Há cerca de 30 anos, a equipe do Bem Estar Social da Emater de Faxinal do Soturno entrou em contato com o Departamento de Saúde da Comunidade para dar um preocupante parecer sobre problemas intestinais que atingiam grande parte das crianças das comunidades rurais do município. Diante do quadro, foi realizada uma avaliação parasitológica sobre o total de crianças e como resultado obteve-se a constatação de que 86% delas estavam sofrendo consequências da ação de até 5 espécies de parasitas. Sobre o estudo,também foi observado que 97% dos poços de água da comunidade estavam altamente contaminados com bactérias coliformes. A água consumida foi então descrita como a grande causadora dos problemas e tornou-se ponto principal dos estudos.
A partir de então, o professor chefe do Departamento, Julio Tschoepke de Medeiros, mantém relação com a população rural e universitária através do projeto de extensão “Controle da qualidade da água consumida no âmbito da Universidade e no meio rural da região de Santa Maria”. O trabalho baseia-se na avaliação de um grande número de amostras de água e se necessário, recomenda-se o uso de cloradores. Posteriormente, os resultados obtidos são apresentados para a comunidade por meio de palestras, alertando a população sobre os perigos do consumo da água contaminada.
Medeiros relata que no início levou muito tempo para encontrar uma solução razoável aos problemas, já que não havia internet. A pesquisa em livros o levou ao conhecimento do Clorador de Difusão, projetado na Universidade de Viçosa, em Minas Gerais.O aparelho consistia em misturar em um frasco plástico bem seco e limpo, 340g de Hipoclorito de Cálcio e 850g de areia peneirada e bem desidratada, em um forno a mais ou menos 130º C que com o auxilio de uma corda de nylon era colocado no poço raso, vertente, ou dentro do reservatório. Contudo, o equipamento apresentava algumas deficiências e os resultados não eram tão precisos.
Mais tarde, com o advento da internet e com novas pesquisas sendo realizadas, resolveu-se produzir os próprios cloradores projetados em PVC. Assim, foram desenvolvidos dois modelos: um pequeno para baixa pressão de água e um grande para poços artesianos que produzem volumes maiores. O sistema consiste, basicamente, em liberar quantidades de cloro na água para que a desinfecção seja feita. Dessa forma, tem-se um maior controle de qualidade e a população tem acesso à água potável e salubre.
O trabalho já foi apresentado em congressos na Argentina, no Uruguai e em alguns eventos nacionais. Além disso, está sendo levado a mais de 100 munícipios do Estado e já existem alguns lugares onde o tratamento da água no meio rural atingiu 96% da população.
Já no âmbito acadêmico, Medeiros orienta a limpeza e tratamento da água que é feita por uma equipe de servidores. Os reservatórios são limpos a cada 6 meses e as águas permanentemente monitoradas, com uma média de 10 a 15 amostras por semana. O professor destaca a importância de seu trabalho: “Durante todos estes anos, não tivemos nenhum problema originário da qualidade da água fornecida no âmbito da UFSM.”
Texto: Tainara Luisa Liesenfeld