A universidade é um espaço de jovens e adultos. A presença e, mais ainda, a formação de crianças é algo que não se espera encontrar nela. No entanto, a Escola Ipê Amarelo, que completa neste sábado (26), 25 anos, tem se dedicado, dentro do nível superior, a promover uma educação infantil de qualidade.
Pode até parecer distante essa relação entre ensino superior e o infantil, mas assumir a educação, seja nos primeiros níveis, representa um compromisso da universidade.Segundo a diretora da unidade, Viviane Cancian, “a universidade é por si só o lócus de produção. Se ela é esse lócus, então a gente tem que ter condições de infraestrutura de qualificar a educação infantil.”.
Desenvolvimento da Ipê Amarelo
A escola foi criada em 1989, para atender professores, servidores e alunos que não tinham um local para deixar seus filhos. Uma demanda da comunidade acadêmica baseada na perspectiva de atender o direito da mãe trabalhadora. Nesse inicio a Ipê Amarelo esteve inserida em várias pró-reitorias, sendo que só em 2003 passou a estar vinculada ao Centro de Educação (CE).
No entanto, mesmo sendo mantida pela UFSM, a escola foi considerada irregular pelo Tribunal de Contas da União já que se tratava de um benefício além auxilio creche existente. Para reverter a irregularidade e manter a escola, a Ipê Amarelo foi transformada num projeto de extensão com investimento dos pais; o que não pode ser mantido pelo auto custo necessário.
O caráter irregular da Ipê Amarelo era semelhante a de outras 19 escolas de educação infantil pelo país. Em 2009, a fim de regularizar o vínculo com as instituições a qual estavam inseridas, as unidades tiveram um encontro com o Ministério da Educação para repensar sua situação. O resultado foi a criação da Associação das Unidades Universitárias Federais de Educação Infantil (AUUFEI), que, junto ao Ministério, gerou em 2011 a resolução 1.001; que reconhece que as unidades mantidas pelas instituições federais como também são mantidas pela a União.
Com isso a Ipê Amarelo, como outras unidades, teve um ano para se regularizar, como também para universalizar o seu acesso. Assim, deixando de estar restrita à comunidade acadêmica e passando a ser acessível a sociedade como um todo. Esse novo perfil tem possibilitado, segundo a diretora da unidade, uma maior diversidade de crianças na creche; o que “é importante por que as crianças já aprendem na própria educação infantil o que é o social e aprendem a respeitar as diferenças.”.
Inovações Pedagógicas
Além da regulamentação da unidade, esses 25 anos também geraram mudanças no viés pedagógico da instituição. Acompanhando normativas e evoluções do ensino nacional, a Ipê Amarelo se voltou a atender os direitos das crianças. Por meio disso, respeitar o universo da criança, ou como comenta Viviane: “a nossa proposta é que esta unidade tem que respeitar os direitos da criança. O que muda é esse respeito, a escuta a essas vozes das crianças…para que elas possam de fato estar em um ambiente voltado para elas e para a especificidade do trabalho com a infância.”
Em meio a isso, a Ipê Amarelo se volta a uma perspectiva de menos alfabétização e mais autonomia da criança. Conforme a diretora, “a gente compreende que uma criança que tem uma inserção numa cultura institucional como essa, onde as crianças tem possibilidade de criar e ousar, de produzir e não de reproduzir, elas não vão ter dificuldades futuras nenhumas.”
A unidade também promove turmas multi-idades, aproximando crianças de diferentes faixas etárias no processo de aprendizagem. Assim, ao entender “que dentro na universidade é o espaço de ousadia, nós não acreditamos numa perspectiva de desenvolvimento único, todo mundo com a mesma faixa etária. Fora daqui as crianças convivem com diferentes faixas etárias. Então a gente quer aproximar o máximo possível da vida deles aqui fora.”, lembra Cancian.
Além disso, a Ipê Amarelo, também tem trabalhado em qualificar o ensino infantil em todo o estado. Entre os projetos que desenvolve junto ao Centro de Educação, está a capacitação de professores da rede municipal e um “Brinquedoteca” itinerante. “O que a gente realiza aqui a gente acaba socializando essa produção do conhecimento com as redes e os sistemas”, finaliza Viviane.