A UFSM informa com pesar o falecimento, nesta quarta-feira (23), do ativista e acadêmico Vilnes Gonçalves Flores Jr, popularmente conhecido como Nei D’Ogum. Ele era estudante do curso de Artes Cênicas da UFSM.
O velório está sendo realizado na capela 4 do Hospital de Caridade (Rua Floriano Peixoto). O enterro ocorrerá por volta das 15h, no Cemitério Municipal de Santa Maria.
Texto divulgado por Babalossain de Agué, Comunidade de Terreiro Ilê Axé Ossanha Agué:
Em uma quinta-feira, nos fundos do Terreiro de Dona Lila, nascia de parto normal, Vilnes Gonçalves Flores Jr, popularmente conhecido como Nei D’Ogum. Filho de Eny Silva Flores, empregada doméstica, com o brigadiano Vilnes Gonçalves Flores, ambos já falecidos. Nei também era irmão de Rosangela Regina Silva Flores, Rosani Terezinha Flores da Silva, Anilnei Silva Flores, Jeferson Silva Flores.
Nei estudou em várias escolas públicas de sua cidade, Santa Maria, entre elas a Escola Municipal Duque de Caxias, a Escola Estadual Cilon Rosa e a Escola Estadual Manoel Ribas.
Em seu percurso, trabalhou em várias profissões. Foi guia turístico, auxiliar de fabricante de picolés e sorvetes, vendedor no comércio, auxiliar de pedreiro, garçom, consultor político e produtor cultural, mas o que mais marca sua trajetória é o ativismo das causas intimamente ligadas ao que ele é: negro, membro da comunidade LGBT e morador de periferia.
Foi frequentador de clubes sociais negros da cidade, foi Coordenador do Núcleo de Ações Culturais e Educativas do Museu Treze de Maio por 8 anos, foi bailarino do Grupo de Dança Afro Agbara Dudu e foi coordenador do Colegiado de Culturas Populares da Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, e também um dos fundadores do Coletivo ARÁ DUDU, de arte e cultura negra.
Idealizou o Festival Municipal de Artes Negras – FESMAN, o Concurso Beleza do Ébano e aMuamba. Esteve à frente, por vários anos, da organização das Paradas Livres na cidade e fez parte da Coordenação Geral do Coletivo Voe.
Praticante de religião de matriz africana e agitador cultural, Nei pertence à Comunidade de Terreiro Ilê Axé Ossanha Agué e foi articulador da 1ª Conferência Municipal e Regional dos Povos de Terreiro.
Era defensor da cultura popular, dos espaços públicos e das artes de rua urbana. Foi secretario-geral da Associação das Escolas de Samba de Santa Maria e vice-presidente da Escola de Samba Arco Iris e também era padrinho do CO-RAP, Coletivo de Resistência Artística Periférica.
Em 2014, recebeu o Prêmio Diversidade RS, na categoria Cultura Negra, em Porto Alegre.
Nei D’Ogum era morador do Loteamento Cipriano Rocha e companheiro, há mais de 20 anos, de Ricardo Souza, Babalossain De Agué, com quem dividiu uma linda trajetória de lutas e amor. Nei foi um dos fundadores da Associação Comunitária do Loteamento Cipriano Rocha, do qual também foi secretário-geral.
Atualmente, era estudante de Artes Cênicas da UFSM, onde ingressou como cotista afro aos 40 anos de idade.
Filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1984, foi candidato a vereador nas últimas eleições municipais, sonhando em representar os setores há muito tempo excluídos. Foi o 27º candidato mais votado (de 214), obtendo 1487 votos, tornando-se o 6º candidato mais votado do PT.
Na última semana da Consciência Negra (2016), Nei foi premiado com a Comenda Zumbi dos Palmares entregue pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e teve sua linda História e trajetória eternizada, também, no documentário “Pobre, Preto, Puto – PPP, exibido em rede nacional, pelo Canal Brasil, vencedor de diversas categorias do cinema e exibido nos mais diversos âmbitos local, regional, nacional e internacional.
Hoje, 24 de agosto de 2017, comunicamos com grande tristeza, que nosso guerreiro Nei D’Ogum “afro, gay, periférico” “Pobre, preto, puto” “negro intelectualizado”, como amava se colocar, faleceu na noite desta quarta-feira, 23 de agosto de 2017.
Seu velório está sendo realizado na capela 4 do Hospital de Caridade (Rua Floriano Peixoto). O enterro ocorrerá por volta das 15 horas, no Cemitério Municipal de Santa Maria.
Foto: Luciele Oliveira/ reprodução ARÁ DUDU