Numa iniciativa de vanguarda, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) elaborou um estudo que aponta os locais menos propensos à ocorrência de nevoeiros na região e, portanto, mais indicados para a construção de um novo aeroporto. O diagnóstico ganha maior relevância num momento em que se discute a implantação do polo aeroespacial no Estado e em que há a retomada dos voos diários em aviões de médio porte em Santa Maria.
Atualmente, a ocorrência de nevoeiro representa um dos principais entraves para o desenvolvimento do transporte aeroportuário no Brasil. Questões como a frequência anual, tempo de duração e a previsão de sua dissipação são informações valiosas para a operação aérea, já que o fechamento de um único aeroporto na malha aeroviária tem sérios impactos na rede nacional.
Com base nisso, em uma ação pioneira alinhada com a política nacional para o desenvolvimento de novos aeroportos regionais, a UFSM, em um projeto institucional, buscou apoio científico do Núcleo de Estudos em Eventos Meteorológicos Extremos e Mudanças Climáticas (Nemec) e do curso de Meteorologia para fornecer subsídios na seleção de uma área na qual a incidência de nevoeiros impacte de um modo menos severo nas atividades de tráfego aéreo.
O Grupo de Modelagem Atmosférica da UFSM realizou um mapeamento de regiões críticas para a ocorrência de nevoeiro nos estados da Região Sul. A análise foi concentrada na região central do Rio Grande do Sul, especialmente na área de Santa Maria e municípios vizinhos. Séries históricas de imagens de satélite e dados observados de nevoeiro foram utilizados para gerar um mapa de probabilidade relativa para a ocorrência do evento em determinada área, considerando que existam condições para ocorrência de nevoeiro no Estado.
“Na prática, quase nenhuma área está protegida contra este fenômeno, mas condições peculiares associadas à topografia e circulações locais podem fazer com que o nevoeiro se dissipe com maior rapidez”, relata o professor do Departamento de Física da UFSM, Vagner Anabor, integrante do Grupo de Modelagem Atmosférica.
Os resultados do estudo mostraram que as áreas mais elevadas na região de Santa Maria e municípios adjacentes, como Itaara e São Martinho da Serra, seriam 50% menos afetadas por eventos de nevoeiro se comparadas com a área do atual aeroporto. Segundo o professor, isso significa que um aeroporto nestas áreas ficaria muito menos tempo fechado por problemas de visibilidade. “O local exato para a construção depende da análise da topografia, questões logísticas e de engenharia que fogem da análise meteorológica pura”, explica.
Realizado ao longo de seis meses, o estudo foi fomentado com recursos exclusivos da UFSM e utilizou a estação de recepção de imagens de satélite, estações meteorológicas e recursos computacionais da instituição. Os trabalhos foram conduzidos por cinco doutores pesquisadores da UFSM (além de Vagner Anabor, Gervásio Annes Degrazia, Franciano S. Puhales, Otávio C. Acevedo e Everson dal Piva) e quatro acadêmicos (Amanda Rehbein, Vanessa Ferreira, Giancarlo Rambo e Norton Franciscatto de Paula).
Os resultados do relatório final do estudo serão divulgados na próxima terça-feira (29), às 10h, na sala 218 da Reitoria da UFSM, para lideranças e autoridades civis e militares.
Repórter: Ricardo Bonfanti.