e treinamento”, afirma o professor Renato Machado.
Após ver o potencial da cidade na área de defesa, empresas estrangeiras começaram a vir pra cá. Entre elas a SAAB, empresa criadora de Sistemas de Defesa, sediada na Suécia. Foi com este contato que surgiu a oportunidade de realizar um pós-doutorado na BTH, com parceria da SAAB e trabalhar no desenvolvimento de algoritmos e técnicas de detecção de alvos com dados fornecidos pelos sistema SAR da SAAB. Lá, Renato ficou de Novembro de 2013 à Fevereiro de 2015 trabalhando com os sistemas SAR CARABAS II e CARABAS III em parceria com o professor Mats Petterson da Blekinge Institute of Technology e com os pesquisadores Patrik Dammert e Hans Hellsten da Electronic Defense Systems.
O radar opera na faixa de frequência VHF-UHF. Quando ele emite um sinal, essa onda eletromagnética interage com o meio e então, as componentes ou a porção que irá refletir dessa onda é captada novamente pelo radar. Através deste retorno é possível processar a informação e formar uma imagem.
No Brasil esta pode ser uma importante tecnologia. Suas principais aplicações seriam no monitoramento da fronteira terrestre brasileira, possibilitando a verificação de entrada indevida de veículos, identificando rotas de tráfico de drogas e armas, além da identificação de cabanas, cercas e outros objetos. Em países onde a guerra é muito presente, ela pode servir para a identificação de minas terrestres, principalmente aquelas que não foram desativadas e acabaram esquecidas após as batalhas. Essas minas abandonadas são responsáveis por posteriores explosões, causando lesões e mortes a inocentes.
Segundo o professor, esta não é uma tecnologia tão recente. Entretanto não existem outros projetos que trabalhem com pesquisas nas mesmas faixas de frequência, sendo a SAAB uma das pioneiras.
“Normalmente, quanto mais baixa a faixa de frequência, maiores são as dimensões dos equipamentos. A grande inovação da SAAB foi conseguir reduzir a eletrônica e dimensões das antenas a um tamanho pequeno suficiente para acoplar o equipamento em pequenas aeronaves (inclusive VANTs – veículos aéreos não tripulados). Essa foi a grande contribuição que eles tiveram: a miniaturização do hardware”, relata.
Professor visitante e resultados da parceria
O professor Renato também conseguiu aprovação de outro projeto junto ao CNPq para receber Mats Pettersson, que foi seu supervisor na BTH, como professor visitante na UFSM. Por três anos, Mats vem ao Brasil para passar períodos de aproximadamente um mês e meio aqui na Universidade. Neste ano, o professor realizará sua última visita, porém, Renato já submeteu outro projeto, para dar continuidade à parceria.
O professor Mats é um dos mais importantes pesquisadores, a nível mundial, na área de SAR, com uma vasta experiência e uma grande rede de contatos e parcerias. Quando vem para o Brasil ele discute questões de pesquisa, dá palestras e participa de eventos e congressos regionais e nacionais.
Outro resultado que surgiu desta parceria foi o envio de outros brasileiros para realizarem pesquisas na Suécia. Além de três professores que fizeram doutorado em parceria com a SAAB, um dos alunos do professor Renato está fazendo doutorado com Mats Pettersson, em parceria com a Agência Espacial Sueca. Há possibilidade de mandar outro aluno para realizar um doutorado sanduíche, na BTH e em parceria com a SAAB, para trabalhar também com radar.
Ricardo Dal Molin Júnior é aluno de iniciação científica do professor Renato. Ele está trabalhando com SAR e já alcançou resultados muito significativos. “Tivemos um artigo aceito no IEEE IGARSS 2017, um dos maiores congressos do mundo na área de geoprocessamento e sensoriamento remoto e iremos apresentar o resultado lá. Também estamos escrevendo um artigo com o maior resultado que conseguimos: um algoritmo novo. O pessoal da SAAB achou o máximo! Tentaremos publicar em periódico e pedir registro de patente”, explica o professor, ressaltando que isso tudo foi feito por um aluno de TCC.
Recursos financeiros
O financiamento do projeto que visou desenvolver este radar foi dividido entre o Brasil e a Suécia. Ambos pagaram 50%, entretanto, no Brasil quem financia estes programas é o governo, enquanto na Suécia os recursos provêm de empresas privadas (neste caso a SAAB).
“Na minha opinião, a Suécia vê o Brasil como um país estratégico. Há um grande interesse deles em investirem nesta parceria. E eu creio que, para o Brasil, a Suécia também é um país estratégico, seja pela área de defesa, seja por linhas de pesquisa, ou pela aproximação de alunos e professores com as instituições de lá . Essa parceria pode facilitar nossa entrada em outros mercados”, ressalta Renato.
Se o projeto for concluído com sucesso, além da credibilidade, também abre-se a possibilidade de criação de novos programas e maior recebimento de recursos financeiros. Quanto aos royalties, esses normalmente são divididos, de acordo com a proporcionalidade do investimento feito.
Perspectivas futuras
O professor planeja desenvolver futuramente um sistema SAR no Brasil, semelhante ao sistema CARABAS. Segundo ele, com uma possibilidade mais ampla de recursos haveria uma maior liberdade para trabalhar. Além disso, trabalhar com tecnologia de ponta favorece muito os outros recursos humanos. Com o projeto sendo realizado aqui, seria possível uma formação que mesclasse a teoria à prática.
Há dois anos, Renato encaminhou um projeto para trabalhar com SAR aqui na UFSM. A ideia é fazer uma parceria com a SAAB, Exército ou Força Aérea.
“Eu não sei quanto tempo ainda iremos levar. É um projeto bem grande em termos financeiros e, quando as cifras começam a aumentar, os riscos também aumentam. Como este é um projeto de pesquisa e desenvolvimento, você não sabe qual será o resultado final. Há toda uma análise de riscos que precisa ser feita”, declara.
Via site UFSM.