A indústria automobilística busca constantemente o desenvolvimento de materiais mais leves, resistentes, baratos e ecologicamente corretos. Aliando estas quatro qualidades e driblando a falta de patrocínio, o bambu foi o material encontrado pela equipe Eficiência Energética Santa Maria (EESM) para a fabricação de seus carros, os quais competem na Maratona Universitária de Eficiência Energética. Prova do acerto desta escolha inusitada é que a equipe coleciona vitórias na competição, da qual vem participando nos últimos cinco anos. A última delas foi na edição deste ano, que ocorreu de 11 a 14 de outubro, no Kartódromo Ayrton Senna, em São Paulo.
A EESM é formada por acadêmicos de diferentes cursos da UFSM, principalmente das engenharias. Este foi o terceiro título da equipe na maratona, competindo na categoria carro elétrico. Nesta categoria, ganha o carro que conseguir percorrer a maior distância, mantendo uma velocidade média não inferior a 15 km/h
A primeira vitória foi em 2007, ano de estreia do “Bambuzinho” (como os carros da equipe foram apelidados). No ano seguinte, a equipe conquistou o 1° e o 2° lugares. Em 2011, o carro EESM 11 conseguiu percorrer 13,668 quilômetros, cerca de 1,4 quilômetro a mais do que o segundo colocado na categoria. Como premiação, a equipe vai receber um carro da Fiat, patrocinadora do evento, o qual será usado para fins didáticos.
A equipe é coordenada pelo professor Luiz Antônio Righi, do Departamento de Eletromecânica e Sistemas de Potência da UFSM. Humilde, ele credita parte considerável do resultado à chuva. Na sua opinião, a pista molhada favoreceu o sistema de transmissão do carro (que ele prefere manter em segredo), em detrimento de seus adversários.
O protótipo campeão neste ano é o 11° montado pela equipe. Por falta de recursos, foi usado um motor adaptado de um ar-condicionado de ônibus. Fornecida pela organização da maratona, a bateria usada é de chumbo ácido, de 4 ampères-hora e 12 volts. A tração fica na parte traseira, onde se localiza uma das três rodas do veículo. É nesta roda que é aplicada a transmissão, o eixo direcional e os freios, os quais são de bicicleta.
Righi considera o motor o ponto fraco do carro, pois seu rendimento chega a apenas 55% (em comparação com outros motores elétricos cujo rendimento atinge mais de 90%). Para compensar a debilidade do motor, a equipe apostou na aerodinâmica, geometria, transmissão e na leveza e resistência dos materiais.
O bambu é utilizado principalmente na construção do chassi, que pesa aproximadamente 2 quilos. Como um todo, o carro pesa cerca de 12 quilos. Na sua composição, também entram outros materiais, como alumínio e ferro, tudo protegido por uma cobertura pintada de vermelho, feita de organza (espécie de seda sintética) e laca.
A ideia inicial da equipe era fabricar o carro usando fibra de carbono, o que não foi possível por falta de dinheiro. Mas Righi não desistiu da ideia e pretende realizá-la no futuro. O bambu foi usado “porque era o material que nós tínhamos à disposição”, conta o professor.
Ctism – Outro resultado de destaque obtido na maratona foi da equipe EcoCtism, do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria. A equipe ficou em 3° lugar na categoria etanol, ao obter o consumo médio de 89,591 quilômetros por litro (km/l). Como premiação, a equipe vai ganhar três motores Fire (do mesmo tipo usado no Fiat Uno), os quais também serão usados para fins didáticos. Outro carro da EcoCtism ficou em 4° lugar na categoria gasolina, obtendo consumo médio de 210,993 km/l.
A equipe é coordenada pelo professor Fernando Bayer e formada em sua maioria por alunos do curso superior de Tecnologia em Fabricação Mecânica.
Repórter: Lucas Casali
