A
utilização da energia das micro-ondas e do ultrassom trouxe grandes e
importantes investimentos da Petrobras para o Laboratório de Análises Químicas
Industriais e Ambientais (Laqia), do Departamento de Química do Centro de
Ciências Naturais e Exatas (CCNE) da UFSM. A compra de equipamentos com a
tecnologia mais avançada disponível no mercado e a construção de um prédio, em
2012, onde fica o Centro de Estudos em Petróleo (Cepetro), são as principais
conquistas.
O professor
Edson Müller, pesquisador do laboratório, relata que o primeiro contato entre
UFSM e Petrobras foi feito em 2004. “Nós estávamos participando de um
congresso, que tratava da utilização da energia das micro-ondas, e o pessoal da
Petrobras também estava”, explica. Uma pesquisadora da Petrobras perguntou ao
professor Érico Flores, coordenador do Laqia, sobre a possibilidade de o grupo
trabalhar com o tratamento do petróleo.
Desde
então, já são 10 anos de uma parceria que tem dois focos principais: a
utilização da energia das micro-ondas para a melhoria da qualidade do petróleo
e a redução do teor de enxofre e nitrogênio do óleo diesel e de outras frações
do petróleo utilizando o ultrassom.
Durante
o processo de obtenção, o petróleo traz consigo grandes quantidades de água e
sal emulsionados, componentes que conferem características prejudiciais ao
petróleo. Neste contexto, a Petrobras utiliza alguns processos, dentre os quais
destaca-se a separação eletrostática, que consegue separar boa parte do sal e
da água presentes no petróleo, mas essa técnica não é adequada para todas as
amostras.
Como o
grupo do Laqia/Cepetro já trabalhava com a energia das micro-ondas, a Petrobras
procurou seus pesquisadores para utilizar essa energia na remoção de água e sal
de petróleo que não eram eficientemente dessalinizadas pelos processos
convencionais. “No primeiro projeto desenvolvido na parceria UFSM-Petrobras foi
mostrado, em escala laboratorial e piloto (maior), que a energia das
micro-ondas é eficiente para a remoção de água e sal de petróleo. Testes
iniciais com resultados promissores já foram realizados em escala industrial”,
explica o professor.
Como
desfecho disso vieram os recursos para a construção do prédio, R$ 1,5 milhão,
mais R$ 1 milhão para equipá-lo com a instrumentação necessária.
Em
outro projeto da parceira UFSM-Petrobras, a energia do ultrassom foi utilizada
para remoção de compostos sulfurados (enxofre) e nitrogenados do óleo diesel,
pois, como explica o professor, “hoje, quase todo óleo diesel produzido pela
Petrobras atende às exigências dos órgãos ambientais de que a quantidade máxima
de enxofre no óleo
deve ser de 10 partes por milhão (10ppm), porque a queima do óleo diesel com
compostos nitrogenados e sulfurada, pelos veículos, produz gases que contribuem
com a chuva ácida”.
O
processo convencional que a Petrobras utiliza para a remoção do enxofre no óleo
diesel apresenta algumas limitações em função da presença de algumas espécies
de enxofre, dificultando a produção do combustível dentro das especificações.
Nos
experimentos realizados no Laqia, com a utilização da energia do ultrassom, foi
possível a obtenção de óleo diesel com teores máximos de enxofre de 5 ppm. Essa
pesquisa ainda está na escala piloto, falta ir para a refinaria, ser testado em
escala maior.
Além
dos trabalhos desenvolvidos com a Petrobras, outros grupos de pesquisa da UFSM
utilizam a infra-estrutura existente no Cepetro, dentro os quais se destacam os
grupos da Engenharia Química e da Ciência e Tecnologia de Alimentos.
Atualmente, a utilização da energia do ultrassom e das micro-ondas vem
crescendo dentro do setor industrial, processo recentemente denominado como “intensificação
de processos”. A ideia da intensificação de processos industriais
utilizando micro-ondas e ultrassom é a obtenção dos produtos de forma mais
simples, rápida e barata. Tais melhorias são o que tem impulsionado a
utilização dessas tecnologias, que são relativamente novas, em diferentes
áreas.
A Petrobras
não trouxe somente benefícios técnicos para o laboratório, mas também a possibilidade
de formação de recursos humanos qualificados, principalmente na área de
petróleo e derivados. Segundo o professor Edson, o grupo do Laqia/Cepetro conta
com cerca de 20 alunos de iniciação científica (dos cursos de Tecnologia de
Processos Químicos, Química Industrial, Química Bacharelado e Engenharia
Química) e 25 alunos de pós-graduação, todos em contato direto com as
tecnologias e instrumentação disponibilizadas pelos projetos em parceria com a
Petrobras. O grupo é composto por oito professores do Departamento de Química (Erico
Flores, Valderi Dressler, José Neri Paniz, Edson Müller, Paola Mello, Fabio
Duarte, Cezar Bizzi e Claudia Barin) e um professor do curso de Tecnologia e
Ciência dos Alimentos (Juliano Barin), que realizam suas pesquisas no Cepetro.
“As
perspectivas são muito boas. Com a exploração do pré-sal a Petrobras é obrigada
a investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, então quanto mais
petróleo for produzido, maior o montante de recursos que deverá ser investido
exploração do pré-sal, viveremos um momento de investimento em ensino e
pesquisa nunca antes visto na história deste país”, conclui o professor.
O
laboratório acaba de fechar mais um grande projeto com a Petrobras, de R$ 3,5
milhões, dos quais mais de 70% serão destinados à aquisição de equipamentos
para os laboratórios do Laqia, entre eles um microscópio eletrônico de
varredura de alta resolução.
Luana Mello – acadêmica de Jornalismo, bolsista
da Agência de Notícias




