A UFSM formou uma equipe voltada ao desenvolvimento de um veículo elétrico movido a hidrogênio. Trata-se da equipe Bombaja H2, projeto derivado do Bombaja, tradicional e premiada equipe de competição de veículos off-road da instituição, e que promove a integração entre ensino, pesquisa e extensão. A nova equipe, formada no CT, busca adaptar um veículo já existente à propulsão por hidrogênio. O objetivo do projeto é participar da competição nacional da modalidade, a SAE H2, prevista para ocorrer de 30 de julho a 3 de agosto, em São Paulo.
A ideia surgiu no início de 2024, a partir da percepção de que a UFSM ainda não possuía equipes voltadas para a mobilidade elétrica ou para tecnologias de hidrogênio, diferentemente de outras universidades brasileiras. “Decidimos começar pelo hidrogênio, porque as universidades com tradição em inovação já tinham algo nessa área. Pegamos essa ideia e abraçamos a causa de criar uma equipe com esse foco”, explicou Leonardo Felipe dos Santos, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFSM (PPGEE) e um dos integrantes do projeto.
O veículo utilizado na adaptação será o BJ-16, um carro antigo do Bombaja. A escolha se baseia em uma exigência da competição, que permite realizar adaptações mínimas em projetos já existentes. Enquanto o Bombaja foca no desempenho estrutural e dinâmico de seus veículos, a equipe Bombaja H2 prioriza o desenvolvimento da tecnologia de propulsão a hidrogênio.
Competição recente e tecnologia emergente
A competição SAE H2 teve sua primeira edição presencial em 2022, depois de dois anos de realização no formato online devido à pandemia. Voltada para a pesquisa e inovação, a disputa exige que as equipes desenvolvam sistemas de propulsão a hidrogênio, com critérios que avaliam não apenas o desempenho do veículo, mas também a eficiência energética e o aproveitamento dos recursos. No Brasil, o diferencial da prova é a obrigatoriedade de converter o hidrogênio em eletricidade para alimentar o motor, o que aproxima a competição do contexto industrial nacional.
“O Brasil é hoje o maior produtor de hidrogênio verde do mundo, com pureza de 99,9%. No entanto, exporta quase toda a produção, e a infraestrutura para uso interno ainda é escassa. Esse tipo de projeto ajuda a preparar profissionais para essa nova demanda do mercado energético”, destacou Leonardo Felipe.
Equipe multidisciplinar e desafios
Atualmente, a Bombaja H2 conta com 14 integrantes, número que deve chegar a 30 nos próximos meses, com a finalização do Processo Seletivo iniciado em junho. A equipe é composta por estudantes de graduação, pós-graduação e ensino técnico. Os cursos de graduação representados são: Ciência da Computação, Engenharia Aeroespacial, Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e Engenharia de Telecomunicações. “Abrimos o processo seletivo para o CTISM (Colégio Técnico Industrial de Santa Maria) e houve bastante interesse, principalmente pela proposta de trabalhar com energia limpa e sustentável”, contou Pedro Henrique Santos, discente de Engenharia Mecânica e gerente de marketing da equipe.
Além das vagas para as áreas técnicas do projeto, como estrutura, suspensão, freios, elétrica, entre outras, também foram abertas oportunidades para a área de gestão, que abrange marketing e setor administrativo. Essas vagas foram destinadas a acadêmicos de todos os cursos da UFSM, com prioridade para os cursos de Comunicação Social e Administração.
Por enquanto, a Bombaja H2 não possui um espaço próprio. As atividades vêm sendo realizadas em parceria com o Bombaja, na oficina mecânica do CT, além do espaço cedido por laboratórios como o Centro de Excelência em Energia e Sistemas de Potência (CEESP), o Grupo de Eletrônica de Potência e Controle (GEPOC) e o Grupo de Estudo e Desenvolvimento de Reatores Eletrônicos (GEDRE). A equipe planeja conseguir um espaço fixo para realizar as pesquisas que possam ser utilizadas a longo prazo.
Extensão e qualificação
Além do desenvolvimento técnico do veículo, o projeto Bombaja H2 prevê a realização de ações de extensão e cursos de capacitação para estudantes e comunidade externa. Estão previstas oficinas sobre softwares de modelagem, como SolidWorks, sobre noções básicas de elétrica predial e minicursos de Matlab e HIL (Hardware-in-the-Loop), ferramentas que permitem simular o comportamento de inversores e sistemas de propulsão antes da montagem física.“Queremos levar o conhecimento de hidrogênio para as escolas, mostrar na prática o que é a engenharia e estimular os jovens a ingressarem na área. Sobram vagas no CT hoje, e isso é preocupante. Esse projeto também serve para divulgar a engenharia e a UFSM”, afirmou Leonardo Felipe.
Expectativa para a competição
Apesar do desejo de levar o carro para a competição ainda neste ano, a equipe enfrentou dificuldades de prazo para inscrição e envio de documentação. “Se tivéssemos começado dois meses antes, seria possível. O prazo para envio dos documentos terminou dia 10 e não conseguimos cumprir”, lamentou Pedro Henrique
Mesmo assim, os integrantes planejam ir a São Paulo para acompanhar o evento e estabelecer contatos com outras equipes e com a organização da SAE. A participação presencial é considerada estratégica para aprender sobre as exigências da competição e garantir melhores condições para a edição de 2026. “A ideia é pular etapas e chegar com um carro pronto. A SAE fornece a célula de hidrogênio e as baterias, mas o restante pretendemos produzir aqui na UFSM”, comentou Pedro Henrique.
Mobilização e financiamento
O projeto ainda busca financiamento para cobrir os custos de transporte, equipamentos e inscrição. Além do apoio da universidade, a equipe mantém negociações com empresas parceiras e elaborou propostas para entidades como o IEEE, com o objetivo de captar recursos e expandir as atividades de extensão.
“Nossa preocupação é que os alunos não precisem tirar dinheiro do próprio bolso para participar. Queremos viabilizar tudo por meio de parcerias e recursos externos”, ressaltou Pedro Henrique.
Formalização e perspectivas
Atualmente, a Bombaja H2 está vinculada ao projeto Bombaja, como uma subdivisão. A oficialização como subequipe deve ocorrer em breve, junto ao professor Thompson Lanzanova, do Departamento de Engenharia Mecânica, coordenador do Bombaja e ao docente Jonas Roberto Tibola, do CTISM, orientador do Bombaja H2. A expectativa dos integrantes é consolidar a equipe, desenvolver tecnologia própria para o setor e se tornar referência nacional na área de veículos movidos a hidrogênio.
Texto por Marina dos Santos, acadêmica de jornalismo, com supervisão da Subdivisão de Comunicação do CT/UFSM.
Foto por Bombaja/Divulgação
Quer divulgar suas ações, pesquisas, projetos ou eventos no site? Acesse os serviços de Comunicação do CT-UFSM! Siga o CT nas redes sociais: Facebook e Instagram!