Em junho deste ano, a Rede Campos Sulinos lançou o livro Os Campos
do Sul, que conta
com a contribuição de mais de 80 pesquisadores de diferentes universidades do
Brasil. Apesar de ter suas bases voltadas à publicação científica, a obra foi
pensada para atrair a atenção do público leigo e conscientizar sobre a
importância dos campos para a conservação da biodiversidade como um todo. Além
de abordar a questão cultural do campo e o seu valor histórico, a coletânea de
textos perpassa também o impacto negativo que o ser humano exerce sobre o
bioma. O pampa, que compõe a maior parte do cenário na região sul do país, é
amplamente afetado pela expansão agrícola e pecuária e a perda deste patrimônio
tem sido negligenciada.

Professora do Departamento
de Ecologia e Evolução da UFSM e diretora do Centro de Ciências Naturais e
Exatas (CCNE), Sonia Zanini Cechin é uma das autoras do livro. Sonia tem
experiência na área de Zoologia e seu capítulo trata, mais especificamente, da
classe dos anfíbios. A pesquisa intitulada “Biodiversidade de anfíbios”
teve apoio do professor Tiago Gomes dos Santos, da Universidade Federal do
Pampa (Unipampa), e de alunos de graduação e pós-graduação de ambas as
instituições, os quais ficaram responsáveis pelo trabalho de campo e análises
laboratoriais.

A pesquisa, que
começou a ser desenvolvida há dois anos, busca analisar e descrever a
diversidade de espécies, bem como a influência do relevo e do clima sobre a
composição destas. As saídas a campo foram, preferencialmente, realizadas na
primavera, período de maior atividade dos anfíbios em municípios do estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. Ao final, a equipe constatou que o Rio Grande
do Sul possui 58% das espécies de anuros (sapos, rãs e pererecas) de todos os
campos sulinos. Foram encontradas ao todo 47 espécies, sendo 33 como espécimes
adultos.

Nove espécies estão enquadradas
nas listas ameaçadas de extinção em âmbito global, nacional ou estadual. São
elas: sapo-untanha, rã-pimenta, perereca-risadinha, rã-das-pedras, sapinho-de-barrigavermelha
(três espécies), perereca-da-folhagem e perereca-macaca.

Sonia ressalta a
importância desse tipo de pesquisa para lembrar as pessoas de que os campos
sulinos são formados por uma quantidade enorme de espécies animais, não somente
por aquelas com as quais o ser humano costuma ter mais contato. E que, de igual
importância, todas elas devem ser preservadas para a manutenção da
biodiversidade e do equilíbrio do ecossistema.

O livro aborda também
políticas públicas e a recuperação dos pampas que, por vezes, se constitui como
um “bioma esquecido” e apresenta o menor percentual de áreas protegidas e
preservadas. “Os campos sulinos não existem somente para serem convertidos em lavouras. Há uma
diversidade enorme da flora e da fauna que deve ser conservada, assim como em
outros biomas. As pessoas costumam associar a preservação ambiental a um
contexto afastado, de grandes matas e florestas, mas esquecem que o campo
também precisa ser preservado.”, alerta a professora.

O livro teve
financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
(Fapergs), Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Os Campos do Sul é
bem ilustrado, com as paisagens campestres e muitas espécies de plantas e
animais características desses ambientes. O professor Ronai Rocha, do curso de
Filosofia da UFSM, trabalha com fotografia e teve algumas de suas fotos
publicadas na obra.

Texto: Tainara Liesenfeld, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência
de Notícias