Sob o tema “Financiamento de Pesquisa no Rio Grande do
Sul”, a UFSM recebeu, na tarde desta quinta-feira (26), a palestra do professor
Érico Marlon de Moraes Flores, diretor científico da Fapergs e docente da instituição.
A palestra integrou a programação do Dia C de Ciência e reuniu pró-reitores, diretores
de centro, professores, estudantes e interessados no rumo da pesquisa no estado.
Na palestra, o professor Érico, da área de Química,
apresentou dados referentes ao orçamento recebido pela Fapergs, além de números
referentes à produção científica. Dos R$ 400 milhões previstos em lei para
repasse à fundação, apenas R$ 26 milhões chegam aos pesquisadores. Ao passo que
o financiamento decai, sobem os índices de doutores no estado, o que resulta em
R$ 1.700 por ano por doutor no Rio Grande do Sul.
Uma das grandes questões apontadas pelo diretor
científico da Fapergs é a persistência dos pesquisadores em captar recursos de
fora do estado, o que mantém, parcialmente, o desenvolvimento das pesquisas.
Além disso, o professor aponta a elevada produção de artigos científicos em
todas as áreas, mas que estes devem ser publicados em revistas mais
qualificadas, para que possam obter maior retorno em termos de visibilidade ao
estado.
Confira a entrevista
realizada com o professor Érico Marlon de Moraes Flores.
Agência de Notícias – Como o
senhor avalia o cenário atual da pesquisa no Rio Grande do Sul? Houve avanços
ou retrocessos?
Érico Flores – Existem dados muito recentes
sobre o avanço da pesquisa aqui no nosso estado em várias áreas do conhecimento.
Contrariamente a outros estados da Federação, (o Rio Grande do Sul) tem uma característica
importantíssima: é produtor e gerador de conhecimento com médias muito acima de
outros estados. Mesmo comparativamente com São Paulo, nosso estado tem
indicadores muito bons em termos de formação de recursos humanos e de produção
científica.
Agência de Notícias – Faltam
estímulos, por parte da própria sociedade, às inovações científicas?
Érico Flores – Sim. O que falta é
basicamente melhor compreensão, melhor divulgação do ambiente científico e
tecnológico que os pesquisadores estão envolvidos e comunicação mais efetiva
com a sociedade, que permita, realmente, que essas ações, ou que o
financiamento da pesquisa seja mais qualificado, tenha maior densidade e que se
transfira para recursos para benefícios da população e da sociedade.
Agência de Notícias – A
possível extinção da Fapergs, além das outras instituições ligadas à ciência,
não serve como desestímulo à pesquisa no Rio Grande do Sul?
Érico Flores – O tema foi debatido ano
passado. Às vezes retorna para a discussão, mas até o ponto em que a gente
sabe, oficialmente não há nada disso. É somente boato. Nosso contato com o
Governo Estadual tem sido muito positivo e eu não vejo, hoje, qualquer
possibilidade de extinção.
Agência de Notícias – A alta
taxa de juros e o fato de o Brasil ser um país muito burocrático se constituem em
entraves à pesquisa. Qual o papel da Fapergs diante disso?
Érico Flores – A taxa de juros é alta. Em
qualquer país ela é um entrave para qualquer área, não somente para a educação,
ciência e tecnologias, mas para a saúde. Em qualquer área empresarial ou
econômica, é um entrave. Sempre vai ser, porque as pessoas não conseguem captar
investimentos a juros baixos que possam gerar mais atividades econômicas a
preços mais baixos e competitivos. Mas sob o efeito da ciência tem um efeito
lateral. É um efeito não diretamente sobre a ciência e a tecnologia, embora
seja importante e possa afetar exatamente isso.
A Fapergs tem cumprido um papel social muito grande.
Nós temos poucos recursos comparativamente a outras “Faps”, fundações de amparo
à pesquisa. Agora os recursos que têm sido empenhados, têm sido recursos
efetivamente acordados em pesquisas e têm sido distribuídos e chegado em
lugares e instituições pequenas, de grupos de pesquisas não somente
concentrados nas capitais. A gente tenta diminuir as assimetrias e diminuir a
possibilidade de que haja uma superconcentração de recursos em algumas
instituições.
Texto: Gabrielle Ineu Coradini, acadêmica de Jornalismo
e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Melissa Konzen, acadêmica de Jornalismo e
bolsista da Agência de Notícias
Edição: Maurício Dias