Leonidas Augusto da Silva é o atual Peão Farroupilha do Rio Grande do Sul. Natural de Horizontina, o jovem de 21 anos representa o Centro de Pesquisas Folclóricas (CPF) Piá do Sul e recebeu o posto no 36º Entrevero Cultural de Peões. Além disso, Leonidas é estudante do 8º semestre de Engenharia Civil no Centro de Tecnologia da UFSM.
O posto de Peão Farroupilha é outorgado anualmente para jovens tradicionalistas que, representando seu CTG (Centro de Tradições Gaúchas), disputam o posto em um concurso chamado Entrevero Cultural de Peões. Promovido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), o Entrevero Cultural de Peões busca selecionar jovens que possam representar a cultura gaúcha em diversas circunstâncias. O evento tem como principal objetivo perpetuar e valorizar a cultura do estado, incentivando crianças e jovens a se envolverem no meio tradicionalista. Os candidatos passam por diversas avaliações, como a prova escrita, que conta com questões de história, geografia e o tradicionalismo gaúcho; a prova artística, que envolve danças, declamação, canto e execução de instrumentos; a prova oral, que conta com temas sorteados e, por fim, a prova campeira, com o laço, encilha e outras demonstrações de habilidades rurais.
O 36º Entrevero Cultural de Peões foi realizado em Santa Maria no mês de Abril de 2025 e consagrou Leonidas com o Peão Farroupilha 2025/2026, posto mais alto do concurso. Leônidas atualmente concilia as atribuições de Peão Farroupilha com as de estudante de engenharia no CT.
Confira a seguir a entrevista realizada com ele que encontrou um tempo para conversar com a equipe da Comunicação do CT em plena Semana Farroupilha!


Entrevista com Leonidas Augusto da Silva, Peão Farroupilha do Rio Grande do Sul 2025/2026 e estudante do Centro de Tecnologia da UFSM
Você pode se apresentar?
Bom, meu nome é Leonidas, eu tenho 21 anos e sou natural de Horizontina, e como muitos jovens do interior gaúcho, eu tinha o desejo de vir estudar na Universidade Federal de Santa Maria. Então, eu pude realizar esse sonho, cursando então agora Engenharia Civil aqui na Universidade (8º semestre).
Sou Peão Farroupilha do Rio Grande do Sul, o que é uma alegria muito grande, porque faz parte de uma reapresentação que nós, peões e prendas do Rio Grande do Sul, temos com a juventude gaúcha. Então nós somos a figura do jovem tradicionalista, do jovem gaúcho, e é nosso dever levar a tradição (e cultuá-la) a todos os cantos do Estado.
Qual é, exatamente, a função do Peão Farroupilha?
A função do Peão Farroupilha é, como eu falei, servir de exemplo a outros jovens, inspirar outras crianças também a entrarem neste mundo, inserirem-se nos CTGs, onde aprendemos diversos hábitos, valores e princípios morais que auxiliam na nossa inserção e também no desenvolvimento dessa criança enquanto cidadão.
Importante também frisar os trabalhos que nós realizamos agora enquanto gestão de prendas e peões. Nós estamos desenvolvendo painéis cidadãos, que é uma pauta que nós trazemos para dentro do movimento, onde em cada evento que o MTG (que é o Movimento Tradicionalista Gaúcho) promove, nós realizamos um painel que traz um problema social para dentro do movimento, porque nós também somos responsáveis por sanar e auxiliar o Estado na resolução desses problemas. Então já fizemos uma campanha de luta contra a violência infantil, a luta e o combate da violência contra a mulher, sobre doação de sangue, faremos sobre bullying, sobre bem-estar animal, HPV e outros tantos problemas que afetam a nossa sociedade.
Por que o nome do concurso que te elegeu Peão Farroupilha é Entrevero de Peões?
A palavra entrevero basicamente quer dizer um encontro, uma mistura de diversas pessoas que se reúnem para cultuar essas tradições. Então, o entrevero de peões é esse encontro desses piás, guris e peões que vão até um lugar para desenvolver essas atividades culturais, artísticas e campeiras.
