
Durante décadas, o automobilismo e as áreas de tecnologia foram ambientes dominados por homens, reforçando estereótipos que afastam mulheres de posições técnicas e de liderança. No Centro de Tecnologia da UFSM esse cenário vem mudando. Cada vez mais alunas têm conquistado espaço em equipes de competição estudantil, não apenas participando, mas liderando a dinâmica desses projetos.
Nas equipes de automobilismo essa mudança é visível. Equipes como Formula UFSM, Bombaja e Bombaja H2 vêm registrando presença feminina em funções estratégicas. No Bombaja, 36% dos integrantes são mulheres; as alunas atuam em subsistemas como suspensão, financeiro, marketing e cálculo estrutural. Na H2, elas integram 50% da equipe, participando de setores decisivos e técnicos. No Formula UFSM são cerca de 33% e colaboram em áreas centrais como chassis, dinâmica e comunicação.
Eduarda Fardin, acadêmica de Química Licenciatura e gerente de projeto e célula combustível da Bombaja H2, comenta: “Dentro da nossa equipe, buscamos equidade entre homens e mulheres, e cada participação é valorizada”. Eduarda foi sozinha representando a equipe na primeira competição que fizeram parte. “Quando eu cheguei sozinha, todas as equipes me acolheram, mas principalmente as mulheres, porque realmente é questão de sororidade entre as mulheres, são as mulheres apoiando as mulheres”. Essa atuação inspira outras estudantes a se envolverem nas equipes e reforça a importância da diversidade.

Mais do que ocupar vagas, essas estudantes desafiam preconceitos e mostram que competência e liderança não têm gênero. Embora a representatividade ainda seja menor que a masculina, o aumento do número de participantes demonstra uma mudança gradual no cenário e pode servir de estímulo para que mais mulheres se interessem por áreas ligadas ao automobilismo e à engenharia.
Acadêmica de Fabricação Mecânica e chefe do subsistema de chassis do Formula, Verônica Chary expressa: “Acho que há poucas mulheres nas equipes, porém é um número que está crescendo a cada processo seletivo que temos. Acredito que acontece por não termos tanto incentivo e apoio para começar e continuar. Acredito também que, uma vez que entramos e assumimos algum tipo de cargo, sempre somos questionadas.”
Fora do automobilismo, as demais equipes do CT também destacam a participação feminina em projetos inovadores. A Taura Bots é uma equipe de robótica, a Carancho desenvolve projetos de aerodesign, e a Tau Rocket Team atua na área aeroespacial. Nessas equipes, as estudantes conquistam espaços importantes, contribuindo com ideias, liderando subsistemas e participando ativamente da tomada de decisões. Esses exemplos mostram que a participação feminina amplia a representatividade, do mesmo modo que transforma a dinâmica das equipes com colaboração e protagonismo.
Ilzy Vieira, acadêmica de Engenharia Aeroespacial e gerente de propulsão da Tau Rocket relatou sobre vivência na equipe: ”É uma equipe em que eu sinto que não tenho o peso de todas as minhas ações e atitudes estarem sendo assistidas e julgadas de alguma forma. Passei muito tempo de 2024 trabalhando e adaptando as peças do motor, e ter elas em mãos me fez comprovar que eu realmente fiz ele.”

A acadêmica de Engenharia Aeroespacial Maria Eduarda Caldas foi capitã da equipe Carancho. Durante sua direção, a equipe conquistou o terceiro lugar na 26° da SAE Brasil AeroDesign Classe Micro: “Eu realmente sinto que meu papel foi valorizado. Mostrar uma participação mais marcante das mulheres… Eu acho que isso tira, de certa forma, esse estigma de que é um ambiente majoritariamente masculino”.
As entrevistadas reforçam a importância do protagonismo feminino no CT e refletem trajetórias de coragem, dedicação e superação de barreiras. Cada decisão tomada, cada projeto desenvolvido, cada subsistema liderado por elas demonstra como a inclusão transforma não só o ambiente acadêmico, mas também a forma como a engenharia e a tecnologia podem se reinventar. Esses exemplos mostram que a universidade não é apenas um espaço de formação técnica, mas é um palco de transformação social, onde diversidade e inovação caminham lado a lado.
Essas histórias inspiram novas gerações a se envolverem em projetos desafiadores, reforçando que talento, criatividade e liderança podem florescer em ambientes que valorizam igualdade de oportunidades e colaboração. O protagonismo feminino no CT da UFSM é mais do que simbólico: é uma força que molda o presente e constrói o futuro da engenharia, do automobilismo e da tecnologia.
Série PerspeCTiva Feminina
Texto por Lia Guerreiro, acadêmica de jornalismo, com supervisão da Subdivisão de Comunicação do CT/UFSM
Fotos: divulgação equipes.
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