Projeto arquitetônico é vinculado ao Laboratório de Paisagismo e Arquitetura, coordenado pelo professor Luis Guilherme Pippi.
A Universidade Federal de Santa Maria realizou, na manhã desta terça-feira (27), o lançamento da pedra fundamental do Memorial da Vida, que homenageará a memória das 242 vítimas da tragédia na boate Kiss. A cerimônia ocorreu no local destinado à construção do memorial, em uma área de campo próxima ao Centro de Convenções, no campus sede, em Camobi.
Participaram da cerimônia o reitor da UFSM, professor Paulo Afonso Burmann, o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Sérgio da Silva, o vice presidente da Associação, Flávio José da Silva, o comandante da ALA 4, tenente-coronel aviador Elison Montagner, o delegado da Receita Federal de Santa Maria, Araquém Ferreira Brum, o diretor-presidente do Sindicato dos Engenheiros do RS, Alexandre Mendes Wollmann, diretores de centro, pró-reitores, membros da Comissão UFSM Pró-Memorial às Vítimas da Bote Kiss, acadêmicos do Laboratório de Paisagismo e Arquitetura, familiares e amigos das vítimas, além de servidores e alunos.
O primeiro a falar foi o coordenador do Laboratório de Paisagismo e Arquitetura e membro da comissão, professor Luis Guilherme Pippi, que orientou a elaboração do projeto. Ele destacou a importância do trabalho realizado, contando sobre a atuação da comissão e as premissas para a elaboração, assim como a escolha do local para a construção e a estrutura com a qual contará o Memorial (ver detalhes abaixo). Pippi reforçou o caráter de integração: “Cabe à nossa instituição concretizar este local, que nos permite diversas transposições. É um espaço ecumênico, um espaço integrador, um espaço de todos, das gerações atuais e das gerações futuras”. O professor encerrou sua fala destacando as diferenças entre o projeto para o campus e o projeto do memorial que será construído no local da tragédia.
Na sequencia, o presidente da AVTSM falou aos presentes. Ele iniciou com agradecimentos ao tenente-coronel Montagner, pelo apoio das Forças Armadas, e ao engenheiro Alexandre Wollmann, que acompanha a luta das famílias. Em seguida, agradeceu ao reitor da UFSM, Paulo Burmann, pelo apoio prestado pela instituição à AVTSM, como no local disponibilizado para a associação, no respeito com que trata os familiares e sua luta, e em como trabalha para que questões ideológicas e políticas não estejam acima da proteção à vida. Sérgio saudou, também, a atuação da professora professora Virgínia Vecchioli e da psicóloga Fabiane Bortoluzzi, pelo auxílio aos familiares e ao professor Pippi e às acadêmicas pela elaboração do projeto.
Após desabafar sobre a luta dos familiares por justiça, o presidente da AVTSM apontou sua expectativa sobre o projeto: “Que este memorial traga um pouco de conforto e diga que não podemos ser irresponsáveis com a vida. Ele deve, além de memorizar a história dessas vítimas, que não tem voz para se manifestar, dar informações às futuras gerações. Nós precisamos contar essa história para quem quiser saber”.
Sérgio cedeu lugar a duas mães de vítimas, Marta Beuren e Áurea Flores, que também expuseram seus sentimentos ao público. Para Marta, “no lançamento da pedra fundamental do Memorial, cada um colocará sua emoção, valores, e as intenções para a vida e a forma concreta da memória. Será também a forma sutil e silenciosa de abraçar novas gerações que irão pisar nesse campus universitário”. Áurea direcionou sua fala aos estudantes. “Vocês eram brothers, irmãos, muitos de vocês conheciam os nossos filhos, era melhores amigos. Você, jovem, pode dizer não. Não a lugares que não te respeitem. Dá para conscientizar, dá para denunciar. Omissão não nos cabe mais. Vocês podem ser porta-vozes dos nossos filhos”. Ela fez referência, também, à importância da cerimônia e do Memorial. “Hoje, a memória não mais se perderá. Abre-se a possibilidade de caminharmos por esses campos universitários, neste lindo lugar escolhido, parece que revendo o jeitinho de cada um, o olhar, o sorriso que sempre foi a marca registrada dos jovens que, em sua maioria, pertenceram a este lugar. Para eles, a UFSM significava o sol da esperança. Que vocês possam dar continuidade aos sonhos dos nossos filhos”.
A fala seguinte foi do reitor Paulo Burmann, que saudou aos pais, mães, familiares e amigos das vítimas e aos demais presentes. Burmann agradeceu a todos que direta ou indiretamente deram sua contribuição ao projeto. O reitor salientou que a Universidade não poderia se omitir frente à tragédia e à dor e que tem buscado tratar a questão com carinho, cuidado e respeito. “Estamos aqui em honra à memoria de todas essas pessoas, tendo sido ou não estudantes da nossa Universidade. Este é um espaço público e pertence a todos nós. Esse memorial é para todos. é para celebrar a vida, é para registrar na história. Para que nunca mais se repita”.
Após, o reitor chamou familiares das vítimas para que, juntos, realizassem o descerramento da placa da pedra fundamental. O momento foi de grande emoção e seguido por longos aplausos dos presentes.
Os trabalhos seguirão, agora, com o desenvolvimento do projeto e, em seguida, com a captação de recursos para a construção.
O projeto
O projeto preliminar prevê uma passarela rodeada por um espelho d’água com 242 esguichos que dá acesso a um prédio com hall para exposições e salas multimídia. A edificação conta com um terraço-jardim que funcionará como mirante para os morros da cidade, áreas verdes do campus e o Centro de Convenções. O prédio, todo idealizado em vidro para estimular o contato com a natureza, ainda dará acesso a um monumento em formato de coração em meio a outro espelho d’água. No entorno, o projeto prevê a plantação de 242 espécies de árvores que florescerão em tempos distintos durante todas as estações do ano, e uma espécie de arquibancada ao ar livre com platôs para descanso e contemplação. Pippi destacou áreas do Memorial que poderão ser usadas em ações de prevenção junto a pequenos grupo e um anfiteatro, que aproveita a topografia do local.
As conversas para a realização do Memorial tiveram início em abril de 2017, quando formou-se, por iniciativa da gestão da Universidade, uma comissão composta por servidores docentes e integrantes da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). A partir das discussões da comissão, de entrevistas com familiares e das diretrizes estabelecidas para o outro memorial, que será construído no local da tragédia, foram iniciados os trabalhos no projeto para o campus. Em julho de 2017, foi formado um grupo com estudantes de Arquitetura e Urbanismo, sob a coordenação do professor Luis Guilherme Pippi, que também integrava a comissão. Esse grupo apresentou o projeto arquitetônico preliminar em dezembro ao Gabinete do Reitor.
Pippi conta que a escolha do local se deu com base nas necessidades apontadas durante os estudos para o projeto. “A gente optou por ser uma área nobre, pelos visuais da paisagem do campus, dos bosques, do espaço livre e do Morro do Elefante ao horizonte. A gente achou o lugar mais contemplativo que poderia ser o Memorial”.
Texto e fotos: João Ricardo Gazzaneo – Site UFSM
Revista Arco: Confira uma seleção de pesquisas desenvolvidas na UFSM sobre a tragédia na Boate Kiss
UniFM: Confira abaixo o áudio da entrevista concedida pelo professor Luis Guilherme Pippi ao programa Bom Dia Universidade, na última segunda-feira (26).