
Quase metade das mulheres do Centro de Tecnologia afirma já ter sofrido discriminação de gênero – cerca de 45% a mais que os homens; 1 em cada 2 mulheres concorda totalmente que a quantidade de docentes mulheres afeta na percepção das acadêmicas em relação às suas possibilidades de carreira. Estes e outros dados incômodos foram levantados por acadêmicos da UFSM na pesquisa intitulada “Percepção do acesso de mulheres à ciência no meio acadêmico do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria – Campus Camobi”.
A pesquisa foi realizada em 2024 pelos estudantes Roberta Maria Knob, Ana Carla Barbosa Soares, Ana Luísa Puntel e Bernardo da Cruz de Souza, do curso de Publicidade e Propaganda da UFSM, na disciplina de Pesquisa e Opinião Pública, ministrada pela docente Alice Bianchini Pavanello. O estudo investiga como o gênero influencia a participação acadêmica das mulheres na graduação, considerando oportunidades de participação, ambiente acadêmico e suporte institucional do próprio Centro.
As pesquisadoras aplicaram um questionário com perguntas como: “Você acha que as mulheres se sentem acolhidas e apoiadas nos cursos de tecnologia?” e “Você já sofreu alguma discriminação em relação ao gênero no ambiente acadêmico?”. O questionário coletou 349 respostas entre 16 e 21 de junho de 2024. O público-alvo da pesquisa foi formado por estudantes de graduação do Centro de Tecnologia, de ambos os gêneros.
As pesquisadoras relatam que enfrentaram algumas dificuldades ao longo da pesquisa, como o desconforto ao entrevistar pessoas do gênero masculino: “Quando chegava para [entrevistar] homens, dava pra ver que a recepção deles era diferente, e a gente ia enfrentar algumas piadas também, sabe? Eles não deram a devida importância à nossa pesquisa”, declara Bernardo da Cruz de Souza, um dos pesquisadores. Segundo Roberta Knob, “as mulheres, no geral, eram mais receptivas à pesquisa”.
O grupo também traz sugestões de possíveis melhorias nas políticas voltadas à promoção da equidade de gênero, “Eu acho que eles [gestão do Centro] precisam ouvir as mulheres para, a partir disso, entender como elas [mulheres do Centro] estão se sentindo nesse ambiente. Tanto os estudantes quanto as professoras também. E aí, a partir disso, trabalhar para soluções.”, declara Roberta. “Não é falar sobre, mas falar com, no fim das contas”, diz Bernardo.
Segundo a Comissão Setorial de Avaliação do Centro de Tecnologia (CSA-CT), em 2024 ingressaram 698 estudantes no Centro, sendo 237 mulheres (34%). Já em 2025, o número de ingressantes foi de 705 estudantes, dos quais 225 são do gênero feminino (31,9%), demonstrando leve queda no ingresso de mulheres no Centro. Quanto aos índices de evasão, não há diferença substancial entre os gêneros: neste ano, gira em torno de 15%. Atualmente, o Centro de Tecnologia conta com 2.797 estudantes regulares de graduação, sendo 843 do sexo feminino (30,1%) e 1.954 do sexo masculino (69,9%).
Ações do CT em prol da igualdade de gênero
Os dados apurados na pesquisa de opinião pública retratam uma realidade que não é novidade para a gestão da unidade. Além da percepção do cotidiano, a desigualdade de gênero veio à tona em diagnóstico realizado pela equipe de Assessoria de Relações Públicas que atua junto à Subdivisão de Comunicação. Segundo a professora Tatiana Cervo, vice-diretora do Centro, existem projetos em andamento no âmbito da unidade que visam à maior participação e protagonismo de mulheres na comunidade acadêmica do Centro de Tecnologia.
Dentre eles, destaca-se o projeto GuriasTec, que envolve estudantes de escolas da rede pública e acadêmicas da UFSM em ações conjuntas. O programa busca ser uma porta para uma nova perspectiva de futuro para as alunas do nível básico que se encontram em situação de vulnerabilidade, a fim de que, a partir das ações conjuntas, elas possam entender a universidade e a qualificação técnica profissional como uma realidade acessível e possível. Para as gurias do ensino superior, o programa procura ampliar o sentimento de pertencimento e adequação às áreas de Ciências Exatas, Engenharia e Computação e, consequentemente, atuar na redução da retenção e da evasão. O GuriasTec tem como objetivo ser um espaço de acolhimento para estas estudantes, tantas vezes isoladas em cursos que ainda são, majoritariamente, masculinos. Da mesma forma, pretende-se contribuir para que todas as integrantes do Programa desenvolvam um olhar social em suas atuações enquanto profissionais.

PerspeCTiva Feminina e Mulheres que ImpaCTam
Pensando em atenuar a desigualdade observada, o Centro também vem promovendo neste ano algumas ações voltadas a destacar o protagonismo feminino do centro. É o caso da primeira reportagem da série #PerspeCTivaFeminina, que enfatizou o crescente protagonismo feminino nas equipes de competição do CT.
Na última terça-feira (30/09), ocorreu mais uma destas ações: o evento “Mulheres que impaCTam: trajetórias femininas inspiradoras”. O Auditório Pércio Reis estava cheio para ouvir as palestrantes: a estudante Julia Firmiano e as professoras Rutineia Tassi, Morgana Pizzolato e Andreia Charão. O evento levantou diversos debates sobre questões de gênero na área da ciência e da tecnologia, além de enfatizar as distintas realidades vividas em diferentes gerações do CT. As palestrantes relataram os desafios enfrentados ao longo de suas trajetórias e também ouviram de integrantes da plateia relatos de como está a situação de quem acabou de começar a jornada acadêmica e profissional.
A professora Morgana, que iniciou sua carreira em meados dos anos 80, afirmou: “Enfrentei dificuldades e eu tinha que constantemente comprovar a minha competência”. Outro relato impactante acerca das dificuldades enfrentadas foi o da professora Rutineia Tassi que, quando lecionava em outra instituição, se viu obrigada a escolher entre a maternidade e a docência por falta de suporte institucional. Quando era aluna, relata, “professores muito renomados, acabavam fazendo alguma brincadeira na sala de aula, que a gente não devia estar na aula, na disciplina deles, que deveríamos estar em casa”.
Segundo relatos da plateia, os relatos foram importantes por trazer exemplos que servirão de inspirações femininas às estudantes ao longo da trajetória acadêmica e profissional.

Espaços de Apoio
Além dos espaços institucionais da universidade para acolher casos de violência de gênero, como a Casa Verônica, o Centro de Tecnologia também conta com ambientes de escuta ativa e acompanhamento. Para alunas do Centro que se sintam prejudicadas ou que sofreram alguma situação de assédio, o Setor de Apoio Pedagógico (SAP/CT) possui servidoras que realizam o acolhimento destes casos e, quando necessário, fazem o redirecionamento para a Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED) ou para a própria Casa Verônica. O SAP/CT funciona na sala 136 do prédio 7 e também atende pelo e-mail sapct@ufsm.br e telefone (55) 3220-9475.
Série PerspeCTiva Feminina
Texto por Emmanuelly Zini, acadêmica de jornalismo, com supervisão da Subdivisão de Comunicação do CT/UFSM
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