Pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e
Universidade de São Paulo (USP) divulgaram a descoberta de fósseis que mudam
importantes aspectos da história da origem dos dinossauros. Os fósseis foram
descritos em artigo publicado nesta quinta-feira (10) na reconhecida revista
científica Current Biology, dos Estados Unidos, e estão atraindo a atenção da
mídia e do meio acadêmico internacionais. Entre os autores do artigo, estão o
professor Sérgio Dias-da-Silva, coordenador do Centro de Apoio à Pesquisa
Paleontológica (Cappa) da UFSM, e os paleontólogos Rodrigo Temp Müller e Lúcio
Roberto da Silva, integrantes da equipe do Cappa e doutorandos
pela UFSM. Os três participaram da descrição científica dos fósseis.
Lúcio Roberto da Silva também atua como paleontólogo na
Ulbra. Ele descobriu os fósseis juntamente com Sergio Furtado Cabreira, paleontólogo
na mesma instituição. A descoberta aconteceu em 2009 em terrenos sedimentares
do período triássico superior localizados no município de São João de Polêsine,
na região central do Rio Grande do Sul. Os trabalhos de preparação e estudo dos
fósseis foram coordenados por Sergio e por outros dois paleontólogos: Max
Langer, da USP, e Alexander Kellner, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ)
Durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira, realizada
simultaneamente na Ulbra Canoas e no campus Ribeirão Preto da USP, o
pesquisador Sergio Cabreira apresentou as novas descobertas paleontológicas brasileiras,
que passam a fazer parte da filogenia internacional dos dinossauros. De acordo
com o paleontólogo, os esqueletos de um dinossauro e de outro pequeno animal,
de um grupo que é considerado “precursor” dos dinossauros, foram
encontrados juntos, em rochas do período carniano, de aproximadamente 237-227
milhões de anos atrás.
Cabreira afirmou que o dinossauro carnívoro, agora chamado Buriolestes schultzi, está entre os mais
completos dinossauros primitivos encontrados no mundo até hoje. Os seus ossos e
dentes parecem intocados pelo tempo. Segundo os estudos, Buriolestes tem um crânio de apenas
seus dentes são pontudos, muito recurvados para trás, com as bordas serrilhadas
como facas de cortar carne. Buriolestes
teria em torno de um metro e meio de comprimento e
altura, pesando não mais que 7 quilos. Classificado como um sauropodomorfo, Buriolestes seria o único dinossauro
deste grupo a ter hábitos alimentares carnívoros.
O segundo fóssil apresentado pelos pesquisadores é um
diminuto animal bípede, do grupo dos lagerpetídeos, ao qual os pesquisadores
batizaram de Ixalerpeton polesinensis. Este pequeno esqueleto é
considerado como sendo de animais que precederam os dinossauros e dos quais
apenas alguns poucos ossos isolados haviam sido encontrados até hoje. Neste
caso, porém, foram encontradas partes do crânio, quase toda a coluna vertebral
e parte da cauda.
Também foram encontrados partes dos membros anteriores, da
cintura pélvica e ossos dos membros inferiores de diversos espécimes. Isto
evidenciaria que estes pequenos animais viveriam
pesquisadores, Ixalerpeton seria um
pequeno animal insetívoro, com uns
comprimento e
centímetros de altura. Pesando não mais que
animal correria aos saltos, pelo fato de seus pés apresentarem ossos
metatarsais extremamente longos.
Ainda durante a entrevista coletiva, o pesquisador Max
Langer, um dos autores do artigo, referiu que pequenos detalhes nestes
esqueletos bem preservados revelam características ósseas importantes para se
compreender a anatomia ancestral dos dinossauros. Segundo Langer, as principais
descobertas anatômicas sugerem que os ancestrais dos dinossauros sofreram
adaptações dos ossos das vértebras, da pelve, do fêmur e das articulações do
tornozelo, no sentido de tornar a locomoção bípede mais eficiente. O
paleontólogo informou que a dentição altamente especializada de Buriolestes sugere que o ancestral de
todos os dinossauros também deveria ser um animal pequeno e carnívoro. Para
Langer, a origem dos dinossauros deve ter ocorrido antes de 230 milhões de anos
e, provavelmente, no antigo supercontinente Gondwana, em terrenos que hoje
viriam a ser a América do Sul (Brasil e Argentina).
Um dos autores do artigo, o pesquisador Alexander Kellner,
do Museu Nacional da UFRJ, salienta que a pesquisa e importância científica dos
achados não param com a publicação do artigo. “O fato de o dinossauro Buriolestes e o ‘precursor’ lagerpetídeo
Ixalerpeton terem sido encontrados
juntos, abre uma importante janela para a pesquisa das paleofaunas onde viviam
dinossauros e espécies bem próximas.” Mas o achado se destaca não apenas
nisso. Segundo Kellner, um dos pontos mais interessantes a serem pesquisados é
o crânio de Ixalerpeton, algo que é considerado inédito. Ele afirma que um dos
próximos passos da pesquisa é analisar o crânio deste
“pré-dinossauro” com o micro tomógrafo computadorizado, tendo como
objetivo revelar detalhes da caixa craniana de um animal proximamente
relacionado aos dinossauros. “Será algo espetacular para a compreensão do
surgimento desses répteis que dominaram a Era Mesozóica”, garante.
A equipe de pesquisadores que participou nas diversas fases
de estudo destes fósseis brasileiros pertence a nove universidades diferentes. De
acordo com o paleontólogo Sergio Cabreira, coordenador dos trabalhos, isto é um
fato muito significativo. “Os próximos passos da pesquisa trazem diversos
desafios para a ciência brasileira”, afirma. De acordo com o pesquisador,
além de responder vários questionamentos antigos, essas grandes descobertas
abrem um universo de novas possibilidades e teorias sobre a origem dos
primeiros dinossauros.
Outras informações sobre a descoberta estão disponíveis aqui.
Com informações da
Assessoria de Imprensa da Ulbra