Como foi o preparo para realização do concurso?
O preparo foi bastante intenso, inclusive eu tive até que deixar umas cadeiras da faculdade pra trás e… Já tô colocando elas em dia!
Mas foi bastante intenso porque exige muito do concorrente a conciliação com a rotina além do concurso. Então, tinha que priorizar também os estudos da faculdade, a vida diária mesmo, com o estudo da parte prática, de declamação, de preparo de charque, churrasco, de andar a cavalo, de danças também, e o próprio estudo teórico que engloba o Entrevero, onde nós temos uma prova teórica de 20 questões.
Então é um concurso bastante abrangente, que exige e requer muito do candidato, e por isso a gente acaba, na reta final, se imergindo totalmente pra esse concurso.
Durante as provas, qual foi a maior dificuldade que você sentiu?
Eu acredito que a maior dificuldade e que talvez seja a maior dificuldade de muitos peões é a parte campeira. Porque dificilmente hoje nós vemos dentro desse concurso peões que de fato vivem a vida de campo. Porque os CTGs eles se encontram principalmente dentro dos grandes centros urbanos e naturalmente o pessoal que está participando, em dados momentos, é aquela criança, aquele jovem que nasceu na cidade e não teve contato com o campo.
Então, as maiores dificuldades para mim, do meu ponto de vista, foram as provas campeiras. Ao longo da minha vida eu fui também perdendo um pouco desse receio e criando um pouco mais de gosto e prazer mesmo com as atividades campeiras. E até mesmo meu treinador Gustavo, que me ajudava na preparação, falava que, diferentemente do curso que eu faço, que é exato, a parte campeira que envolve o animal, o equino, é uma questão também humana e de muita conexão. Então, também aprendi um pouco a me conectar com esse lado mais campeiro e também por isso consegui ter êxito nesse concurso.
O título “Peão Farroupilha” possui algum impacto ou função específica dentro da universidade? Qual?
Aqui dentro da universidade, diretamente, não. Claro que, enquanto eu estudava, eu trazia também alguns livros meus para ler durante as aulas. E aí, alguns colegas meus, sabendo da preparação, também me faziam umas perguntas, questionamentos: como que funcionava esse concurso, como que funcionava o CTG, essas atividades… E vendo também um pouco da minha rotina, eles acabavam, querendo ou não, conhecendo um pouco mais e se aproximando da cultura gaúcha.
Como você faz para conciliar as demandas do posto com as obrigações de estudante?
Claro, desde abril eu tomei uma decisão, né, de, ao final da minha bolsa de pesquisa, que finalizou agora, no GEPPASV (eu era a bolsista de iniciação científica no Laboratório de Pavimentação e Segurança Viária), eu optei por deixar o laboratório para conseguir, de fato, bem exercer minha função de estudante de graduação e também o posto de Peão Farroupilha.
Se você precisasse explicar a cultura gaúcha para alguém de fora do Rio Grande do Sul, o que você destacaria primeiro?
Cultura gaúcha, para mim, fala sobre legado e fala sobre família, porque dentro das nossas entidades, nós temos um ambiente propício para o bom convívio de gerações. Então, temos crianças, temos adultos e temos também os mais velhos, que permeiam o mesmo ambiente, trocam conhecimentos. Isso contribui para uma formação de uma sociedade mais coesa, E com certeza o legado dessas pessoas também é valorizado, porque todos aqueles que vieram antes de nós, que deram os primeiros passos em defesa do tradicionalismo são muito importantes, e são até hoje lembrados, valorizados, e a figura deles é muito importante para nós, que hoje levamos adiante as nossas raízes.
Para você, qual costume gaúcho corre o risco de ser esquecido?
Um costume que acaba sendo bastante esquecido, vem também ligado ao campo. Hoje a gente não vê tanto mais a presença do alambrador, por exemplo, o trabalho do guasqueiro também, que trabalha diretamente com o couro. Então, essas práticas mais artesanais, mais rústicas, campeiras mesmo, acabam sendo trocadas por modernismos que, por vezes, são mesmo melhores, mas que é importante que nós, nos centros de tradições gaúchas, valorizemos isso e nunca deixemos que seja esquecido.
Qual aspecto da tradição você menos se identifica? E por quê?
Bom, por questões de talento, acredito que é o próprio canto. Não é algo que eu me identifico muito dentro das tradições gaúchas, embora eu goste muito da música, não tenho esse dom. A parte campeira também, como eu comentei, é uma parte que estou um pouco mais distanciado, não tenho essa vivência, embora tenha me preparado para o concurso.
Como você vê a participação dos universitários no MTG?
Olha, eu acredito que, dado o momento da vida, muitos jovens deixam as entidades para priorizar a formação acadêmica. Muitos dos meus amigos que foram bastante atuantes dentro do movimento e também participavam de invernadas artísticas, Nesta fase da vida agora, estão um pouco mais afastados.
Mas, também acredito que participar nesta etapa da vida de um Centro de Tradições Gaúchas é muito importante. Até mesmo a própria universidade aqui tem o DTG Noel Guarany, que surgiu como projeto de extensão e hoje é um ponto de encontro de cultura e que faz com que diversos estudantes que vêm até mesmo de fora do estado possam encontrar ali acolhimento e também desenvolver diversas amizades.
Você vê alguma contradição entre ser tradicionalista em um ambiente que preza pela diversidade, como a universidade?
Bem, essa é uma questão que nós, enquanto gestão de prendas e peões, tentamos um pouco quebrar com esses painéis cidadãos, porque nós vemos ao longo dessas primeiras entrevistas que nós realizamos após concursos, que quando nós falávamos para jornalistas que o movimento também se preocupa com pautas sociais e ser cada vez mais igualitário e humano, eles ficavam um pouco espantados.
Então, claro, dentro de uma universidade nós teremos uma gama maior de culturas coexistindo. Quanto dentro de um centro de tradições gaúchas, nós temos sim a influência de várias etnias que auxiliaram na formação do gaúcho, mas sempre priorizando e deixando em destaque a figura do gaúcho.
Para você, o que significa ser Peão Farroupilha?
Para mim, ser Peão Farroupilha faz parte de uma escolha que eu tomei com 4 anos de idade quando iniciei no Centro de Tradições Gaúchas em Horizontina e hoje a gente vê como uma missão de levar a nossa cultura adiante, cultuá-la e difundi-la porque quem está dentro de um Centro de Tradições Gaúchas sabe do quão valioso e valoroso é estar ali para o bom desenvolvimento da pessoa que depois irá se inserir em comunidade.
Então, muitos jovens que ali participam conseguem se comunicar de uma forma mais clara, conseguem ser mais despojados, com certeza fazer mais amizades e isso também é muito importante e é um legado e aprendizado que eu tenho dentro do CTGs.
Que mensagem você gostaria de deixar para os demais colegas do CT que se interessam pelo tradicionalismo gaúcho?
Eu acredito que o tradicionalismo tem espaço para todos que queiram participar. A cultura gaúcha é bastante abrangente e, de certa forma, ela prioriza e valoriza a figura do gaúcho. Por um dado momento do ano, setembro sendo o mês mais gaúcho do ano e da semana farroupilha, nós reforçamos o nosso orgulho de termos nascido aqui, das pessoas que vieram antes de nós, que muito lutaram e defenderam esse chão através de seus ideais. Então faz parte esse cultivo das tradições. Fica o convite também a todos que quiserem se aproximar de uma entidade, serão com certeza bem acolhidos e verão que ali terão uma segunda família e poderão ter pessoas que serão esteios para uma vida inteira.
Entrevista e texto por Manu Zini, acadêmica de jornalismo, com supervisão da Subdivisão de Comunicação do CT/UFSM
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